O anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de imposição de tarifas para produtos importados pelo país deve promover uma reorganização brusca do comércio internacional. O movimento, entretanto, gera expectativas positivas por parte do mercado imobiliário.
Apesar do aumento de custos às indústrias sediadas fora dos EUA, a perspectiva de ingresso de novas operações no mercado doméstico americano, expectativa já mencionada e induzida por Trump, anima a diretora de Relações Institucionais e Internacionais do Conselho Federal de Corretores de Imóveis (Sistema Cofeci/Creci), Marta Faustino.
Neste contexto, Marta projeta um aumento da demanda de brasileiros por imóveis em solo americano, promovendo uma mudança do perfil da demanda, antes voltada a investimentos em segunda moradia para períodos de férias, que serviam para aluguel por temporada.
Por isso, o Sistema Cofeci/Creci já trabalha para o desenvolvimento de parcerias. Mapeamento da entidade revela que existem nos EUA 8 mil corretores brasileiros licenciados, sendo que 2 mil deles estão baseados em Orlando (Flórida). São 110 imobiliárias de brasileiros com sede no país.
"Isso vai ajudar com que os corretores do Brasil, que tem Creci, possam fazer parceria com outros profissionais que falem português e atuam nos EUA. A prospecção acontece no Brasil e é possível fazer esse acompanhamento até a assinatura de contratos nos EUA e efetivação de honorários", pontua.
Para ela, um novo fluxo de investimentos ocorrerá com investidores interessados não apenas em abrir fábricas, mas também alugar imóveis comerciais, galpões e residências para os seus executivos e colaboradores.
"É exatamente aí que os corretores internacionais se tornam peça-chave. Seremos profissionais preparados para orientar na escolha dos melhores locais para instalação de suas operações. É claro que é necessário fazer um plano de negócios para saber da viabilidade, mas vejo uma grande oportunidade a partir dessa decisão do Trump".
Do ponto de vista do mercado imobiliário dos Estados Unidos, o momento macroeconômico demonstra sinais difusos. Apesar de taxa de juros permanecer estável, o ajuste dos preços preocupa por conta da inflação em alta.
Leandro Sobrinho, cofundador da Davila Finance, administradora de investimentos e incorporadora com sede na Flórida, diz que o patamar elevado dos juros afetou principalmente compradores residenciais e provocou uma desaceleração nas transações em cidades como Orlando e Miami. Por isso, destaca ser necessária análise apurada e postura estratégica.
"Estamos vivendo um momento de correções no mercado imobiliário. A estabilidade nas taxas de juros deve favorecer uma recuperação gradual do mercado, porém, ainda está acima da expectativa para os compradores residenciais", afirma.
Historicamente, a demanda dos brasileiros por imóveis nos Estados Unidos esteve ligada ao estado da Flórida, que tem entre os atrativos a participação de 5,8% no PIB americano. Segundo relatório da National Association of Realtors, concentrou 23% das aquisições de imóveis por estrangeiros em 2022, reflexo de um tripé considerado raro atualmente composto por estabilidade jurídica, liquidez e retorno previsível, elenca Leandro, que enfatiza a necessidade de atenção a detalhes próprios do mercado americano.
“Com taxas de juros estáveis e uma economia global ainda delicada, a oportunidade reside na parceria com players que compreendem a dinâmica do mercado e sabem aproveitar suas tendências, sempre com foco na sustentabilidade e na rentabilidade consistente”, conclui.
Uma das principais autoridades no ramo da Arquitetura e Urbanismo, a ex-relatora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Direito à Moradia Adequada, Raquel Rolnik, afirmou que as políticas de Donald Trump tem o potencial de gerar uma crise no mercado imobiliário dos Estados Unidos.
Segundo a também professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e de Design da Universidade de São Paulo (FAUUSP) e coordenadora do Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade (LabCidade/USP), a postura de Trump em meio ao cenário de patamar de juros alto e inflação crescente, o tarifaço pode ser o estopim de uma crise.
Em artigo publicado no portal do LabCidade/USP, Raquel pontua que, além dos preços dos insumos, há ainda problema de mão de obra escassa na indústria da construção nos EUA, já que 30% é composta por imigrantes.
A soma de política de deportação em massa e inflação causada pelo tarifaço vai impactar no preço final dos imóveis. Com a inflação em alta, a tendência é que os juros se elevem, potencializando o efeito negativo na economia americana, analisa.
"De partida, nos próprios Estados Unidos o aumento do preço dos materiais e insumos da construção civil, como aço, ferro, gesso (para fazer drywall), cimento, trazem aumento de preços, já que são materiais que o país importa", afirma Raquel.