O Brasil reúne condições para um desempenho econômico positivo em 2026, mesmo diante das incertezas externas e do ambiente eleitoral. A avaliação é do economista Luiz Paulo Rosenberg, PhD em Economia, que apresentou nesta segunda-feira, dia 3, a palestra "Conjuntura econômica em ano de eleição", na sede da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec).
O evento, promovido pela Academia Cearense de Economia (ACE), reuniu representantes do setor produtivo e especialistas para analisar os possíveis cenários do país em 2026.
Ao avaliar o desempenho recente da economia brasileira, ele afirmou que o país encerra o ano com indicadores mais positivos do que o debate eleitoral sugere.
"A inflação se encontra sob controle, o mercado de trabalho apresenta equilíbrio saudável e as contas externas exibem robustez, com reservas adequadas para enfrentar oscilações internacionais. O ambiente eleitoral de 2026 deve intensificar disputas por narrativas. De um lado, o governo tende a destacar resultados econômicos; de outro, a oposição deverá buscar pautas alternativas para equilibrar o debate", afirmou.
Mais cedo, em entrevista ao quadro Guia Econômico, da rádio O POVO CBN, Rosenberg, cuja trajetória inclui passagens pelo Ministério do Planejamento, Banco Central, instituições acadêmicas no Brasil e no exterior, ressaltou que a percepção sobre a economia brasileira tem melhorado, mas algumas incertezas ainda estão pelo caminho.
Dentre estas, os próximos passos do presidente americano, Donald Trump. "As incertezas? Uma delas é o tamanho da encrenca que os Estados Unidos vão armar para a gente. Mas, se a gente perceber, é como um corretor de imóveis: ele diz que está vendendo por 140 para você comprar por 120 e achar barato, quando, na verdade, ele venderia por 100. Se o “tarifaço” deles não provocar um desaquecimento, esse perigo está contornado".
Ele pondera, no entanto, que, pelo menos até o momento, a forma como o governo brasileiro conduziu a crise causada pela tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros têm favorecido a figura do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.
"Politicamente, há três ou quatro meses, o presidente estava em queda livre. A gente discutia quem seria o próximo presidente entre os governadores liberais — Zema (Romeu Zema, de MG); Tarcísio (Tarcísio de Freitas, de SP), ou até o gaúcho (Eduardo Leite, do RS), que é muito bom. Agora, o cenário já virou, graças ao Trump. Primeiro despertando o nacionalismo e, agora, a sensação de que o Brasil “enquadrou” os Estados Unidos, que devem recuar na agressividade", afirmou.
Um desfecho para a negociação entre os dois países, por enquanto, ainda é imprevisível, avalia o economista. "Mas posso garantir o seguinte: o tarifaço tem um efeito inflacionário nos Estados Unidos, porque aumenta o custo de compra do americano. Para o Brasil, o impacto é mais recessivo, porque o mercado que costumava comprar da gente, pode deixar de comprar. Se encontrarmos outros compradores, ótimo. Mas se perdermos o cliente americano e, não houver substituto, o efeito será recessivo. Mesmo assim, estamos em posição tranquila."
Sobre os juros, Rosenberg afirmou que há margem para redução da taxa Selic, ainda que de forma cautelosa. Ele comparou a prudência do Banco Central à de “uma família que teme uma recaída”, após um período de instabilidade.
"Se você consultasse dez economistas e perguntasse se manteriam a taxa, todos diriam: vamos esperar mais um pouco. Então, talvez na próxima reunião o juro ainda não caia. Mas manter juro alto demais também não faz bem — é como um remédio que, em excesso, intoxica o corpo", afirmou.
O economista projeta que o Brasil deve encerrar o ano com inflação dentro da meta e crescimento em torno de 2% em 2026, desde que não haja choques externos. "Sem crise externa, num ano eleitoral, será um cenário difícil — mas positivo".
Questionado sobre a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil e a taxação das altas rendas, Rosenberg avaliou que há espaço político e econômico para a proposta.
“Aprovar a isenção até R$ 5 mil é fácil politicamente. Já aumentar a tributação sobre altas rendas é um movimento mais sensível, mas há espaço. O Brasil está entre os países com maior desigualdade tributária do mundo”, observou.
Ele destacou que o tema deve ganhar relevância no debate eleitoral de 2026, uma vez que as mudanças tributárias têm efeitos políticos diretos.
No evento, o vice-presidente da Fiec, André Montenegro, destacou o quanto encontros como este contribuem para ampliar o entendimento do setor industrial sobre a dinâmica econômica.
"Temos conseguido aproximar especialistas e lideranças ao estimular conversas que ampliam repertórios e inspiram práticas inovadoras. Recentemente fizemos uma missão internacional em Hong Kong e algumas visitas técnicas a escolas politécnicas evidenciaram a importância de garantir oportunidades iguais desde a formação escolar para impulsionar países que desejam crescer de maneira sustentável", relatou.
O presidente da Academia Cearense de Economia, Sérgio Melo, contextualizou que o Brasil vive um período de transição que não se limita ao cenário nacional, já que diversos países enfrentam movimentos semelhantes.
"O momento pré-eleitoral exige atenção tanto para as possibilidades de continuidade das políticas atuais quanto para a chance de mudanças significativas caso outro projeto de governo seja eleito. Discutir cenários, riscos e oportunidades se torna indispensável para orientar decisões em um ambiente em que visões distintas sobre desenvolvimento e gestão econômica podem ganhar protagonismo no curto prazo", explicou.