A indústria têxtil e de confecção brasileira vive um momento de contrastes: cresce em produção, emprego e estabilidade de preços, mas sofre com o avanço das importações e os altos custos internos.
Em entrevista ao O POVO, o diretor superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel, resumiu: “temos sinais claros de recuperação, mas os custos e as importações comprometem a competitividade da indústria nacional.”
Nos últimos 12 meses até julho de 2025, a produção têxtil cresceu 9,1%, enquanto o vestuário avançou 4% e o varejo de vestuário 4,9%. O setor criou 7 mil empregos formais no período e deve fechar o ano com 7,8 mil novos postos de trabalho, além de outros 1,5 mil previstos para 2026.
As exportações também deram sinais de recuperação, com alta de 10%, puxadas pela Argentina. No campo dos preços, o vestuário teve inflação de 4,47%, abaixo do índice geral, que superou 5%. Desde o Plano Real, em 1994, a alta acumulada do setor foi de 480%, bem menor que a da alimentação (848%) e do índice geral (800%).
Os dados foram revelados durante as feiras Maquintex+Signs+Pack&Graph, consolidadas como os principais encontros de negócios para os setores de indústria têxtil, embalagens, comunicação visual e gráfico nas regiões Norte e Nordeste, que acontecem até amanhã, 25 de setembro, no Centro de Eventos do Ceará.
O evento tem como foco as novas demandas de mercado e o potencial do Nordeste como polo de inovação e expansão econômica.
A programação inclui a exposição de produtos, áreas de talk, a quinta edição do Campeonato Brasileiro de Envelopamento Automotivo (Cambea) e atrações que vão de desfiles a workshops.
Entre os destaques da edição estão a expectativa de movimentação de R$ 600 milhões em negócios, aumento de 15% do público, superando os 15 mil da última edição.
O lado crítico do segmento têxtil aparece quando se olha para o comércio exterior. O Brasil importou, nos últimos 12 meses, US$ 6,6 bilhões em produtos do setor, contra pouco mais de US$ 1 bilhão exportado. O ritmo de importações cresceu 17% no vestuário e 16% em têxteis e confecções em geral, muito acima da produção e do consumo doméstico.
Segundo Pimentel, esse movimento é resultado de excedentes asiáticos, principalmente da China, vendidos a preços muito baixos. “Esse volume pressiona a indústria local, que enfrenta condições desiguais de concorrência”, alerta.
A meta da Abit é ampliar as exportações brasileiras para US$ 6 bilhões nos próximos 15 anos, equilibrando parcialmente a balança.
Além da concorrência externa, a indústria lida com entraves estruturais que aumentam o chamado “custo Brasil”:
Esses fatores afetam a competitividade, sobretudo em polos como o Nordeste — Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco — onde a indústria de confecção emprega milhares de trabalhadores, mas convive com gargalos logísticos e fiscais que encarecem a produção.
A chamada “taxa das blusinhas” também entrou no radar. Desde que as compras internacionais de até US$ 50 passaram a ser taxadas, o fluxo de encomendas caiu, mas logo voltou aos patamares anteriores, agora com parte da tributação aplicada. Para a Abit, a mudança foi positiva.
Ainda assim, Pimentel lembra que a carga sobre o produto nacional continua sendo o dobro da aplicada às importações convencionais.
Por isso, ele classifica como “contrassenso” as propostas de retomar a isenção para compras de até US$ 20.
“Se é para desonerar, que se desonere a produção nacional, fortalecendo nossa indústria, inovação e sustentabilidade”, defende.
Entre as soluções em estudo está a criação de um cashback para compras nacionais de até US$ 50, devolvendo parte dos impostos ao consumidor e incentivando o consumo de produtos feitos no Brasil.
A proposta deve ser apresentada no próximo Congresso da Abit, em outubro.
Na visão da entidade, a saída para manter o setor competitivo passa por modernização e sustentabilidade. A agenda Têxtil 2030, em atualização, inclui estratégias como:
Conforme Pimentel, fornecedores já vêm apresentando soluções em máquinas automatizadas, bordados com inteligência artificial e processos de tecelagem avançados. Essas inovações, combinadas com políticas adequadas de incentivo, podem garantir que a indústria siga gerando empregos em escala, especialmente em polos como o Nordeste.
Quando: Até 25 de setembro no Centro de Eventos
Onde: Centro de Eventos do Ceará – Pavilhão Oeste, av. Washington Soares, 999
Mais informações: maquintex.com.br
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Feira
A programação inclui a exposição de produtos, áreas de talk, a quinta edição do Campeonato Brasileiro de Envelopamento Automotivo (Cambea) e atrações que vão de desfiles a workshops