Logo O POVO+
Preço da carne e do café sobe nos EUA e cenário pode piorar com tarifaço
Economia

Preço da carne e do café sobe nos EUA e cenário pode piorar com tarifaço

Conforme os dados, o café registrou um aumento de 14% entre julho de 2024 e julho de 2025, enquanto ovos acumularam alta de 16,4% e a carne bovina de 11,3%
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Estados Unidos enfrentam um cenário de alta nos preços de alimentos básicos (Foto: Franki Chamaki/Unsplash)
Foto: Franki Chamaki/Unsplash Estados Unidos enfrentam um cenário de alta nos preços de alimentos básicos

Os Estados Unidos enfrentam um cenário de alta nos preços de alimentos básicos, com destaque para a carne bovina, café e ovos. Conforme os especialistas ouvidos pelo O POVO, o aumento não é necessariamente devido ao tarifaço imposto por Donald Trump, porém, o cenário pode se agravar.

Dados mais recentes do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, em inglês) mostram que a carne moída bovina passou de US$ 5,4 em janeiro para US$ 6,2, por libra, em julho de 2025. 

Além disso, os bifes crus subiram de US$ 11,12 para US$ 11,87, por libra, no mesmo período. Convertendo para a cotação atual, o valor desses alimentos está acima de R$ 74 e de R$ 140 por quilo.

Por outro lado, o Escritório de Estatísticas do Trabalho (BLS, em inglês) publicou que o café registrou um aumento de 14% entre julho de 2024 e julho de 2025, enquanto ovos acumularam alta de 16,4% e a carne bovina como um todo subiu 11,3%.

Um dos pontos mais críticos é a recente decisão do governo norte-americano de elevar em 50% a tarifa sobre produtos brasileiros, incluindo a carne. Hoje, o País representa 27% das importações de carne dos Estados Unidos.

Contudo, na percepção da brasileira Livia Graham, de 38 anos, que mora na Pensilvânia há três anos, o aumento dos preços vem de antes da taxação.

"Esse ano alguns produtos aumentaram bastante o preço como ovo, mas por conta da crise da gripe aviária. Assim que os supermercados conseguiram suprir a demanda, o valor voltou ao normal."

A pedagoga entende que esse impacto pode não estar sendo tão sentido agora, por ser a época do verão. "Talvez a gente vá sentir um aumento mais expressivo mais para o fim do ano", analisa.

Como a medida tenha sido iniciada há menos de um mês, o economista Bruno Corano explica que o impacto total ainda não foi sentido pelo consumidor, com o efeito sendo mais acentuado em breve.

“A questão tarifária, a gente nem sabe ao certo se já bateu no custo da carne. O percentual deve subir ainda mais. Os Estados Unidos já vinham tendo problemas, principalmente porque o rebanho americano vem diminuindo desde 1970”, explica.

Segundo ele, o êxodo rural e a migração para grandes centros urbanos reduziram a mão de obra no campo, enfraquecendo a produção doméstica. “Produzir carne nos EUA se tornou mais caro do que importar. Isso já ocorre em outros setores, como o de eletrônicos”, afirma.

No caso do café, a situação é ainda mais complexa. Embora o Brasil seja um dos maiores produtores mundiais, o crescimento da demanda global, puxado por países como a China, não tem sido acompanhado por um aumento proporcional da produtividade. Isso pressiona os preços internacionais.

“A origem do problema do café é global. A demanda cresceu mais do que a produção consegue acompanhar. Muitos países aumentaram o consumo, mas não produzem, o que naturalmente elevou os preços”, ressalta Corano.

Para o especialista, os efeitos das tarifas norte-americanas sobre importados ainda não aparecem com clareza nas estatísticas, mas há sinais de repasse antecipado ao consumidor. Ele compara a prática com postos de combustível que, mesmo com estoque antigo, já reajustam os preços para garantir fluxo de caixa e repor o produto a valores mais altos.

Já o economista Alex Araújo avalia que o aumento não se limita à carne e ao café, pois há um conjunto de fatores internos e externos que vem formando um quadro de inflação generalizada.

“As tarifas aplicadas pelo governo elevaram os custos de insumos e produtos importados, como café e chocolate. No plano doméstico, a pecuária sofreu com secas prolongadas, que reduziram a disponibilidade de pasto e encareceram a ração”, aponta.

Ainda ressalta que os impactos já chegam aos restaurantes, que relatam dificuldades em segurar os preços de cardápio. Ovos, frango e açúcar também estão sob pressão, o que gera efeito em cadeia sobre a indústria alimentícia.

Setor privado dos EUA pede revisão do tarifaço sobre produtos brasileiros e alerta sobre China

Mais notícias de Economia

Instituto dos EUA afirma que as tarifas já impactam a inflação

O Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês) publicou um relatório afirmando que as tarifas estão "claramente" alimentando a inflação americana, com os preços de importação e de produtores subindo à medida que os estoques de reserva se esgotam.

De acordo com a nota, as restrições à imigração nos EUA também estão apertando a oferta de mão de obra, o que reduz o ponto de equilíbrio da criação de empregos e distorce sinais.

Para o instituto, com as tarifas elevando os custos e as restrições à imigração apertando a oferta de mão de obra, a questão da política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) não é sobre se é hora de cortar os juros, mas sobre quando as reduções podem começar sem o Fed perder sua credibilidade.

"O Fed está limitado de cortar sem uma desinflação mais clara, mas enfrentando riscos crescentes de inflação impulsionada pela oferta", diz o texto, ao ressaltar que a questão-chave não é quando a inflação cairá, mas se ela subirá novamente antes que o crescimento desacelere de maneira firme.

O IIF ainda avalia que a demanda parece resiliente, embora sinais de estresse estejam surgindo entre as famílias de baixa renda. Ainda de acordo com o relatório, a manufatura e a construção privada estão enfraquecendo sob o peso das tarifas e das condições financeiras mais restritivas.

Gasto do consumidor americano desacelera

O gasto do consumidor nos EUA desacelerou significativamente na primeira metade de 2025, diminuindo em relação ao ritmo robusto observado no final de 2024, de acordo com monitoramento da Fitch Ratings.

Segundo a agência de classificação de risco, a crescente incerteza na política comercial e a volatilidade do mercado de ações enfraqueceram o sentimento e a confiança do consumidor, levando a uma redução nos gastos das famílias.

"À medida que os repasses de custos relacionados a tarifas para os bens aumentam a pressão inflacionária, a economia pode tomar um rumo estagflacionário ainda este ano", diz Olu Sonola, chefe de Pesquisa Econômica dos EUA na Fitch.

"Espera-se que os preços mais altos atinjam primeiro as categorias de bens, provavelmente enfraquecendo os gastos do consumidor antes da temporada de férias".

O crescimento dos gastos do consumidor caiu para 0,5% no primeiro trimestre de 2025 e 1,4% no segundo trimestre, abaixo dos 3,7% no terceiro trimestre de 2024 e 4,0% no quarto trimestre do ano passado.

A Fitch espera que o crescimento dos gastos do consumidor atinja uma média de 1,8% em 2025-2026, uma queda significativa em relação aos 2,8% em 2024.

Com Agência Estado

O que você achou desse conteúdo?