A assinatura do acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul foi adiada para janeiro, anunciou nesta quinta-feira, dia 18, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, durante uma cúpula em Bruxelas, onde milhares de agricultores protestaram em rejeição ao tratado.
Com esse acordo, os europeus poderiam exportar produtos como veículos e maquinário aos países do Mercosul: Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
Em troca, facilitariam a entrada nos países do bloco de carne, arroz, mel e soja sul-americanos, considerados mais competitivos devido a suas normas de produção, o que os agricultores europeus veem com temor.
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O presidente Lula abriu o caminho para esse adiamento horas antes, após conversar por telefone com a chefe de governo italiana, Giorgia Meloni.
Segundo ele, Meloni lhe pediu "paciência", assegurando que a Itália acabaria apoiando o tratado.
Este prazo adicional representa um revés para a Comissão Europeia, Alemanha, Espanha e os países nórdicos, que queriam que o acordo fosse assinado nos próximos dias.
Ursula von der Leyen esperava assinar o tratado no próximo sábado durante uma cúpula do Mercosul em Foz do Iguaçu (PR). Mas, para isso, precisava do aval de uma maioria qualificada dos Estados-membros da União Europeia reunidos em Bruxelas, que não obteve, sobretudo, pela oposição de França e Itália.
Por fim, informou aos líderes dos 27 países do bloco, reunidos em uma cúpula, que a assinatura foi adiada para janeiro, segundo indicaram fontes diplomáticas. Contudo, por ora, não antecipou nenhuma data concreta.
Nesta quinta-feira, em Bruxelas, à margem da cúpula de chefes de Estado e de governo da União Europeia, milhares de agricultores manifestaram sua revolta.
Os protestos deixaram um panorama de pneus incendiados, batatas e projéteis arremessados, jatos d'água e bombas de gás lacrimogêneo lançados pela polícia. A situação ficou especialmente tensa nas imediações das instituições europeias, protegidas por um importante dispositivo policial.
Segundo a polícia de Bruxelas, 7.300 pessoas com cerca de 50 tratores participaram do protesto autorizado, durante o qual praticamente não houve tumulto.
Mas outros 950 tratores chegaram ao bairro europeu, bloqueando várias ruas.
Os agricultores protestavam contra diversos temas, não só contra o acordo UE-Mercosul, mas também contra as taxas sobre os fertilizantes e a reforma da política agrícola comum (PAC) da UE, explicaram alguns participantes à AFP.
Florence Pellissier, uma agricultora francesa, denunciou a "concorrência desleal" de produtos importados tratados com substâncias proibidas na Europa.
"Estamos aqui para dizer não ao Mercosul", declarou à AFP o pecuarista belga Maxime Mabille. "É como se a Europa tivesse se tornado uma ditadura", acrescentou, ao acusar a presidente da Comissão Europeia de tentar "impor o acordo à força".
Von der Leyen se reuniu esta manhã com uma delegação da Copa-Cogeca, a principal organização agrícola europeia, e no final da reunião assegurou, em uma mensagem transmitida na rede X, que "a Europa estará sempre ao seu lado".
A Copa-Cogeca reivindicou 10.000 manifestantes procedentes de vários países, sobretudo da França.
"Nosso fim = sua fome", dizia um cartaz sobre um caixão preto.
Muitos agricultores europeus acusam os países do Mercosul de não acatarem as normas ambientais e sociais que eles são obrigados a cumprir, o que permitiria vender seus produtos mais baratos.
A essas preocupações se soma às da reforma de subvenções da PAC, que a Comissão Europeia busca, segundo eles, "diluir" no orçamento europeu.