A variação do preço médio do metro quadrado (m²) no Ceará nos últimos 13 anos tem sido quase sempre superior ao da inflação oficial do País, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Somente neste período, foram sete vezes em que isso se repetiu.
Para além da comparação com a inflação, o custo médio para construir o m² de imóveis no Estado mais que dobrou de novembro de 2012 a novembro de 2025.
O indicador utilizado na construção civil é o Sistema Nacional de Preços e Índices para a Construção Civil (Sinapi), que, assim como o IPCA, é medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No acumulado dos últimos 12 meses, por exemplo, o Sinapi apontou variação de 7,45%, enquanto o IPCA ficou em 4,46%.
As únicas exceções no período foram os anos de 2016, quando o Sinapi marcava uma variação de 5,98% ante 6,99% da inflação; 2019, quando a inflação do m² foi de 2,76% ante 3,27% registrado pelo IPCA; além de 2023, quando o Sinapi apontou 2,04% e a inflação geral do Brasil marcou 4,68% em novembro daquele ano.
O período abrange parte de dois momentos críticos da economia brasileira, a crise iniciada em 2015 e a pandemia de Covid-19, mas também o período de recuperação pós-crise sanitária global. Na série histórica iniciada em 2012, vale citar ainda o tempo até 2015, quando o custo médio do m² no Ceará teve variação sempre menor que o IPCA.
Outro fenômeno observado durante o período da série histórica do IBGE, é o peso do material de construção sempre maior que o da mão de obra, embora esse movimento tenha se intensificado a partir da pandemia.
Para se ter uma ideia, o preço médio do m² no Ceará, atualmente, é de R$ 1.786,91, dos quais R$ 1.104,83 são relativos ao componente material e R$ 682,08 à mão de obra. Em 2012, o m² estava em R$ 788,65, enquanto o material estava a R$ 446,17 e a mão de obra a R$ 342,48.
O POVO ouviu especialistas para explicar esses movimentos da construção civil no Estado e suas implicações diretas ou indiretas para o consumidor.
Para o vice-presidente da área imobiliária do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon-CE), Clausens Duarte, o comportamento mais comum no segmento é o de o m² se valorizar mais que a inflação, inclusive observando índices anteriores ao da atual série histórica do IBGE.
“Na realidade, esse comportamento é histórico. A exceção é o contrário. Então, se você observar, alguns índices inflacionários específicos do setor — no caso, o Sinapi e o próprio INCC (sigla para Índice Nacional do Custo da Construção) —, ambos ficam sempre acima da variação do IPCA. E esse ano não é diferente. O IPCA, nos últimos doze meses, está convergindo para o teto da meta e o INCC deve estar convergindo aí para algo em torno de 6,5%”, explica, citando também outro indicador usado como orientador pela indústria da construção civil.
“A construção civil tem um movimento, se você observar e comparar um gráfico da evolução do PIB da construção com o PIB do Brasil, quando o PIB do Brasil cresce, o PIB da construção cresce muito mais forte. E o contrário também é verdadeiro. Ou seja, ela tem um desvio padrão mais forte, ela é mais sensível, digamos assim”, acrescenta Clausens Duarte.
“Então, nesse período aí de 2014 a 2019, foi um período recessivo da economia. O da construção foi muito mais potencializado. Então, como realmente, por questão também de demanda, é natural que nesse período, até pela demanda, os índices inflacionários também tenham sido abaixo”, complementa.
Por sua vez, o presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Wandemberg Almeida, lembrou o impacto da pandemia para o segmento. “Se a gente pegar o ano de 2020, faltaram insumos e isso acabou elevando o preço desses produtos. De 2021 em diante, os preços se mantiveram num patamar alto ou cresceram ainda mais”, pontuou.
“E aí você tem uma demanda no mercado muito grande por novos empreendimentos. Isso também faz a elevação do preço dos produtos disparar. Então tudo isso acaba tendo reflexo negativo nessa questão da inflação da construção civil”, conclui o presidente do Corecon-CE.
Confira os assuntos econômicos no Ceará, no Brasil e no Mundo
Siga o canal de Economia no WhatsApp para ficar bem informado
Entenda
O Sinapi não mede preço da venda. É referência do custo de insumos e serviços. Guia orçamentos de obras públicas e privadas. Pode refletir no valor ao cliente, mas este tem mais variáveis, como localização etc