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Shutdown nos EUA pode afetar vistos, aviação e importações no Brasil
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Shutdown nos EUA pode afetar vistos, aviação e importações no Brasil

Especialistas alertam para impacto na logística aérea tais como aumento de custos e paralisações em setores dependentes de insumos americanos.
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CENTRO de Visitantes do Capitólio dos EUA está fechado para visitantes (Foto: Brendan SMIALOWSKI / AFP)
Foto: Brendan SMIALOWSKI / AFP CENTRO de Visitantes do Capitólio dos EUA está fechado para visitantes

 A depender da duração, especialistas em comércio exterior e economistas avaliam que a paralisação (shutdown) iniciada pelo governo dos Estados Unidos, nesta quarta-feira (1º de outubro), pode funcionar como um catalisador de incertezas globais. A medida foi tomada por falta de acordo entre democratas e republicanos sobre o orçamento. 

Há um consenso de que, embora um shutdown curto cause apenas ruído, paralisações prolongadas podem levar à queda do Produto Interno Bruto (PIB) americano e exigir maior cautela, reforço na gestão de caixa e busca por ativos mais resilientes por parte de empresas e investidores.

Esta é a 15ª paralisação do governo americano desde 1981. O último shutdown durou 35 dias, entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019, durante o primeiro mandato de Donald Trump. Na ocasião, a disputa se deu sobre a segurança na fronteira.

Nos Estados Unidos, entre as consequências apontadas, estão a suspensão da divulgação do relatório de emprego de setembro, atrasos em voos domésticos e internacionais, a interrupção de pesquisas científicas, retenção dos salários de militares e a dispensa temporária de cerca de 750 mil funcionários. Estimativas oficiais calculam o custo diário em aproximadamente US$ 400 milhões. Até a visitação à Estátua da Liberdade, um dos monumentos mais famosos de Nova York, foi interrompida.

No Brasil, de imediato, a medida afeta a logística aérea, alerta Jackson Campos, especialista em comércio exterior. De acordo com ele, poderá haver aumento de custos e paralisações em setores dependentes de insumos americanos.

“No modal aéreo, os impactos aparecem em taxas extras de armazenagem em terminais, novas reservas de cargas, manuseio adicional e até seguros mais caros. Setores que dependem de insumos americanos, como automotivo, químico e médico, podem enfrentar paralisações na produção", explica Campos.

De acordo com o economista Lauro Chaves, os impactos na economia brasileira acontecem de uma maneira indireta e somente serão percebidos se a paralisação se prolongar. “Se for resolvido dentro de dois, três ou quatro dias, serão muito pequenos”, avalia.

Dentre esses impactos indiretos, ele cita primeiro a volatilidade do mercado financeiro internacional. “Um shutdown prolongado pode ter efeito na movimentação dos fluxos de capitais, e os países emergentes são os que mais sofrem, porque em um cenário de volatilidade os capitais buscam os países com menor taxa de risco, com títulos governamentais mais seguros”, explica Lauro Chaves.

Isso ocorre porque os investidores exigem um "prêmio" maior para investir no país (aumento do prêmio de risco) e a moeda se torna mais instável (volatilidade cambial) devido à dificuldade de prever os próximos passos da maior economia do mundo e de seu banco central.

Outra questão, aponta o economista, diz respeito às exportações. “Os Estados Unidos são o segundo maior mercado das exportações brasileiras, perdendo só pra China. E esse mercado já vem sendo penalizado pelo tarifaço do Trump”, destaca Lauro Chaves, acrescentando que uma paralisação prolongada poderá implicar na redução da demanda por alguns produtos e serviços brasileiros na relação comercial com os Estados Unidos..

Por fim, o economista avalia que, dependendo da movimentação dos fluxos de capitais, poderá haver impacto na taxa de juros e na inflação brasileira.

Impacto no câmbio

“Em caso de duração mais longa, os efeitos se tornam visíveis no PIB americano, no consumo de famílias impactadas pelo atraso nos salários e até na calibragem da política monetária, já que o Fed (banco central americano) perde visibilidade com indicadores suspensos", afirma Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.

Estudiosos avaliam que a instabilidade gerada nos Estados Unidos poderia repercutir diretamente no Brasil através do câmbio. Um dólar mais forte, por exemplo, pressiona o real, o que pode ter consequências inflacionárias. Prova disso é que os reflexos no mercado começaram a ser sentidos desde cedo, logo após o início do shutdown. Às 9h05, o dólar recuava 0,35%, cotado a R$ 5,30.

Assim como Lauro Chaves, Gustavo Assis, CEO da Asset Bank, também afirma que, no Brasil, em caso de uma paralisação prolongada, o cenário "se traduz em volatilidade cambial e prêmio de risco mais elevado".

Segundo Jorge Kotz, CEO da Holding Grupo X, o impacto imediato para as empresas é liquidez mais cara no curto prazo e maior seletividade bancária. “Líderes precisam reforçar gestão de caixa, renegociar prazos e proteger capital de giro. Para o mundo corporativo, o foco vem na produtividade, como orçamento base zero, metas claras e execução semanal. Investidores devem priorizar negócios com geração recorrente, baixo churn e ciclos de caixa curtos", indica.

O que é o shutdown adotado pelo governo dos Estados Unidos?

O shutdown nos Estados Unidos ocorre quando o Congresso não aprova a legislação de financiamento necessária para o governo federal, resultando na suspensão parcial das atividades federais. Isso afeta serviços não essenciais, levando milhares de servidores públicos a licenças temporárias.

Funciona assim: todo ano, o Legislativo deve aprovar 12 leis orçamentárias, que destinam verbas para áreas como saúde, educação, defesa e outros serviços. Se essas leis não forem votadas até o fim do ano fiscal, que nos EUA é dia 30 de setembro, ou se não houver uma solução temporária para manter os gastos, o financiamento se esgota.

Nesse cenário, agências e programas que dependem desse financiamento ficam sem recursos para funcionar. Como resultado, atividades consideradas não essenciais são suspensas, funcionários podem ser afastados sem salário temporariamente e apenas serviços essenciais continuam em operação.

O que segue funcionando?

Serviços ligados à segurança nacional; polícia; controle aéreo; hospitais em regime crítico; serviço postal

Vale explicar também que, embora programas como Segurança Social (Social Security) ou Medicare/Medicaid continuem ativos (porque seus benefícios são autorizados por lei permanente), alguns serviços administrativos desses programas podem sofrer atrasos ou redução de atendimento.

Pagamentos para os moradores, como aposentadorias, benefícios por invalidez e programas de saúde seguem funcionando.

O que pode ser suspenso?

Agências administrativas; inspeções; manutenção de parques nacionais; certas licenças ou serviços burocráticos.

Impactos do shutdown para a população

O efeito sobre a população e a economia pode variar conforme a duração da paralisação,

Atrasos em serviços públicos: emissão de documentos, licenças e atendimentos em agências federais. A emissão de passaportes ou atendimento em agências federais também pode demorar ou ficar parada, dependendo da duração do shutdown.

Suspensão de inspeções: alimentos, transporte e meio ambiente ficam com fiscalização reduzida.

Turismo afetado: fechamento ou serviço suspenso em parques nacionais, museus e zoológicos, como a Estátua da Liberdade e o National Mall.

Aeroportos sobrecarregados: atrasos em voos e filas maiores em pontos de controle por falta de funcionários.

Prejuízo econômico: impacto no PIB, empresas que dependem de contratos federais e adiamento na divulgação de dados econômicos.

Funcionários federais: milhares ficam em licença sem remuneração imediata; outros trabalham sem receber até o fim da paralisação.

Como termina um shutdown?

Para encerrar a paralisação, o Congresso precisa aprovar um novo orçamento ou uma medida temporária que restabeleça os recursos, com sanção do presidente. Assim, os serviços suspensos voltam gradualmente ao funcionamento normal.

O último shutdown nos Estados Unidos ocorreu entre 22 de dezembro de 2018 e 25 de janeiro de 2019, também durante o governo Trump, e foi o mais longo da história do país, totalizando 35 dias.

A paralisação aconteceu após o impasse no Congresso em torno do financiamento do muro na fronteira com o México e afetou centenas de milhares de servidores públicos, além de gerar prejuízos bilionários para a economia americana.

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