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Setor de ônibus obtém crédito para nova frota, mas enfrenta déficit de R$ 90 milhões
Economia

Setor de ônibus obtém crédito para nova frota, mas enfrenta déficit de R$ 90 milhões

|Fortaleza| Valor deficitário foi calculado de janeiro a julho deste ano e já ultrapassa os R$ 77 milhões registrados no ano passado, segundo Sindiônibus
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RENOVAÇÃO da frota de ônibus está nos planos, mas negociação de subsídios é prioridade (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS RENOVAÇÃO da frota de ônibus está nos planos, mas negociação de subsídios é prioridade

Quatro empresas que atuam no transporte público de Fortaleza receberam liberação para ter acesso ao crédito, no total de R$ 83.885.000, para renovação de frota por meio do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal, gerido pelo Ministério das Cidades.

Porém, Dimas Barreira, presidente do Sindicato das Empresas de Ônibus do Ceará (Sindiônibus) diz que, com déficit contratual de R$ 90 milhões de janeiro a julho deste ano, a compra de novos veículos ainda não entra nos planos. Outras companhias se inscreveram no PAC, mas ainda não foram contempladas.

Atualmente, a população lida com equipamentos rodando na Cidade com quase 11 anos, da Siará Grande. O de menor idade média é a Viação Fortaleza, com pouco menos de 5 anos. São cerca de 520 mil pessoas atendidas em um dia útil na Cidade, para se ter ideia do movimento em veículos tão antigos.

“Temos que sentir a segurança dos movimentos, para o próximo ano, para saber o quanto a gente realmente consegue usar desse crédito”, diz, ao falar sobre o recorde de prejuízo no setor, que antes findar o ano já tem valor que ultrapassa o déficit do fechamento de 2022 (R$ 39 milhões) e 2024 (R$ 77 milhões) e quase chega ao de 2023 (R$ 95 milhões).

Dos mais de R$ 83 milhões pelo PAC, a São José, empresa de Dimas, tem acesso a R$ 18.050.000; a Aliança a R$ 21.375.000, a Maraponga a R$ 10.260.000 e a Vega a R$ 34.200.000.

O financiamento é por meio do Banco Mercedes-Benz, cujo aporte de R$ 178 milhões já foi utilizado na primeira etapa do programa de renovação de frota brasileiro. Serão mais R$ 168,9 milhões nacionalmente.

Conforme Dimas, o volume da troca de veículos também está no bojo da crise dos transportes públicos de Fortaleza, que, segundo ele, iniciou em 2025, sem apontar um culpado. “Antigamente, a gente renovava cerca de 250 ônibus por ano, em alguns anos até mais”, detalhou. No ano passado, foram 74 e, neste ano, 79.

Em relação à previsão de renovar, o presidente do sindicato estima fim do primeiro semestre de 2026 para começarem a rodar. De todo modo, como frisa depender das negociações por subsídio com a Prefeitura de Fortaleza, há de se contabilizar o prazo para receber um ônibus novo.

Ele estima três meses para sair o chassi, sendo mais dois meses para sair a encarroçadora (estrutura) pronta para o uso dos carros no sistema de transporte.

Se vai utilizar o financiamento ao qual teve acesso, Dimas cita que a São José, no melhor dos cenários, deve utilizar metade do recurso, comprando cerca de 10 veículos, cada um no valor de R$ 1 milhão, de modelo Euro 6.

Estes, ainda a diesel, cumprem norma de emissões rigorosa para a redução de poluentes, como óxidos de nitrogênio (NOx) e partículas.

Por enquanto, o pleito é conseguir aumento do subsídio dos R$ 16 milhões repassados atualmente pela Prefeitura para ônibus e topics, sendo R$ 14 milhões mensais para o Sindiônibus, para entre R$ 22 milhões a R$ 24 milhões.

Isso, segundo o empresário, estabilizaria o setor e evitaria também pensar em ir pelo caminho de negociar aumento de passagens. Conforme o Sindiônibus, o custo total do sistema, sem contabilizar o que recebem do Poder Público ou o que os usuários pagam, é da ordem de R$ 60 milhões mensais.

Empresários e Prefeitura decidem apenas em novembro

Questionado se pode garantir à população que não vai ter nova redução de frota repentina, o empresário e presidente do Sindiônibus, Dimas Barreira, disse que não tem como fazer afirmações diante da situação deficitária. Prefere partir para o diálogo, que finaliza em novembro, mas frisa que não é uma medida a tomar de pronto.

"Não quero causar nenhuma sensação de apreensão, nenhum pânico. Nunca foi falta de diálogo, nem pessoal com o prefeito Evandro (Leitão-PT), nem problema desta ou específica de outras gestões. É questão de recurso. Ele paga o que tem."

Ainda elogia a iniciativa do Governo Federal de buscar tarifa zero nacionalmente e estima que os custos somente para garantir na Capital cheguem perto de R$ 100 milhões. Dimas diz que a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) tem se reunido com o Executivo federal a fim de caminhar para uma solução e que não é contra a medida. Mas ainda falta a garantia de recursos.

Procurada para falar de resolução para um pleito das operadoras de ônibus de receber subsídio de cerca de R$ 24 milhões mês, a Prefeitura de Fortaleza, por meio da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), informa que o período previsto para a revisão tarifária é, por meio de contrato, para novembro.

"A atual gestão está regularmente cumprindo com os pagamentos previstos para o subsídio mensal, que é de R$ 16 milhões (entre ônibus e topics). A Prefeitura de Fortaleza está em diálogo constante com as empresas operadoras para garantir a plena oferta do serviço, priorizando o atendimento à população e a regularidade da operação."

Entenda o programa

O eixo de Renovação de Frota do Novo PAC contempla ações nos setores público e privado.

Por meio de apoio do Ministério das Cidades, a iniciativa foca em maior eficiência energética, além da redução de emissões de gases poluentes e a melhoria da qualidade dos serviços de transporte.

Tecnologias limpas, como ônibus elétricos e veículos com motor Euro 6, têm sido prioridade.

Ao todo, desde 2023, foram selecionados recursos da ordem de R$ 13 bilhões nas renovações de frota dos setores públicos e privados, destinados à aquisição de 8.211 ônibus novos em 152 cidades, de 23 estados.

O setor público foi contemplado com R$ 10,6 bilhões em investimentos, por seleção do PAC, em 2024. Esses recursos representam 2.296 ônibus elétricos, 3.015 ônibus com tecnologia Euro 6 e 39 veículos sobre trilhos (VLTs).

Para o setor privado, foram selecionadas propostas que totalizam R$ 2,4 bilhão, também com foco na substituição da frota por veículos menos poluentes. Do total, foram aprovadas as aquisições de 2.839 ônibus com motor Euro 6 e 61 ônibus elétricos.

Em 2025, o Ministério das Cidades abriu uma nova rodada de seleção de propostas do Novo PAC, com a disponibilização de mais R$ 4,4 bilhões para a renovação da frota, contemplando novamente os setores público e privado. As propostas do setor privado são enquadradas segundo os critérios estabelecidos na portaria de seleção do programa, com especial atenção à promoção de soluções sustentáveis e acessíveis.

 

Motores

Os motores Euro 6, embora ainda movidos a diesel, transformam ou retêm até 85% dos poluentes antes de sua liberação na atmosfera

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