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Nordeste quer liderar economia verde com powershoring
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Nordeste quer liderar economia verde com powershoring

BNB e BNDES lideram ações de financiamento e infraestrutura para aproximar indústrias das fontes renováveis. Transnordestina é vista como peça estratégica nessa integração
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Diretor de Ativos de Terceiros do BNB, Antônio Jorge Pontes, governador do Piauí, Rafael Fonteles, diretor de Planejamento do BNB, Aldemir Freire e diretor de Controle e Risco do BNB, Leonardo Cruz (Foto: Fernando Cavalcante)
Foto: Fernando Cavalcante Diretor de Ativos de Terceiros do BNB, Antônio Jorge Pontes, governador do Piauí, Rafael Fonteles, diretor de Planejamento do BNB, Aldemir Freire e diretor de Controle e Risco do BNB, Leonardo Cruz

O Nordeste quer transformar sua força em energia limpa em uma nova estratégia de desenvolvimento econômico. Bancos públicos e governos estaduais discutem formas de usar o potencial eólico e solar da região como base para atrair indústrias e cadeias produtivas — movimento conhecido como powershoring, que propõe instalar fábricas próximas às fontes de energia renovável.

O tema foi destaque de um seminário realizado nesta semana na sede do Banco do Nordeste (BNB), em Fortaleza, que reuniu representantes do BNDES, do Consórcio Nordeste e de governos estaduais. No encontro, as instituições detalharam os eixos que devem sustentar essa transição: novas linhas de transmissão, sistemas de armazenamento, logística integrada e diversificação das fontes de financiamento.

Banco do Nordeste mira transmissão e armazenamento de energia

Diretor de Planejamento do BNB, Aldemir Freire afirmou que o banco, principal agente financeiro do setor de energias renováveis na região, agora amplia o foco além da geração de energia solar e eólica. “Estamos concentrando esforços em três frentes: transmissão, armazenamento e biocombustíveis”, disse.

Para ele, a prioridade imediata é fortalecer a rede elétrica, com novas linhas e subestações entre os estados, para garantir o escoamento da energia produzida no Nordeste.

A segunda aposta é no armazenamento: sistemas próximos aos parques eólicos e solares que permitam guardar o excedente gerado durante o dia para uso à noite.

A terceira frente envolve os biocombustíveis, como etanol de cana e de milho e biogás, vistos como alternativas para reduzir a dependência de combustíveis fósseis.

De 2018 até agora, o BNB já financiou cerca de R$ 43 bilhões em projetos de energia elétrica, uma média anual de R$ 7 a R$ 8 bilhões. Ao somar os investimentos em infraestrutura, como logística e saneamento, o volume chega a R$ 13 bilhões por ano.

Freire explicou que, além do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), o banco busca novas fontes de recursos junto a instituições como BNDES, Finep, BID, Banco Mundial e Agência Francesa de Desenvolvimento.

Financiamento internacional reforça rede de transmissão

Essa diversificação já começa a se materializar. O BNB anunciou recentemente um novo aporte de US$ 67 milhões para financiar projetos de transmissão e distribuição de energias renováveis, em parceria com organismos internacionais. A operação amplia a capacidade de escoamento da energia limpa gerada na região e fortalece a infraestrutura de integração com o restante do País.

Energia limpa como base para reindustrialização

O BNDES, maior financiador de energias renováveis do mundo, segundo Leonardo Pereira, head da Plataforma BIP do banco, também enxerga no powershoring uma oportunidade para reindustrializar o Nordeste com base na sustentabilidade.

“O Nordeste já está credenciado para ocupar esse papel global. É aqui que a energia limpa está sendo gerada”, afirmou Leonardo.

Ele destacou que o conceito depende de duas condições básicas: infraestrutura energética e logística. Isso inclui não apenas mais linhas de transmissão, mas também rodovias, ferrovias e portos capazes de escoar produtos verdes e reduzir custos de transporte.

Para Pereira, o desafio é financeiro: equilibrar a rentabilidade esperada pelas empresas e o risco assumido pelo mercado. Ele defende instrumentos econômicos que estimulem a demanda por produtos sustentáveis e tornem os investimentos industriais mais atrativos.

Transnordestina entra no mapa da nova economia verde

O Banco do Nordeste projeta impactos significativos da Transnordestina na economia regional, promovendo a integração de cadeias produtivas e o surgimento de novos polos industriais e logísticos no semiárido.
Freire acredita que a operação da linha — que ligará o interior do Piauí e do Ceará aos portos de Pecém e Suape — deve impulsionar o agronegócio e facilitar o transporte de grãos e biocombustíveis.

Além disso, a ferrovia pode atrair indústrias de insumos agrícolas, fertilizantes verdes e mineração, especialmente se acompanhada de investimentos em terminais logísticos e pátios de transbordo.

O governador do Piauí, Rafael Fonteles, afirmou que o prazo de conclusão previsto para 2027 deve ser mantido. Segundo ele, o trecho ligando o Sudeste piauiense ao Porto do Pecém será determinante para o escoamento da produção mineral do estado.

“Será um impacto enorme, principalmente na região Sudeste, que tem grande potencial mineral e ficará conectada a um grande centro consumidor”, disse o governador.

O Piauí também estuda a criação de portos secos em cidades como Paulistana, Curral Novo e Eliseu Martins, e mantém programas de parques empresariais para atrair indústrias ao entorno da ferrovia.

A ferrovia também deve incentivar a criação de portos secos e zonas de transbordo em municípios estratégicos, com estados como Ceará e Piauí já estudando iniciativas nesse sentido. Além disso, o banco reforça sua atuação em infraestrutura e energia, incluindo o aporte de US$ 67 milhões para projetos de transmissão e distribuição de energias renováveis, conforme publicado por O POVO.

BNB vê desaceleração controlada, mas sem risco de recessão

Na avaliação do economista-chefe do BNB, Rogério Sobreira, a economia brasileira passa por uma “desaceleração controlada”, mas sem perspectiva de recessão — especialmente no Nordeste.

“O consumo das famílias sustenta mais a atividade aqui do que no Sudeste, onde o investimento tem peso maior”, explicou.

Sobreira reconheceu que o aumento do custo da energia preocupa o setor produtivo, mas afirmou que as linhas de crédito do banco ajudam a reduzir o impacto sobre a competitividade. Ele também vê no hidrogênio verde uma fronteira tecnológica promissora, capaz de atrair novas indústrias e diversificar a economia regional.

Desafios e próximos passos

Os especialistas apontam três pontos decisivos para que o power shoring se consolide:

  • Expandir a transmissão para garantir o escoamento da energia limpa;
  • Estruturar o financiamento, combinando recursos públicos e privados;
  • Integrar a logística, com ferrovias, portos e terminais conectando os polos de produção.

Enquanto o BNB se movimenta para ampliar crédito e captar recursos externos, o BNDES reforça o papel de articulador na agenda de reindustrialização sustentável. A expectativa é que o avanço da infraestrutura e a queda gradual do custo de capital transformem o Nordeste em um polo de produção e exportação de energia limpa e bens industriais verdes nos próximos anos.

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Desafio

Leonardo Pereira, do BNDES, diz que o desafio é equilibrar a rentabilidade esperada pelas empresas e o risco assumido pelo mercado. Por isso, defende instrumentos econômicos que estimulem a demanda por produtos sustentáveis e tornem os investimentos industriais mais atrativos

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