Pouco mais de 202 mil famílias deixaram a linha da pobreza nos últimos dois anos no Ceará, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), via Cadastro Único (CadÚnico), principal porta de entrada de programas como o Bolsa Família.
Em termos percentuais, a redução no período é de 13%, caindo de 1,5 milhão para cerca de 1,3 milhão de famílias vivendo nessa condição.
A capital Fortaleza concentra quase um quarto desse total, ou 313,9 mil, sendo a terceira com maior número de famílias vivendo na linha de pobreza, atrás apenas de São Paulo, com 669,1 mil famílias, e do Rio de Janeiro, com 586,1 mil famílias.
Já quando é incluída também a população de baixa renda na pesquisa, a redução é um pouco menor, com queda de 8,7% entre agosto de 2023 e agosto de 2025, caindo de quase 2 milhões para 1,8 milhão. Nesse recorte, são consideradas as famílias com renda per capita (por membro) inferior a meio salário mínimo.
Por outro lado, o número de famílias inscritas no CadÚnico com renda acima de meio salário mínimo aumentou 12,6% no período analisado, passando de 571,2 mil para 643,3 mil em dois anos. O fenômeno é similar ao que ocorre nas esferas regional e nacional, embora ligeiramente inferior tanto no que se refere à redução das famílias vivendo na pobreza ou na baixa renda, quanto no aumento no número de famílias ganhando mais que o teto para a entrada no CadÚnico.
Para a vice-governadora do Ceará e secretária da Proteção Social, Jade Romero, o estado tem feito um trabalho importante para a redução da extrema pobreza. “Tiramos mais de 624 mil pessoas da pobreza e extrema pobreza, nos últimos dois anos, chegando ao menor percentual de extrema pobreza desde 2012, e quase 60 mil crianças saíram da extrema pobreza, também o menor índice registrado desde 2012”, ressaltou.
“Esse dado do Ministério do Desenvolvimento Social, de que mais 200 mil pessoas deixaram a condição de pobreza aqui no Estado, reforça o nosso entendimento de que o combate à pobreza tem múltiplas dimensões. Superar essa condição passa pela construção de Centros de Educação Infantil e espaços de convivência social e familiar, combate à fome, e implantação de programas estaduais de transferência de renda”, exemplificou a vice-governadora.
“Temos investido fortemente nos programas de transferência de renda como Ceará Sem Fome, Vale Gás Social e Cartão Mais Infância, e fortalecido o cruzamento dessa linha de ação com a qualificação profissional e a empregabilidade. Por ano, investimos, somente por meio da Secretaria da Proteção Social, cerca de R$ 460 milhões em transferências de renda”, citou Jade Romero.
O pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre) Vitor Hugo Miro enfatiza que, “nos últimos dois anos, a gente teve uma redução bastante forte nesses indicadores, tanto de pobreza quanto de extrema pobreza. Isso não só pelos dados que temos do Ministério do Desenvolvimento Social, mas também pelos próprios dados do IBGE”.
“Essa redução da pobreza ocorre tanto por razões ligadas ao mercado de trabalho, já que estamos em um momento em que ele está relativamente aquecido, com taxas de desemprego atingindo mínimas históricas, quanto por crescimento do rendimento do trabalho. E, é claro, nos últimos dois anos tivemos um efeito muito forte dos programas de transferência de renda”, explica.
Sobre as diferenças entre os percentuais encontrados no Ceará e no Nordeste como um todo, o pesquisador aponta que a razão para “essa heterogeneidade mesmo dentro da região Nordeste é o fato de que, no Ceará, observamos o menor crescimento do valor da renda, principalmente a relacionada ao trabalho”.
“Há um aspecto interessante quando relacionamos esse movimento ao mercado de trabalho pelo seguinte: no Ceará, temos a menor taxa de desocupação do Nordeste. Só que a nossa taxa de participação no mercado de trabalho também é uma das menores da região”, acrescentou Vitor Hugo Miro.