A reunião entre os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e dos Estados Unidos, Donald Trump, realizada no domingo, 26, em Kuala Lumpur, na Malásia, trouxe otimismo, em maior ou menor grau, para representantes de setores no Ceará ouvidos por O POVO sobre o fim do tarifaço de 50% imposto pelo norte-americano aos produtos brasileiros em agosto.
Ontem, o presidente Lula disse que após o encontro os dois países alcançarão o fim do impasse sobre a disputa comercial.
"Foi surpreendentemente boa a reunião que tive com o presidente Trump. Se depender de Trump e de mim, haverá acordo" entre os dois países, assegurou Lula. "Estou convencido de que em poucos dias teremos uma solução definitiva entre Estados Unidos e Brasil para que a vida continue boa e alegre", declarou Lula.
Já o vice-presidente Geraldo Alckmin defendeu que o mais importante na conversa entre os dois líderes foi a "reaproximação política" entre os dois. Isso, segundo Alckmin, viabilizará a discussão sobre questões técnicas a partir de agora. O discurso do governo tem sido no sentido de comemorar o diálogo entre Lula e Trump, enquanto a oposição critica o fato de o Brasil não ter saído da conversa com nenhum gesto concreto por parte dos norte-americanos em relação ao tarifaço.
A gerente do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Karina Frota, disse que “a expectativa, considerando o médio prazo, é que os dois países continuem a negociação bilateral através de suas equipes econômicas. Brasil e Estados Unidos são parceiros comerciais com longa história e tradicionalmente apresentam intercâmbio relevante. Foi um primeiro passo importante economicamente para as duas nações,”.
Ela citou também um estudo que aponta os efeitos do tarifaço no Ceará. “O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre) fez uma análise recente sobre os dois meses do tarifaço, incluindo os impactos regionais e suas assimetrias”, explica Karina. “O resumo, com foco no Ceará, ressalta de forma positiva a performance do Estado como um dos poucos estados que apresentaram resiliência e crescimento em suas exportações para os EUA no período analisado”, acrescenta.
Para o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), Amílcar Silveira, o encontro era uma expectativa do setor. “Graças a Deus, aconteceu! Espero que fiquem de fora, questões ideológicas e se foque em negócio mesmo. Gerou uma boa expectativa. Eu acho que vai se chegar a um entendimento. Os próprios Estados Unidos vão liberar essas tarifas, porque não nos interessa do jeito que está imposto e não interessa para os americanos também”, ponderou.
Ele também citou os principais segmentos impactados até aqui e citou o apoio governamental para minimizar impactos. “Os setores mais prejudicados são o de pescado, a castanha de caju e a água de coco. O governador tem agido corretamente. Ele tem ajudado alguns setores. Mas o correto mesmo é diminuir essas tarifas, é voltar ao normal. Eu acho que esse encontro do presidente Lula com o Trump é muito positivo”, ressaltou.
Amílcar fez menção ainda a dois segmentos com maior potencial de impacto, caso o tarifaço siga em vigor por um período prolongado. “Tem produtos, como a castanha, em que nós estamos na safra, quer dizer, se a gente não resolver logo, até dezembro, vamos ser impactados para o ano que vem. Já para o peixe vermelho, o mercado americano representava, para as nossas exportações, 36% em 2024 este ano já estava em 51%”, exemplificou. (Com Agências)
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Pescado e calçados também demonstram confiança
No setor de pescados, o diretor do Sindicato das Indústrias de Frio e Pesca do Ceará (Sindfrio), Paulo Gonçalves, disse estar com uma expectativa muito boa em relação ao encontro entre Lula e Trump, mas ressaltou a necessidade de uma solução rápida.
"Esperamos que isso se resolva antes de dezembro. Então, a expectativa é de que, se não zerar a tarifa de risco político, que, pelo menos, ela caia bastante, para que a gente fique um pouco mais competitivo", pontuou.
Gonçalves também destacou a dificuldade de se competir por outros mercados. "Para nós, o mercado americano e o europeu são mais tranquilos do que irmos para o mercado asiático, porque aí nós vamos concorrer com um produto que eles já consomem lá, que é muito parecido com o nosso", explicou. Para se ter uma ideia, 51% do peixe vermelho brasileiro exportado já estava sendo comercializado para os Estados Unidos.
Já a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) disse enxergar com bons olhos os avanços nas negociações entre os dois países. "No entanto, temos um otimismo comedido neste momento, esperando que medidas concretas sejam tomadas nos próximos dias", afirma a entidade em nota.
O CEO da JM Negócios Internacionais, Augusto Fernandes, adota cautela em razão do Ceará ser um dos estados mais afetados pelo tarifaço. "O Ceará continua sendo um dos estados mais prejudicados, especialmente pelo impacto sobre o pescado, as frutas e o mel, produtos que enviamos para os Estados Unidos", listou.
"Ainda não há detalhes concretos sobre o que foi negociado, mas o setor produtivo está otimista de que a situação se resolva ainda este ano, porque toda a cadeia de exportadores, prestadores de serviço e a comunidade portuária, sai ganhando com a revogação desse tarifaço", afirmou. (Colaborou Mariah Salvatore/Especial para O POVO)
Análise sobre o encontro Trump e Lula
O encontro entre Lula e Trump na Malásia abriu uma janela de oportunidade concreta, mas também revelou um jogo diplomático complexo.
Enquanto o presidente brasileiro falou em "garantia" de um acordo comercial com os Estados Unidos, Trump preferiu manter um tom mais contido, resumido no seu característico "vamos ver". Essa diferença de postura, indica que há um intervalo claro entre o entusiasmo e a realidade das negociações.
Claramente, o que começa a se desenhar é um processo de reaproximação estratégica. O Brasil busca aliviar o impacto das tarifas impostas pelos EUA sobre produtos-chave, e Trump, fiel à lógica transacional que o define, deve usar essa vulnerabilidade como alavanca de negociação.
É provável que a contrapartida americana envolva mais do que questões comerciais: pode incluir abertura de mercado e até gestos de alinhamento político em pautas regionais. Em outras palavras, o tabuleiro não se mostra apenas econômico, se mostra também geopolítico.
Neste contexto, acredito que há espaço para avanços práticos, como uma suspensão temporária ou redução parcial das tarifas. No entanto, qualquer concessão virá acompanhada de condições e o sucesso dependerá da capacidade do governo brasileiro de equilibrar pragmatismo e soberania.
O otimismo é importante para manter o ritmo, mas o pragmatismo será o verdadeiro diferencial.
Bolsa bate recorde e dólar cai para R$ 5,37
O mercado financeiro teve um dia de alívio no dia seguinte ao encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump. O dólar caiu para o menor nível em quase três semanas, e a bolsa de valores renovou o recorde histórico.
O índice Ibovespa, da B3, encerrou ontem aos 147.969 pontos, com alta de 0,55%. O indicador, que acumulava queda em outubro, agora sobe 0,5% no mês.
O mercado de câmbio teve um dia favorável. O dólar comercial fechou o dia vendido a R$ 5,37, com recuo de R$ 0,224 (-0,42%). A cotação operou em queda durante toda a sessão. Na mínima do dia, por volta das 10h15, chegou a R$ 5,36.
A moeda estadunidense está no menor valor desde 8 de outubro. A divisa acumula alta de 0,88% em outubro, mas cai 13,11% em 2025.
Tanto fatores internos como externos trouxeram alívio para o mercado. No cenário internacional, a reunião entre Lula e Trump reduziu as tensões sobre o Brasil. Além disso, o índice S&P 500 (das 500 maiores empresas estadunidenses) também bateu recorde nesta segunda.
Paralelamente, a reabertura de negociações entre os Estados Unidos e a China, anunciada por Trump, ajudou a elevar o preço das commodities. Um encontro entre Trump e o presidente chinês, Xi Jinping, está previsto para o dia 30.(Agência Brasil)
Meta
Prioridade do governo é tirar os 40% de sobretaxa imposta pelos Estados Unidos para setores do agronegócio e da indústria