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Dois dedos de prosa: Bergson Amaral e o Ceará no mapa mundial da robótica
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Economia

Dois dedos de prosa: Bergson Amaral e o Ceará no mapa mundial da robótica

O professor e técnico Bergson Amaral comenta a experiência de acompanhar equipes do Sesi Ceará na World Robot Olympiad, em Singapura, e os impactos desse resultado para alunos, educadores e para a educação tecnológica no Estado
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O PREFESSOR e técnico Bergson Amaral esteve ao lado de estudantes cearenses na WRO, em Singapura (Foto: Divulgação/Arquivos Pessoais)
Foto: Divulgação/Arquivos Pessoais O PREFESSOR e técnico Bergson Amaral esteve ao lado de estudantes cearenses na WRO, em Singapura

Viajar pelo mundo, criar robôs, competir com estudantes de diferentes países. Para muitas crianças, esse imaginário habita o território do sonho. Mas, foi nesse caminho que o técnico e professor Bergson Amaral acompanhou de perto as equipes do Sesi Ceará rumo a uma competição internacional.

Sob a orientação de Bergson, eles conquistaram medalha de bronze na Olimpíada Mundial de Robótica, a World Robot Olympiad (WRO), realizada em Singapura, uma das principais competições estudantis de tecnologia do mundo.

Representando o Sesi Ceará, a equipe All Might Kids, da categoria Elementary, foi formada por Samuel Dutra, Miguel Mota e Thales Sousa — alunos do 6º ano, com exceção de Thales. Já na categoria Senior, a equipe All Might reuniu os estudantes do ensino médio Ana Larissa Abreu, Nordeste Pereira e João Antônio de Macedo.

O POVO – Quem são esses alunos que levaram o Sesi Ceará até a competição mundial em Singapura?

Bergson Amaral – Eles são estudantes do Sesi. Foi a primeira vez que o Sesi participou da Olimpíada Mundial de Robótica, que é a WRO e foi com essas duas equipes na categoria Future Innovations, Elementar e Sênior.

Dentro dessa categoria tem duas modalidades, a de 9 a 12 anos e a Senior. São crianças e jovens, do Fundamental 1, 2 e Ensino Médio.

O POVO – Quais foram os projetos desenvolvidos pelos alunos do Sesi e como foi o processo de criação na escola?

Bergson Amaral – Cada ano existe um tema e nós precisamos procurar uma problemática para poder desenvolver uma solução. Precisa ser um robô autônomo, em que eles apresentem a proposta. Então tem todas as diretrizes, com 5 minutos de apresentação, 5 minutos de perguntas, são vários juízes de várias expertise passando pelos estandes que eles ficam apresentando.

Os trabalhos dos meninos na categoria Elementary foi o Habtron. Ele procura água em Marte, ou Lua, e onde ele acha, ele instala ambientes infláveis para quando os astronautas chegarem, já tenha um local para eles ficarem.

E dos maiores na cena foi o Amiko, que é um robô em que ele ajuda pessoas, crianças com dificuldade em comunicação. Então autistas não verbais, idosos. Ele funciona através de gestos e toques na tela que gera um relatório para o acompanhante sobre o que ela deve fazer e o que talvez a criança ou aquela pessoa esteja precisando.

O POVO – Na sua avaliação, o que fez essas equipes se destacarem entre mais de 120 participantes de todo o país e também no cenário internacional?

Bergson Amaral – Lá a gente percebeu que o alto nível das equipes foi evidenciado pela importância da metodologia, da documentação, do pensamento sistêmico. Os projetos dos meninos eram consistentes. Eles não apresentavam somente inovação, mas tinham embasamento científico, referências claras, estavam alinhados com os desafios globais, como sustentabilidade, acessibilidade, a própria exploração espacial.

A gente tem o papel de técnico da equipe, de formar estudantes capazes de pensar como pesquisadores e desenvolvedores que sejam protagonistas do seu próprio conhecimento. Eles compreenderam que a inovação deles, que é um projeto deles, envolvia testes, falhas, interações, estudo contínuo, tomada de decisão baseada nos critérios documentais e das diretrizes que a WRO mesmo propõe.

O POVO – Qual é o impacto de inserir robótica e tecnologia desde cedo nas escolas do Ceará?

Bergson Amaral – Olha, a robótica, como eu disse, é uma metodologia ativa e é muito mais do que fazer robôs, é muito mais do que engenharia, programação. A metodologia robótica trabalha primeiramente em equipe, em grupos, no coletivo. Então, além da ciência da computação, que é o que eles aprendem a fazer, o ato de fazer robô, eles aprendem também habilidades do século XXI que é o fator humano.

Então, eles conseguem se socializar, conseguem trabalhar em equipe, entender as diferenças, serem mais resilientes, ter uma comunicação mais efetiva, gerir tempo, ser gestor do seu próprio projeto, entender uma problemática e validar uma solução.

Então, além dos conhecimentos técnicos que estão envolvidos ali, eles ganham ainda mais essas competências que o século XXI precisa.

O POVO – Essa conquista mudou como os alunos se enxergam, como enxergam o futuro ou o próprio lugar que ocupam na ciência e na tecnologia?

Bergson Amaral - Com certeza. Na volta de Singapura, a gente já percebe que a visão muda totalmente do local que eles pertencem. Agora eles pertencem à ciência fez com que eles desbravassem o mundo.

Então, não é só Brasil, ou Fortaleza, ou Ceará em que eles precisam mostrar, mas eles sabem que são capazes de mudar trajetórias, não só da comunidade, mas do mundo, da maneira que eles vivem e atingem de forma global.

Os maiores, que são os da Senior, já estão trabalhando na robótica. Alguns são monitores do próprio Sesi, foram contratados e outros estão indo para a indústria. Os menores, eles já falam que querem seguir e continuar competindo também em outras Olimpíadas e na WRO.

O POVO – O que essa participação internacional revela sobre o Ceará e sobre o potencial dos nossos estudantes no cenário mundial da tecnologia?

Bergson Amaral – É complicado responder essa pergunta, porque eu que participei de competições de robótica já tinha uma visão bem clara do quão potente era a robótica do Sesi e do Brasil. Mas, como a robótica não é só a parte tecnológica do robô, eu tinha muita noção de que os nossos estudantes estavam preparados para poder desenvolver os papéis para chegar no campo mundial.

Então, assim, revelando, mais ainda, o verdadeiro potencial dos estudantes do cenário da tecnologia é porque eles venceram as competências que vão muito além do domínio das ferramentas ou das linguagens de programação.

O POVO – Uma conquista desse esporte que envolve investimento público, tempo e estrutura, traz um retorno de investimento em educação na tecnologia do Estado?

Bergson Amaral – Com certeza. A ideia do SESI Ceará é investir justamente na tecnologia para poder criar estudantes e futuros profissionais que atuem dentro do nosso Estado com essa expertise na tecnologia para ajudar as indústrias. A filosofia realmente é essa, porque o Sesi faz parte das federações da indústria.

É trazer a mais alta tecnologia para que desde cedo, desde a eternidade, eles tenham acesso a essa tecnologia de alto nível para que possam, futuramente, ser os grandes profissionais para aplicar essa tecnologia dentro das indústrias do nosso Estado. 

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