O problema técnico que impede a conexão das usinas de hidrogênio verde (H2V) ao Sistema Interligado Nacional (SIN) deve ser resolvido ainda em 2025.
A expectativa foi informada pela CEO da Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (ABIHV), Fernanda Delgado, em entrevista ao O POVO durante o II Seminário Nacional de Hidrogênio Verde, no Centro de Eventos, nesta quarta-feira, 13 de agosto.
Tido por diversos estados do Nordeste como a principal aposta para um novo momento de desenvolvimento industrial, o H2V demanda uma carga de energia superior ao consumo de toda a Região.
Hoje, não há linhas de transmissão suficientes para distribuir o que é gerado dos parques eólicos ou solares aos projetos. Por isso, alguns tiveram a conexão ao SIN negada pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) no primeiro semestre deste ano. Entre eles, estão Fortescue e Casa dos Ventos, no Ceará, e Solatio, no Piauí.
Fernanda Delgado explica que, quando foram trabalhadas as leis do hidrogênio e esses projetos começaram no Brasil, havia uma disponibilidade de energia aqui no Nordeste para conexão desses projetos. No entanto, por um movimento conservador dos órgãos reguladores, houve uma retirada dessa energia do sistema.
“O que acontece agora é que há uma reorganização desses equipamentos, dessas demandas. Não é só hidrogênio verde. Você tem hoje toda uma indústria eletrointensiva que vai desde a eletrificação da frota até os data centers, até a eletrificação da própria indústria. Então, essa nova forma de fazer negócios que existe hoje no mundo inteiro e aqui no Brasil exige um grid um pouco mais robusto.”
Nesse sentido, esclareceu que isso está sendo trabalhado entre a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), ONS e Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e há uma boa expectativa para resolver o impasse.
Outro ponto destacado pela CEO da ABIHV é que, enquanto projetos internacionais de hidrogênio verde sofrem com retração de investimentos, especialmente os do setor de petróleo, o Brasil segue em ritmo acelerado.
Um dos exemplos foi a desistência da australiana Origin Energy, uma companhia petrolífera, em outubro de 2024. Para Fernanda Delgado, as empresas deste setor oscilam entre investir e desinvestir em energias renováveis, impactando o mercado global. Contudo, o cenário nacional permanece otimista.
“Se você pensar lá atrás, no início do GNL, no gás natural liquefeito, também houve uma série de idas e vindas de várias empresas. No início da energia eólica, também aconteceu o mesmo. É natural esse movimento no início de indústrias muito complexas, muito sofisticadas e de alto valor agregado, que precisam de incentivos governamentais.”
Além disso, a CEO da ABIHV afirmou que a legislação para o combustível limpo apresentou um avanço significativo, mas ainda precisa de melhorias.
Um deles é a lei que institui o Programa de Desenvolvimento do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono e Investimentos (PHBC), com a concessão de créditos fiscais de R$ 18,3 bilhões para os produtores e compradores de hidrogênio de baixa emissão de carbono, entre 2028 e 2032.
Segundo Fernanda Delgado, há uma preocupação em como esses recursos serão alocados. “É importante ser usado para aquilo a que a agenda verde do governo se propõe: projetos que sejam descarbonizantes, privilegiem baixa emissão de carbono e também traga competitivo no mercado.”