O Governo do Ceará abriu crédito adicional extraordinário ao orçamento no valor de R$ 20 milhões.
O valor é para auxiliar as empresas afetadas pelo tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros, o que afetou, proporcionalmente, no País, mais ao estado cearense.
Esse montante vai para a administração da Secretaria do Desenvolvimento Econômico (SDE). Em suma, é para atender as despesas referentes à subvenção econômica, que será concedida a empresas exportadoras, de modo a mitigar os efeitos adversos decorrentes do aumento tarifário.
Dos R$ 20 milhões de subvenção econômica, a divisão proposta no decreto 36.844, de 10 de setembro, R$ 10 milhões estão para o desenvolvimento e diversificação dos setores industriais na Grande Fortaleza, e mais R$ 10 milhões para todo o Estado. O objetivo é realizar projetos em parceria com instituições ligadas à internacionalização da indústria cearense.
Em nota, a Secretaria da Fazenda do Ceará (Sefaz-CE) reitera que o crédito adicional extraordinário “destina-se a viabilizar medidas de enfrentamento à taxação imposta pelos Estados Unidos, seja por meio de subvenção econômica ou de pagamento de crédito à exportação. A suplementação das dotações orçamentárias assegura que os recursos estejam disponíveis para a execução das ações anunciadas pelo Governo do Ceará”.
Conforme fontes ouvidas por O POVO os prejuízos com o tarifaço chegam a 70% em algumas cadeias produtivas, tais como a dos pescados. De acordo com Paulo Gonçalves, diretor do Sindicato das Indústrias de Frio e Pesca do Ceará (Sindfrio), o setor “vinha trabalhando com uma média de 500 toneladas por mês e caiu aí para uns 30% no mês de agosto. Com a notícia de que o governo vai dar o socorro e vai ajudar as empresas, redimensionando a exportação, existe a perspectiva de retorno”.
Ele lembra que “quando foi anunciado o tarifaço, todo mundo foi recolhendo as embarcações. Então, quando o governo anunciou o subsídio, até você armar e colocar os barcos para pescar de novo, isso demora um tempo. Então, existe a previsão de retornar às 500 toneladas por mês até o final de novembro, embora a gente tenha a expectativa de voltar até antes”.
“Nós estamos incentivando os barcos a voltar ao mar, porque os preços que nós estávamos praticando até o dia 3 ou 4 de agosto eram preços que realmente representavam o que a gente tinha para receber dos comerciantes. As empresas estavam reclamando de um preço muito baixo, em torno de R$ 22, R$ 23. E nós ajustamos com as embarcações para voltarem a pescar com um preço por volta de R$ 28, R$ 29”, explica Gonçalves.
O diretor do Sindfrio lembrou o tamanho da cadeia produtiva do pescado e o impacto do tarifaço em termos de embarcações e profissionais afetados. “Se você considerar que nós temos em torno de 1.200 embarcações por ano e nós temos, mais ou menos, cinco pessoas por embarcação. Estamos falando de 6 mil pessoas no mar e para cada pessoa que está no mar, eu preciso de cinco em terra, ou seja, estamos falando de cerca de 30 mil pessoas”, quantificou.
Já a fundadora da Associação Nacional dos Produtores de Coco (Aprococo), Rita Grangeiro, “a cadeia do coco está trabalhando com 40% de prejuízo. O governo estadual ficou de fazer essa reposição porque 10% já tinha sido absorvido por todos. Então, na verdade, o problema são os outros 40%”.
“Em agosto, foram exportados 1,5 milhão de litros de água de coco, mas com um desconto de 40% para que fosse viável, para que não se perdesse o cliente e mantivesse os empregos. Por outro lado, a venda de 1 milhão de litros foi cancelada. O prejuízo maior é para o produtor”, ressaltou.
Ela afirma que mesmo com a subvenção é estimado um prejuízo de 10% a 12%. “Isso aí (a subvenção) tem que ser uma coisa rápida, porque senão a indústria não vai aguentar. Ela tem que bancar essa diferença”, conclui citando a margem de lucro que deve ser perdida. (Colaborou Beatriz Cavalcante)
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Exportações de produtos do tarifaço recuam 22,4%
As exportações de produtos afetados pelo tarifaço americano caíram 22,4% em agosto na comparação com o mesmo mês de 2024. Já as vendas de itens que não sofreram taxas adicionais recuaram 7,1%.
A constatação está no Monitor de Comércio Brasil-EUA, boletim elaborado pela Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil), entidade sem fins lucrativos que representa mais de 3,5 mil empresas envolvidas no comércio entre os dois países.
A análise é feita em cima de dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), que já havia revelado que as exportações brasileiras para os Estados Unidos regrediram 18,5% em agosto ante o mesmo mês de 2024.
De acordo com a Amcham, os dados do mês passado indicam que as sobretaxas impostas pelos EUA provocaram uma queda expressiva nas exportações brasileiras e vêm contribuindo também para a desaceleração das importações.
Já em relação aos produtos não taxados, a Amcham avalia que a queda de 7,1% foi influenciada "sobretudo por fatores de mercado, como a menor demanda dos EUA por petróleo e derivados".
Os Estados Unidos são o segundo principal parceiro comercial do Brasil, perdendo apenas para a China. No acumulado dos primeiros oito meses do ano, o comércio entre os dois países chegou a US$ 56,6 bilhões. As nossas exportações somam US$ 26,6 bilhões e apresentam alta de 1,6% ante janeiro a agosto de 2024.
Mas o resultado isolado de agosto significou a maior queda mensal de 2025, "indicando que o tarifaço influenciou as decisões empresariais", frisa a Amcham. (Agência Brasil)
Projeção
O Ministério da Fazenda estima que as ações do governo brasileiro devem reduzir pela metade o impacto do tarifaço aplicado pelos Estados Unidos na economia brasileira