Logo O POVO+
Governo Lula sanciona MP do Setor Elétrico e avança em abertura de mercado livre
Comentar
Economia

Governo Lula sanciona MP do Setor Elétrico e avança em abertura de mercado livre

| COM 16 VETOS | Pontos essenciais são mantidos. Medida prevê que todos os consumidores escolham seu fornecedor de energia a partir de 2028
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Comentar
Nova legislação também estabelece diretrizes para a geração distribuída (Foto: JÚLIO CAESAR)
Foto: JÚLIO CAESAR Nova legislação também estabelece diretrizes para a geração distribuída

O presidente em exercício, Geraldo Alckmin, sancionou ontem a Medida Provisória 1.304/2025, que promove a reforma do setor elétrico brasileiro.

O texto, publicado no Diário Oficial da União, foi aprovado pelo Congresso em 30 de outubro, no limite do prazo, mas chegou à sanção presidencial com alterações. Ao todo, 16 trechos foram vetados. O Congresso ainda vai analisar os vetos, podendo mantê-los ou derrubá-los.

Apesar dos vetos, os pontos essenciais da reforma foram mantidos. A MP prevê a abertura gradual do mercado de energia, permitindo que todos os consumidores escolham seu fornecedor a partir de 2028.

Para indústrias e comércios, a mudança passa a valer já em 2027. A expectativa é estimular a competição e possibilitar contratação de energia com preços mais vantajosos.

Entre os pontos derrubados está o dispositivo que previa ressarcimento automático a usinas eólicas e solares em situações de curtailment, que são cortes forçados de geração decorrentes de limitações externas às plantas de energia.

Na avaliação do governo, a medida acabaria repassando aos consumidores os custos dos reembolsos. O Planalto também citou o risco de criação de incentivos à sobreoferta de energia.

Outro veto atingiu a mudança no cálculo do preço de referência do petróleo, que passaria a considerar cotações internacionais para fins de tributação. Embora o Congresso estimasse aumento de arrecadação com a medida, o governo argumentou que a alteração geraria insegurança jurídica, abriria margem para judicialização e poderia prejudicar investimentos em curso no setor de óleo e gás.

Alckmin destacou que as cotações externas não refletem as características do petróleo produzido no País, o que poderia tornar imprevisível a receita governamental.

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, comemorou a sanção da nova lei. “Após 20 anos de espera, conseguimos construir no Congresso Nacional um avanço histórico com as medidas provisórias 1.300 e 1.304. Trabalhamos em três frentes: justiça tarifária, abertura de mercado e equilíbrio do sistema”, elencou.

“Instituímos pela primeira vez um teto para a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), algo que muitos consideravam impossível e que coloca freio no crescimento dos subsídios que pesavam na conta dos brasileiros", prosseguiu o ministro.

Já o presidente da Energo Engenharia e Consultoria, Adão Linhares, ressaltou que a parte da geração distribuída foi aprovada sem “nenhum dano”. Ele prossegue afirmando que “os vetos dizem respeito a situações que eram extrapoladas sob o ponto de vista de aumento do custo ao consumidor”

Ele também destacou, entre os pontos mais importantes da decisão do governo, o veto do ressarcimento do curtailment de forma ampla, mantendo a compensação parcial. “Então, foi mantida só a parte realmente que seria culpa da impossibilidade do sistema de absorver aquela energia do curtailment”, pontuou.

Linhares citou, ainda, a questão da adicionalidade que se dá à autoprodução. “O próprio Ministério de Minas e Energia tinha recomendado que tivesse essa adicionalidade. Isso significa que qualquer autoprodução — ou seja, geração própria — teria que ser um parque novo, ou seja, eu não poderia fazer autoprodução em um parque já em operação”, explicou.

“Se eu estou com curtailment e quero fazer uma autoprodução para reduzir o meu prejuízo de curtailment no impacto que já existe, eu não poderia; só poderia fazer autoprodução se eu começasse a construir um parque novo. Isso também foi vetado”, complementou.

Tenha acesso a mais conteúdo em nossos canais!

Mais notícias de Economia

Usina de Energia Eólica (UEE) em Icaraí, no Ceará (CE)
Usina de Energia Eólica (UEE) em Icaraí, no Ceará (CE)

Entidade aponta impacto na inflação e perda de competitividade

Entidade representante de 70 associações e federações industriais, o União Pela Energia publicou nota em que diz considerar relevantes os vetos do governo Lula a trechos da MP 1.304, mas expressa preocupação com impactos econômicos do texto sancionado.

Segundo a entidade, “permanecem comandos que criam novos custos que certamente irão repercutir na inflação e no preço dos produtos e serviços para o consumidor final”. O texto prossegue afirmando que “novamente, a competitividade da indústria nacional sai perdendo e o país desperdiça mais uma oportunidade de fazer da energia um diferencial de avanço e desenvolvimento”.

Entre os pontos elencados pelo União Pela Energia, está o dos curtailments. “Em vez de ser enfrentado tende a se intensificar diante das novas contratações compulsórias contidas no texto sancionado. A indústria não concorda com reservas de mercado e direcionamentos para fontes específicas. Contratações obrigatórias e sinais econômicos equivocados levam a ineficiências e perpetuam atrasos”, argumenta na nota.

O texto termina defendendo “o engajamento de todos os agentes do setor elétrico e da sociedade na defesa de uma transição energética que seja justa e verdadeiramente sustentável, capaz de reduzir o custo de vida no País e contribuir para a geração de empregos e renda, além de fortalecer a indústria e aliviar o orçamento das famílias”.

Tenha acesso a mais conteúdo em nossos canais!

Mais notícias de Economia

Linhas de transmissão de energia, energia elétrica
Linhas de transmissão de energia, energia elétrica

Comercializadores de energia veem avanços com nova lei

A Associação dos Comercializadores de Energia (Abraceel), por sua vez, divulgou nota em que comemora a sanção da lei que estabelece o marco regulatório do setor elétrico.

Entre os pontos destacados pela Abraceel, “está o cronograma em duas fases para que todos os consumidores de energia possam usufruir do direito de escolher o fornecedor de eletricidade, bem como as características desse fornecimento”.

A associação lembra que “esse cronograma prevê o direito de migrar para o mercado livre de energia elétrica em até 24 meses para consumidores industriais e comerciais e em até 36 meses para os demais consumidores, incluindo residenciais”.

Conforme a Abraceel, a lei aprovada “é um marco histórico no setor elétrico brasileiro pois promove justiça social e equidade em direitos entre os consumidores e oferece alternativas para a redução do valor da conta de energia elétrica”.

“O Brasil, que foi pioneiro em iniciar o movimento de oferecer o direito de escolha aos consumidores de energia em 1995, quando sancionou a Lei 9.074, passará a integrar em pouco tempo o grupo de nações em que todos têm direito de comprar no mercado livre de energia elétrica”, conclui a Abraceel em nota.

Tenha acesso a mais conteúdo em nossos canais!

Mais notícias de Economia

Principais pontos da lei

1. A Aneel terá autonomia para regular a divisão dos custos da reserva de capacidade e o acesso às redes de transmissão e distribuição. O teto das multas administrativas cai de 4% para 3%.

2. O texto regulamenta o uso de sistemas de armazenamento em baterias e prevê licitações específicas, com incentivos fiscais limitados

3. A CDE que banca subsídios do setor, terá limite a partir de 2027. Se o valor for ultrapassado, a diferença será bancada pelo ECR, pago pelos beneficiários do excesso.

4. Na geração distribuída (GD), fica mantida a cobrança sobre a energia compensada, com valor de R$ 20 a cada 100 kWh em novos projetos até 2028. Microgeradores de até 75 kW ficam isentos.

5. A migração de consumidores de baixa tensão para o mercado livre será feita em etapas, entre 24 meses, para indústria e comércio, e 36 meses para residências.

6. O MME poderá firmar contratos de transporte e escoamento de gás natural e o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) ganhará poder sobre regras de acesso ao sistema de gás.

7. Será retomada parte da obrigação de contratar termelétricas a gás, reduzindo a exigência para 4.250 MW, com leilões regionais e contratos de 20 anos.

O que você achou desse conteúdo?