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Memórias do fogo: "Os que não constroem precisam queimar"
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Memórias do fogo: "Os que não constroem precisam queimar"

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Líder indígena, ambientalista e escritor Ailton Krenak  (Foto: Neto Gonçalves/ Divulgação)
Foto: Neto Gonçalves/ Divulgação Líder indígena, ambientalista e escritor Ailton Krenak

"Qual é o mundo que vocês estão agora empacotando para deixar às gerações futuras?". A provocação do líder indígena e escritor Ailton Krenak é uma parábola dos tempos modernos: 2019 encerra uma sombria década de crise ambiental. Aquecimento global, perda de gelo antártico, aumento do nível do mar, queimadas, desmatamento, poluição do ar, da água e do solo — na era de Trumps a Bolsonaros, as questões ambientais são mais que urgentes: são vitais.

O Brasil recebeu, no último dia 13, o anti-prêmio de Fóssil Colossal — o reconhecimento simbólico da COP25 às nações com pior atuação no campo ambiental. O 2019 brasileiro foi, além de internacionalmente deplorável, facínora. A quantidade de homicídios de indígenas cresceu 20% em relação à 2018, segundo o Conselho Indigenista Missionário. O número de mortes de lideranças originárias também foi o maior em 11 anos. Cada guardião da floresta assassinado nesta perversa lógica de invasões, garimpo e grilagem enterrou também séculos de história das etnias Tukano, Mura, Wajãpi, Apurinã e Guajajara. Em Minas Gerais, a lama de Brumadinho matou o rio Paraopeba e afetou o futuro da aldeia Pataxó Hã-hã-hãe. O crime ambiental cometido pela mineradora Vale em 25 de janeiro deixou rastros de destruição: famílias dos mais de 250 mortos ainda vivem a dor de enterrar fragmentos de seus parentes.

Água salgada e mato padeceram nas mãos do bicho homem. Os primeiros registros das manchas de óleo nas praias do Nordeste já datam quatro meses. Cerca de 530 locais em 111 municípios foram afetados e quase 70% do litoral foi atingido. A Amazônia ardeu em chamas. O bioma perdeu 9,7 mil quilômetros quadrados para as motosserras. Num ato de isenção de responsabilidade, até o ator Leonardo DiCaprio foi acusado pelo presidente brasileiro de financiamento das queimadas.

A juventude, porém, gera novos mundos no ventre deste. Greta Thunberg, ativista sueca de 16 anos eleita a pessoa do ano pela Time, clamou: "Eu quero que vocês estejam em pânico. Quero que vocês ajam como se a casa estivesse pegando fogo, porque está".

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