O Governo do Estado anunciou a articulação de medidas para reduzir o impacto do tarifaço de 50% em todos os produtos exportados a partir de 1º de agosto. Atualmente, o Ceará mantém relação superavitária com os Estados Unidos, sendo o país o seu principal parceiro comercial.
Além de mapear os impactos, o governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT) está intermediando a inclusão da agenda de demandas dos empresários cearenses no comitê nacional de negociação, liderado pelo vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB).
Nessa terça-feira, 15, Elmano conversou com Alckmin por telefone e solicitou uma reunião para tratar sobre a questão.
"Nós estamos trabalhando para termos uma agenda, para levar essas especificidades da economia cearense para o grupo de trabalho que está negociando com o governo americano", disse Elmano.
"O estado do Ceará tem muitos produtos que são vendidos para os Estados Unidos. Nós temos a preocupação de que essa taxação, se ela acontecer como foi apresentada inicialmente, terá um efeito negativo na nossa economia. Pode gerar desemprego para o nosso povo. Portanto, é hora de agir", afirmou.
Conforme o Governo do Estado, pelo menos seis setores serão os mais impactados com as tarifas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump: aço, mineral (pedras e granitos), pescados, castanha de caju, cera de carnaúba e pás eólicas.
Além de viabilizar o contato entre empresários e Alckmin, o governador também disse, com exclusividade ao O POVO, que outra medida é estudada: a aquisição de pescados e castanhas de caju pelo Estado para impedir prejuízo para não se perder a mercadoria.
"O impacto sentido no Ceará não é para agosto, o impacto é imediato porque alguns compradores já estão dizendo para não enviar as mercadorias."
Estudo do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece) alerta para "efeitos expressivos" a partir da taxação imposta por Trump. Isso ocorre especialmente pela concentração das relações comerciais do Estado com outros países.
Um dos responsáveis pelo estudo, o analista Alexsandre Lira, destaca que, em 2024, os Estados Unidos corresponderam a 44,8% das exportações cearenses, seguido - de longe - por Holanda (4,35%), México (3,94%), China (3,91%) e França (3,89%).
As vendas aos EUA correspondiam 29,6% das exportações cearenses em 2010. Em 2024, esse montante saltou para os 44,8%.
Conforme o chefe do Executivo, a reunião, promovida na última segunda-feira, 14 de julho, com os representantes dos setores produtivos, serviu para confirmar o cenário preocupante. Porém, explicou que é necessário fazer um esforço diplomático intenso e “não cair numa isca de fazer uma queda de braço”, por isso a intenção do mapeamento dos segmentos mais impactados. Partiu dos empresários o pedido de interlocução junto ao Governo Federal para reforçar o canal de negociação.
“Não interessa à economia brasileira uma queda de braço, mas, ao mesmo tempo, é preciso manter o otimismo, a tranquilidade, a firmeza nas posições. Sem entrar num jogo de quem é o mais forte, quem perde mais, quem ganha mais. Isso não interessa à economia brasileira, aos trabalhadores brasileiros.”
Os EUA são hoje o principal parceiro comercial do Ceará. De acordo com dados do Observatório da Indústria do Ceará, somente neste ano, mais de US$ 366,8 milhões em produtos cearenses foram exportados ao País. O número representa 47,61% do volume total de exportações.
Dentre os principais produtos exportados estão: aço (US$ 262,3 milhões); peixes (US$ 19,1 milhões) e calçados (US$ 13,9 milhões).
De acordo com Elmano de Freitas, o setor do aço tem uma especificidade: o item já está com uma tarifa de 50%. Ou seja, há uma dúvida se será adicionado 50% ou se ficará do jeito que está.
Sobre o setor de pescados, o governador destacou que, neste momento, há um contêiner no mar e outro contêiner chegando ao porto. Por isso a preocupação sobre a indefinição sobre a implementação da tarifa. Outro ramo também é o da cera de carnaúba, devido aos postos de trabalho.
“A cera de carnaúba e a castanha-de-caju nos preocupam um pouco, porque a safra começa a ser colhida agora. No segundo semestre inteiro é colhida, então tem um impacto de emprego importante”, destaca Elmano. (Colaborou Carmen Pompeu)