O governo federal passou ontem o dia em reuniões com empresários e representantes da indústria e do agronegócio para tentar encontrar uma resposta conjunta para a ameaça do presidente americano Donald Trump de impor uma tarifa de importação de 50% sobre produtos brasileiros.
O número de pessoas presentes às duas reuniões comandadas pelo vice-presidente Geraldo Alckmin pode dar uma ideia de como esse tema preocupa os empresários: foram quase 40 representantes de diversos setores, do presidente da Fiesp, Josué Gomes, ao presidente da Embraer, Francisco Gomes Neto, passando pelas associações de produtores de café, laranja e dos exportadores de carne.
O que ficou claro nas conversas é que o Brasil não tem saída a não ser tentar negociar. Alckmin, também ministro da Indústria e Comércio, afirmou que o governo ainda busca flexibilizar o prazo determinado pelo governo dos Estados Unidos, de 1.º de agosto, para taxar as exportações brasileiras.
"O prazo é exíguo, mas vamos trabalhar para dar o máximo nesse prazo", disse após a primeira reunião com representantes do setor produtivo, pela manhã.
A proposta do empresariado é que o governo trabalhe para conseguir pelo menos mais 90 dias de discussão. De acordo com o vice-presidente, os empresários brasileiros farão parte da tentativa de pressão por maior prazo. Mas, segundo ele, a ideia é procurar resolver tudo até o dia 31 de julho.
"Então, o governo vai trabalhar para tentar resolver e avançar nesse trabalho nos próximos dias", disse, à tarde.
No entanto, está claro também que não será fácil para o governo convencer Trump a voltar atrás com argumentos convencionais. Os Estados Unidos são superavitários em sua relação comercial com o Brasil - ou seja, vendem mais do que compram. Além disso, o presidente americano já deixou explícito que esse movimento de retaliação não é comercial, mas político.
O tom das conversas dos empresários com o governo na reunião de ontem em Brasília era de cautela. Três executivos que estavam no encontro da manhã - com o setor industrial - afirmaram que há consenso de que o ideal é seguir buscando diplomacia, ainda que a ofensiva passe a valer a partir de 1º de agosto.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso, disse que outro consenso que ampara a cautela mesmo após o prazo é de que não há, para a indústria, possibilidade de vender para outros lugares os produtos que atualmente são vendidos para os americanos.
"Se nós perdemos a exportação para os Estados Unidos, não tem como substituir com exportações para outros mercados."
Ainda conforme Velloso, diante das considerações e pedido de cautela, a reunião não chegou a abordar possibilidades de retaliação. "Não foi falado em momento algum, nem pela parte privada nem pelo governo. Nada em relação à retaliação. O objetivo parece unânime ali. De negociar à exaustão."
Francisco Gomes Neto, presidente da Embraer, disse que esse nível de tarifa pode ter um impacto de cerca de R$ 50 milhões por avião. Com isso, os efeitos nas receitas da fabricante seriam próximos a R$ 2 bilhões em 2025 e de R$ 20 bilhões até 2030.
"A taxa de 50% é praticamente um embargo. Esse patamar inviabilizaria as operações da Embraer nos EUA."(Agência Estado)
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Tarifa retém em portos 30 mil toneladas de carne
A indústria exportadora de carne bovina estima que cerca de 30 mil toneladas de mercadoria com destino aos Estados Unidos estão paradas em alto-mar após o anúncio do governo norte-americano de imposição de tarifa adicional de 50% sobre produtos importados brasileiros.
"Temos cerca de 30 mil toneladas de carne bovina produzidas que estão nos portos ou em alto-mar. A nossa preocupação é como será o desdobramento a partir de 1º de agosto", afirmou o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Roberto Perosa, a jornalistas após reunião do setor agropecuário no âmbito do comitê interministerial do governo que discute a reação do Executivo ao tarifaço dos EUA.
"É um volume em torno de US$ 150 milhões a US$ 160 milhões que já estão produzidos e a caminho dos Estados Unidos. É uma preocupação adicional ao produtor de carne bovina", apontou.
De acordo com Perosa, a sobretaxa de 50% torna inviável a exportação de carne bovina aos EUA, o segundo maior comprador da proteína brasileira, atrás apenas da China. "Os frigoríficos já estão parando de produzir carne destinada aos Estados Unidos, haja vista a incerteza da taxação", disse. Hoje, a carne bovina brasileira é exportada ao país com imposto da ordem de 36%. (Agência Estado)
Câmaras de comércio dos EUA e Brasil pedem suspensão de taxas
A U.S. Chamber of Commerce e a Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil) divulgaram nota conjunta na qual pedem para o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a suspensão das tarifas de 50% imposta aos produtos brasileiros.
A taxação às exportações brasileiras está prevista para entrar em vigor a partir de 1º de agosto. A nota das entidades destaca que a medida unilateral do governante dos Estados Unidos vai afetar "produtos essenciais às cadeias produtivas e aos consumidores norte-americanos, elevando os custos para as famílias e reduzindo a competitividade de setores produtivos estratégicos dos Estados Unidos".
"Uma relação comercial estável e produtiva entre as duas maiores economias das Américas beneficia consumidores, sustenta empregos e promove prosperidade em ambos os países."
As duas câmaras de comércio defenderam que Estados Unidos e Brasil "se engajem em negociações de alto nível a fim de evitar a implementação da tarifa de 50%". Além disso, as entidades alertam que as taxações podem estabelecer um precedente "preocupante" nas relações econômicas mais importantes dos Estados Unidos".
As entidades apontam que mais de 6,5 mil pequenas empresas dos Estados Unidos dependem das importações brasileiras e outros 3,9 mil empreendimentos norte-americanos contam com investimentos no Brasil.
"O Brasil está entre os dez principais mercados para exportações dos Estados Unidos e é destino, a cada ano, de cerca de US$ 60 bilhões em bens e serviços norte-americanos", destaca o comunicado. (Agência Brasil)