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Em crise, sistema de ônibus de Fortaleza pode deixar de atender áreas deficitárias, diz Sindiônibus
Economia

Em crise, sistema de ônibus de Fortaleza pode deixar de atender áreas deficitárias, diz Sindiônibus

| TRANSPORTE PÚBLICO | Com a falência da Santa Cecília, cinco das 14 empresas vencedoras da concessão do transporte coletivo de Fortaleza já não operam mais
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DESDE a pandemia, empresas de ônibus enfrentam crise que ameaça o setor (Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal DESDE a pandemia, empresas de ônibus enfrentam crise que ameaça o setor

O encerramento das atividades da empresa de ônibus Santa Cecília ressalta uma crise que se arrasta há anos no sistema de transporte urbano de Fortaleza. Mas, para o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus), Dimas Barreira, caso a situação continue se deteriorando, soluções mais drásticas podem ser necessárias para preservar o sistema e as empresas, como a redução da área de atendimento na Cidade.

Com o fim das atividades da Santa Cecília após quase 80 anos de mercado, cinco das 14 empresas vencedoras da concessão pública do transporte coletivo de Fortaleza já não operam mais.

Dimas afirma que o problema é nacional e requer atuação do Governo Federal, já que a capacidade de financiamento de estados e municípios para o sistema de transporte não tem sido suficiente.

"Tem faltado capacidade de prefeituras e governos para sustentar a operação com a qualidade que a população demanda, com toda razão".

Enquanto esse "socorro" não chega, algumas cidades, como o Rio de Janeiro, implementaram soluções emergenciais para não colapsar seus sistemas de ônibus coletivos: deixar de atender áreas deficitárias na cidade.

Com mais uma empresa de transporte falida em Fortaleza, cresce a possibilidade de medida similar ser adotada.

"O que está acontecendo em várias cidades do Brasil, como em Teresina, Natal e no próprio Rio de Janeiro, é que partes da cidade já não são mais atendidas porque não se viabilizam", pontua.

Sobre a realidade de Fortaleza, ele comenta que das mais de 300 linhas de ônibus existentes, aproximadamente 80 são superavitárias, menos de 1/3.

Desde a pandemia, o número de passageiros do transporte coletivo reduziu mais de 50%. Em 2024, O POVO realizou levantamento que revelou que o número de viagens também diminuiu, sendo que mais da metade das linhas tiveram redução - aumentando o tempo de espera.

Outro fato que também está relacionado com essa crise foi o fim da função de cobradores de ônibus, com a adoção de catracas eletrônicas e com os motoristas assumindo a dupla função.

O presidente do Sindiônibus ainda detalha que a falta de financiamento sustentável para o sistema é refletida na qualidade do serviço. Segundo ele, a frota de ônibus de Fortaleza "nunca foi tão antiga" porque quase totalidade das empresas não tem condições de renovar a frota a contento.

"Essa é uma questão que a gente vem chamando a atenção. O que não queremos é que chegue ao caos no sistema".

Conforme O POVO apurou, outra empresa, a Siara Grande, também estaria em dificuldades - por enquanto não tão sérias quanto a que extinguiu a Santa Cecília.

Em meio às dificuldades financeiras das empresas que compõem o sistema, o rastro deixado pelo caminho é de precarização e dívidas.

No caso da Santa Cecília, um processo de reintegração de posse no início deste ano sacramentou o início do fim da empresa. Em dezembro de 2024, decisão do juízo da 2ª Vara da Comarca de Itaitinga autorizou a apreensão de ônibus da empresa por parte do Banco Volvo.

Ao todo, foram 14 ônibus apreendidos após a empresa não conseguir pagar parcelas do financiamento. E, segundo o Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Rodoviário do Estado do Ceará (Sintro-CE), a medida motivou a demissão de 60 trabalhadores, em fevereiro.

O presidente do Sintro-CE, Domingos Neto, afirma que, apesar das promessas da empresa, esses profissionais seguem sem receber as parcelas das verbas rescisórias após acordo. Agora, com a dispensa de mais de 200 profissionais, o sindicato acionará mais uma vez o Ministério Público do Trabalho (MPT) para mediar a situação.

"A Santa Cecília descumpria suas obrigações há um bom tempo, mas de uns três anos para cá piorou. Já fizemos várias denúncias, mas a empresa deixava de pagar salários, férias", continua.

Ainda segundo Neto, a empresa só realizou o pagamento da primeira quinzena de junho. Desde então, os funcionários ficaram sem receber e, após 11 dias de trabalhos paralisados, a empresa anunciou sua falência na última sexta-feira, 8.

O POVO procurou a Prefeitura de Fortaleza para questionar sobre a crise no sistema. Quem respondeu foi a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), informando que acompanha a operação de 31 linhas que eram operadas pela Santa Cecília com cerca de 45 ônibus. Como solução inicial, dez ônibus reservas foram colocados no lugar para garantir o cumprimento das viagens.

Sobre a crise descrita no sistema de transportes de Fortaleza, a Etufor informou que a Prefeitura informou que "está em diálogo com o Sindiônibus para desenvolver soluções de apoio às empresas e melhorar a qualidade do transporte público ofertado na Cidade".

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Fortaleza, CE, BR 12.02.25  Mulheres utilizando serviço  Moto  Uber  (FCO FONTENELE/O POVO)
Fortaleza, CE, BR 12.02.25 Mulheres utilizando serviço Moto Uber (FCO FONTENELE/O POVO)

Concorrência com apps acentuou redução no fluxo de passageiros

A introdução do transporte por aplicativos na rotina dos fortalezenses representou o início de uma concorrência que se tornou um dos pontos que reduziu o fluxo de passageiros no transporte público da Capital. Esse processo acelerou com a chegada da opção de motocicletas nesta inovação.

Para Dimas Barreira, presidente do Sindiônibus, essa concorrência afetou negativamente a sanidade do sistema, já que os passageiros atraídos foram justamente aqueles que promoviam a sustentabilidade da operação: eram passageiros pagantes.

Com a diminuição nos custos dessas plataformas de transporte, quem pagaria para usar ônibus, prefere uma motocicleta por demanda.

Assim, quem permanece usando o sistema público são os passageiros beneficiados com gratuidades, aumentando o peso da importância dos subsídios públicos. O problema, segundo Dimas, é que a capacidade dos governos está no limite.

"O transporte, como eu digo, é como uma escada rolante na contramão, não existe opção de não investir. Quando você não está investindo - que é o primeiro corte quando há crise nas contas públicas - a consequência vem".

Ele reconhece que a queda na qualidade do serviço contribuiu para esse processo. O efeito notável são as falências. "Naturalmente, as primeiras que acusam o golpe a ponto de colapsar como aconteceu com a Santa Cecília são as empresas menores".

"Mas vai chegar um momento - que não está muito longe - que alguma dessas empresas vai parar e o restante do sistema não vai conseguir cobrir".

Quem opera sistema de ônibus em Fortaleza

Empresas que operam no transporte público em Fortaleza

>Auto Viação Fortaleza

>Auto Viação São José

>Viação Siará Grande

>Transporte
Santa Maria

>Aliança Transportes

>Maraponga Transportes

>Viação Urbana

>Vega Transportes

>Auto Viação
Dragão do Mar

Empresas que deixaram o sistema:

>Rota Expressa

>Viação Cearense

>Terra Luz,

>Fretcar

>Santa Cecília


Fonte: Sindiônibus

MPT será acionado para intermediar questões trabalhistas

No caso da Santa Cecília, um processo de reintegração de posse no início deste ano demarcou a derrocada da empresa.

Em dezembro de 2024, decisão do juízo da 2ª Vara da Comarca de Itaitinga autorizou a apreensão de ônibus da empresa por parte do Banco Volvo. Ao todo, foram 14 ônibus apreendidos após a empresa não conseguir pagar parcelas do financiamento.

E, segundo o Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Rodoviário do Estado do Ceará (Sintro-CE), a medida motivou a demissão de 60 trabalhadores, em fevereiro.
O presidente do Sintro-CE, Domingos Neto, afirma que, apesar das promessas da empresa, esses profissionais seguem sem receber as parcelas das verbas rescisórias após acordo.

Agora, com a dispensa de mais de 200 profissionais, o sindicato acionará mais uma vez o Ministério Público do Trabalho (MPT) para mediar a situação.
"A Santa Cecília descumpria suas obrigações há um bom tempo, mas de uns três anos para cá piorou. Já fizemos várias denúncias, mas a empresa deixava de pagar salários, férias", continua.
Ainda segundo Neto, a empresa só realizou o pagamento da primeira quinzena de junho. Desde então, os funcionários ficaram sem receber e, após 11 dias de trabalhos paralisados, a empresa anunciou sua falência na última sexta-feira, 8.

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