Logo O POVO+
O POVO 92 anos: jornalismo, verdade, conexão, cultura, história, vanguarda
Especiais

O POVO 92 anos: jornalismo, verdade, conexão, cultura, história, vanguarda

Edição Impressa
Tipo Notícia Por
FORTALEZA, CE, BRASIL, 07-01-2020: Jornais de comemoração dos 92 anos.(Foto: Thais Mesquita/O POVO) (Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita FORTALEZA, CE, BRASIL, 07-01-2020: Jornais de comemoração dos 92 anos.(Foto: Thais Mesquita/O POVO)

Esta edição é para todos nós muito simbólica. Não é apenas uma data que marca os 92 anos de fundação do O POVO. Ela reafirma nosso compromisso quase centenário em retratar a verdade, conectar pessoas, mediar conflitos, sustentar bandeiras, defender nossa cultura e nossa gente. Essa conexão é feita a partir de um exercício cotidiano que leva em consideração a diversidade de opiniões na política, na economia, nos esportes, na agenda dos costumes. Em um mundo conflagrado, é o exercício do jornalismo que possibilita essas costuras e sinaliza caminhos e cenários possíveis.

A dimensão deste olhar está para além de uma data de aniversário. É algo duradouro pois é capaz de se reinventar em várias plataformas de informação. A base delas todas é ter a notícia checada, aferida e avaliada num contexto de responsabilidade. Este é o exercício do jornalismo. É mostrar-se fundamental num momento em que é posto a prova ou desconfianças. Apresentar a verdade é a melhor forma de se contrapor a desqualificação do jornalismo e de seus jornalistas. O POVO é fiador dela e entende ser essa sua missão desde 1928.

Neste nosso aniversário temos artigos e ensaios com recortes de um mundo em mudanças, pois a essência de um veículo de comunicação como o nosso é mostrar quando uma coisa se conecta com a outra - ou onde não se junta. Onde a globalização foi perdendo espaço para xenofobias, intolerâncias e isolacionismos. Ou quando o exercício do trabalho foi se entrelaçando com o mercado digital. E o uso indevido de dados pode determinar vitórias eleitorais antes improváveis ou devassar a privacidade de milhões de pessoas. E quem mostra tudo isso e estimula a reflexão? Ele. O bom e velho jornalismo, que não está em extinção. Ao contrário. É cada vez mais imprescindível para a manutenção dos marcos civilizatórios e democráticos.

Vida longa ao O POVO!

FORTALEZA, CE, BRASIL, 07-01-2020: Jornais de comemoração dos 92 anos.(Foto: Thais Mesquita/O POVO)
FORTALEZA, CE, BRASIL, 07-01-2020: Jornais de comemoração dos 92 anos.(Foto: Thais Mesquita/O POVO)

O POVO 92 anos: a árdua missão de levar razão ao meio da paixão no jornalismo esportivo

por Bruno Formiga

Nunca pensei em ser outra coisa dentro de uma Redação que não fosse jornalista esportivo. Comunicar sempre foi o primeiro verbo na minha vida depois de jogar. Em rádio, jornal, revista, televisão ou Youtube, nunca fiz nada que não falar de futebol. E lá se vão 14 anos — sendo quase sete deles dentro do O POVO.

Nesse tempo já ouvi que somos menos capazes. Ou que fazemos um jornalismo menor, quase entretenimento. Vi chefe garantido que manchete de futebol não rende. E que cada minuto na grade da emissora sobre o assunto era tempo perdido.

Mas a verdade é que em tempos de polarização e ódio, não há editoria mais adaptada (e adaptável) que o Esporte. O que muito colega só vive agora, a gente já sabe há décadas. Ser visto como inimigo é premissa básica que quase todos que cobrem futebol.

Porque não há missão mais árdua do que levar razão para o meio da paixão. Ou apontar o dedo para quem se ama.

E o jornalismo esportivo faz isso diariamente. Noticia, analisa e critica o seu clube, o seu ídolo. Aquilo que pra você é diversão, para nós é trabalho. São olhares completamente diferentes. Necessários, porém diferentes.

O futebol não vive sem o torcedor. Não vive sem paixão. Mas também não vive (em alto nível profissional) sem mídia, sem informação, sem imprensa.

E uma sociedade que se respeita não vive sem nada disso.

A verdade é que a bolha do futebol é um recorte bem fiel do mundo lá fora. Logo, cobrir isso é cobrir um pouco de tudo. Toda hora.

Futebol é cultura, futebol é política, futebol é guerra, futebol é economia, futebol é violência, futebol é desigualdade, futebol é negócio, futebol é religião.

Futebol é um espelho.

Olhar para isso como apenas um jogo é ignorar o poder que exerce sobre as pessoas. É ignorar que o jornalismo é prestador de serviço e que não há serviço melhor do que prestar atenção naquilo que fascina (e por vezes cega) tanta gente.

O jornalismo esportivo é resistência faz tempo.

Resiste ao torcedor que acha que o que fazemos é jogar contra.

Resiste ao dirigente que se sente injustiçado.

Resiste ao craque criticado que se acha perseguido.

Resiste ao próprio jogo, que teima em ser imprevisível.

Resiste à concorrência que imbeciliza as análises.

E resiste até ao próprio jornalismo, que muda e muda e muda.

Jornalismo esportivo não é esporte. É vocação.

O POVO 92 anos: Jornalismo cultural como janela para o mundo

por Cinthia Medeiros

O fazer jornalístico, assim como a atividade humana por essência, mira nos desafios de avançar e de reinventar-se. As mudanças do tempo têm sido imperativas na forma de consumir notícia e implicam também novas formas de pautar, de apurar, de publicar - e de onde publicar. O assunto vem sendo recorrentemente tratado em artigos, debates, congressos, universidades, e são muito visíveis os resultados dessas transformações, mesmo com muitas questões ainda em aberto. Mas o que dizer do jornalismo cultural, segmento que sempre teve como desafio o próprio ato de existir, assim como também é a vida de grande parte dos artistas?

Ao jornalismo cultural relega-se, muitas vezes, o espaço do supérfluo, do que não é urgente, e até do fútil. Essa visão, no entanto, faz uma análise simplista que desconsidera a potência da arte como agente transformador e o papel do jornalismo como ferramenta de compreensão dessas transformações. Comparo o jornalismo cultural a uma espécie de janela entre leitores/espectadores/seguidores e um mundo que muitos não podem acessar. Seja por barreiras geográficas, pela limitação da língua, por restrição financeira ou puro desconhecimento. Dados recentes do Sistema de Informações e Indicadores Culturais, divulgado pelo IBGE no fim de 2019, atestam que 51,2% dos cearenses vivem em cidades sem, ao menos, um cinema. Mais de 30% não têm acesso a equipamentos culturais como museus e teatros. Quem ganha com isso?

Muito além das agendas artísticas, a importância do jornalismo cultural está relacionada à formação de um público consumidor de cultura. Cabe a ele ser ponte para encurtar essas distâncias. Registrar e reafirmar a beleza das artes, a importância delas na construção da identidade de um povo; compreender os processos da indústria cultural e o surgimento de novas linguagens; oferecer possibilidades; vigiar e, se preciso, cobrar políticas públicas inclusivas. Do Bolshoi ao reisado da Varjota, de Anitta a Mona Gadelha, de Zygmunt Bauman a Oswald Barroso, do Palhaço Trepinha ao Cirque du Soleil, a cobertura cultural é responsável por montar um grande mosaico capaz de ajudar na construção do pensamento crítico da sociedade e sua consequente leitura de mundo.

Hoje, O POVO chega aos 92 anos celebrando além de sua longevidade, o olhar vanguardista que sempre dedicou ao jornalismo cultural a partir do entusiasmo de seu fundador, Demócrito Rocha - ele próprio um poeta - e de seus sucessores. Seu caderno mais "recente" dedicado à cultura, o Vida&Arte, já conta 30 anos. Uma publicação que segue se expandindo para as novas plataformas e mais, que se imbuiu também do papel de promover cultura através dos eventos que democratizam o acesso à arte. É muito bom, em meio a tantos desafios, ter motivos para comemorar.

O POVO 92 anos: Quem tem medo de jornalistas e de informação?

por Demitri Túlio

Os "inimigos da democracia" passarão e o jornalismo "passarinho". Brinco com a inspiração de Mário Quintana e as palavras de Paulo Jerônimo de Sousa, presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), para tentar ser amoroso nesse tempo tão indelicado e desleal contra a liberdade de imprensa.

E não é novidade o jornalismo e jornalista entrarem na "linha de tiro" dos que temem a perenidade da informação. Mas a história já destroçou ditadores, já desmascarou torturadores e, como escreveu Paulo Jerônimo, "engoliu" personagens passageiros.

Qualquer pessoa, do presidente da República ao mais anônimo cidadão, tem o direito de questionar uma informação, de duvidar da linha dessa ou daquela empresa de comunicação, mas desejar a "extinção de jornalistas" é atestar a vontade de reinar pelo autoritarismo.

Imagine Fortaleza sem os 92 anos do O POVO e o espírito de muitos de seus jornalistas? Sim, nem sempre fomos tão livres e há também pedidos de desculpas. Mas nunca deixamos de insistir com a liberdade e a pauta dos interesses coletivos.

E aqui poderia relacionar uma penca de coberturas que não teria havido se não existissem jornalistas do O POVO a fim de entrar no bom combate pelo interesse público da aldeia.

O agente da Polícia Civil João Alves de França, em 1997, falou primeiro a um jornalista e a um delegado sobre a existência de uma quadrilha de policiais - de alto e baixo escalão - cometendo crimes em Fortaleza.

E o que seria da história do piloto da Força Aérea Brasileira, Alexandro Bosco Prado - morto em um acidente com um avião Xavante, em 2000, se três repórteres do O POVO tivessem se conformado com informações "oficiais" da Base Aérea de Fortaleza?

Talvez os relatórios de acidentes de voos, até hoje, apontassem para erro humano. E a insistência dos jornalistas deu na descoberta que a asa esquerda do Xavante sacou em pleno voo no mar do Pecém.

Não imagino, em 2011, produtores de conteúdos falsos desconfiados com o mal cheiro que vinha do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Só jornalistas escavariam até aprofundar no que ficou conhecido como Escândalo dos Banheiros. Mais de R$ 2 milhões desviados do Fundo Estadual de Combate à Pobreza (Fecop) e o envolvimento de um presidente do TCE e de um deputado estadual.

Há um rosário de narrativas jornalísticas contadas ou reveladas pelo O POVO que minha memória, de 24 anos de batente, não dá conta... Da construção do Orós aos campos de concentração de "flagelados da seca". Dos desmatamentos insustentáveis ao protagonismo mortal do Aedes Aegypti... Da tortura e morte do confeiteiro Ivanildo na Superintendência da Polícia Federal ao tempo das facções criminosas... Do Caso Campelo que revelou um torturador no governo FHC...        

"Enquanto a informação for uma necessidade vital", diz Paulo Jerônimo, jornalistas nunca serão uma "espécie em extinção". Podem até desejar o desaparecimento ou quererem calar feito Herzog, mas a história engolirá quem tem medo de uma imprensa livre.

O POVO 92 anos: o sentimento é aquele mesmo de quando a história começou

por Guálter George

Claro que eu não estava na turma que cuidou da primeira, e histórica, edição do O POVO, mas, tenho convicção, o ânimo que envolvia aquele ambiente diferirá pouco deste que nos motiva agora, exatos 92 anos depois, a continuar na observação dos fatos para transformá-los em notícias. Há uma alma motivadora e inquieta que só parece mais forte e presente à medida em que o tempo avança, nos fazendo transformar em desafio o esforço cotidiano de conquista e reconquista que marca a relação entre o jornal e seu leitor.

O que se pergunta, hoje, é quanto à capacidade que temos de oferecer respostas a um mundo contemporâneo que, diante do volume de transformações que proporciona, acaba por colocar em discussão o próprio conceito de notícia. Um debate de fundamento, que prospecta o futuro do jornalismo e até lança dúvidas sobre ele, sem que assuste O POVO de paredes quase centenárias, diga-se, porque de vez em quando a cisma se fez presente à sua trajetória. A incerteza surgiu em outros momentos e cá estamos contando a história, o que diz muito da legitimidade que temos para encará-la.

A verdade é que o jornalismo nunca esteve tão forte e vivo. A realidade é que nunca se consumiu tanta notícia quanto nos tempos atuais, em que as plataformas se multiplicam. Um contexto em que a exclusão hipotética da prática profissional no manejo dos fatos, para a missão que lhe toca de selecioná-los, hierarquizá-los e priorizá-los, representaria entregar a sociedade definitivamente ao mundo das manipulações maldosas, no pior sentido mesmo que o termo pode ser capaz de contemplar. Seria a vitória da mentira, pomposamente vendida como "fake news" no mundo maravilhoso em que a informação circula no ambiente virtual, com sua falta de controle e uma democratização de fachada.

Este escriba, com seus tantos anos de acompanhamento da política, acumula um longo histórico de exemplos observados de mau uso de uma notícia para levar a objetivos particulares, traçados por alguém ou por uma coletividade. Em geral, projetos nos quais o interesse público resumia-se a um detalhe, não era o foco que se buscava. Mais do que nunca, com as novas plataformas e as infindáveis possibilidades que elas oferecem, evidenciou-se a importância de sempre existirem instâncias que permitam ao leitor entender a notícia nos seus detalhes e significados, algo que é da essência do tratamento que a abordagem jornalística assegura aos fatos.

A grande verdade é que o jornalismo continua hoje tão fascinante quanto o era naquele 7 de janeiro de 1928 em que a história começou para nós. O sentimento, do lado de cá, permanece o mesmo e a má notícia para quem enxerga a atividade com seus dias contados ou que vislumbra nos profissionais que a exercem uma raça em extinção, é que as novas e mais amplas possibilidades que chegaram estão sendo absorvidas e acomodadas para garantir a preservação e fortalecimento de uma prática profissional, e social, que será sempre medida pela capacidade que apresente para gerar incômodos. O que parece evidente é que não a perdemos.

O POVO 92 anos: A vida é um instante. Uma fotografia

por Iana Soares

De 2009 a 2018, comemorei dentro da redação do O POVO o jornalismo feito na Avenida Aguanambi, 282. Na entrevista para conseguir uma vaga de estágio na editoria de fotografia, aos 22 anos, o editor Alcides Freire perguntou se eu gostava de gente. Depois de uma década de ruas, de mares e de sertões, de ser repórter e editora do Núcleo de Imagem, uso a pergunta e a resposta como chaves para pensar o tal "futuro do fotojornalismo". É preciso gostar de gente para narrar o mundo em imagens e palavras.

Falar sobre o fotojornalismo e o avanço das tecnologias é um imperativo desde 1839, quando Daguerre apresentou essa invenção absurda para olhos surpresos e desconfiados. O digital aumentou a vertigem diante das mudanças técnicas que sempre marcaram a linguagem fotográfica. As transformações na velocidade do obturador, no diafragma das lentes, na superfície que fixava a imagem geram revoluções visuais há 180 anos. Não há possibilidade de separar técnica e linguagem. No entanto, desconfio que o maior desafio é seguir gostando de gente ao apontar uma câmera, um drone ou um celular para o real.

No momento em que bilhões de imagens são compartilhadas em redes sociais, gerando uma paradoxal cegueira, é cada vez mais importante a existência de fotojornalistas comprometidos eticamente com a narrativa do tempo que vivemos. Como escreveu a poeta Matilde Campilho, o mundo está tremendamente esquisito. Em vez de temer o presente e o futuro, é urgente criar estratégias para recuperar o fôlego e emergir deste apocalipse. Para manter-se relevante e fortalecer uma sociedade democrática, o fotojornalismo deve contribuir com a defesa dos direitos humanos, com a afirmação da diversidade e das diferenças, com a valorização irrestrita da vida. A potência estética não pode estar separada de uma reflexão ética profunda.

Há 92 anos, O POVO tem sido mirante para os olhos atentos daqueles que se espantam diante do real, que têm carinho, que se revoltam, que investigam o que há sob a superfície. Para aqueles que se demoram, que se angustiam, que têm tesão. Celebro a existência de tantos companheiros que admiro de perto e de longe por meio dos olhos de Mauri Melo, que está no O POVO há 47 anos e olha para o mundo com um respeito profundo. Ele me ensina a observar o tempo com alegria. Tenho saudades de abraçá-lo todos os dias logo cedo e ver a foto da capa ao seu lado. A vida é um instante. Uma fotografia.

O POVO 92 anos: Por que discordo, Nietzsche?

por Nazareno Albuquerque

Difícil para o jornal O POVO não foi ser fidedigno com seus leitores ao longo de seus 92 anos. A fidedignidade no Jornalismo conquista-se a partir da prática editorial correta, apoiada na narrativa dos fatos tais quais ocorreram, sem manipulação nem conveniência. Nisso pode ter cometido equívocos, como todo grande veículo de comunicação do mundo com o compromisso e a história do jornal, mas soube render-se no momento certo aos seus erros, e em certos episódios pagando por eles. Essa é a regra.

Ser independente certamente foi o seu maior desafio. Equivale a exercer o papel social que seu ofício pressupõe, distante da verdade administrada segundo as pressões do Poder, na definição de Juan Cébrian, o respeitado decano da imprensa espanhola, sem renunciar a "sua condição primária de testemunha pela de juiz, a ser crítico, amante do debate, polêmico e brilhante sem a paixão das palavras" e tendo a verdade como farol.

Ser independente não é apenas um preciosismo editorial, esta uma ferramenta da fidedignidade. Independência é uma cultura transmitida durante décadas pelo seu corpo dirigente, exercitada segundo um memorialismo arraigado a tradições e práticas rígidas do bom Jornalismo, sem desertar dos compromissos com os seus cidadãos. Este é O POVO.

Corta a cena - dizem os diretores de cinema aos seus atores intervalando as próximas tomadas. A Comunicação caminha de modo a assumir novo protagonismo diante dos atuais senhores da Terra, a globalização e suas ferramentas digitais. Por sua vez, dominante e inteligente, ocupa a cada dia novos espaços nos corações e mentes das pessoas. Os "ratinhos" substituíram as "margaridas" das máquinas de escrever e por algoritmos infiltraram-se no centro nervoso das pessoas e dos governos, ditando comportamentos. E no meio das coisas que foram ficando ''velhas'', embutiram a Imprensa, os livros e tudo o que nos serviram até agora de manancial para o conhecimento, sob suas mais diversas formas.

O poder da Imprensa, até então inatingível em seus valores éticos, culturais e virtuosamente independente, foi finalmente abalado por aqueles que, nos Governos e nos partidos políticos, encontram na Imprensa obstáculos à consecução de suas manobras populistas e artimanhas para a conquista do Poder e manipulação ideológica de seus cidadãos.

E assim, infiltrada, a mídia eletrônica, sob suas mais diferentes formas e fantasias, instalou-se como uma hérnia na coluna vertebral da sociedade humana. Dividida em suas emoções, gerou-se o ressentimento social prognosticado por Nietzsche. Foi, aliás, o grande pensador alemão um dos primeiros filósofos a teorizar sobre as fake news. Anteviu ele: "Não há verdades, apenas interpretações". Uma falsa verdade, Nietzsche, dirão os jornalistas; um furacão abençoado, acatam os reis da nova filosofia da Informação "conveniente", para os quais uma proposição verdadeira "é aquela que é útil", aquilo que é bom para acreditarmos, como escreveu Richard Rorty, conservador e pragmatista inglês.

E assim instalou-se a loucura na nova era da informação. Por quanto tempo não se sabe. Mas, certamente, a história sempre foi muito severa com os mentirosos. A fidedignidade e a independência continuarão sendo guias e valores de O POVO, pois este é o caminho certo, há 92 anos.

Editorial: O POVO, há 92 anos sempre perto de você

O jornalismo se fortalece à medida em que ganha relevância na vida da população. Quanto maior for a aposta em conteúdos de qualidade, pontos de vista variados, inovação e transparência, mais um veículo de comunicação será reconhecido e valorizado pela sociedade. E é exatamente esse o compromisso do O POVO desde aquele 7 de janeiro de 1928, quando de sua primeira edição. Ao longo de quase um século, somos porta-vozes dos desejos e das angústias de um povo valente e criativo, determinado a resistir, sonhar e se desenvolver. Uma relação de confiança construída a cada notícia bem apurada, a cada análise precisa, a cada denúncia contra tudo aquilo que nos aflige, mesmo que isso signifique contrariar determinados interesses.

Não importa a área, não importa o assunto, lá está O POVO determinado a contribuir com a boa informação e com a interpretação correta dos fatos. Se o tema é eleições, atuamos para dissecar perfis, questionar propostas, elucidar dúvidas, destacar contradições. Na economia, vamos além nos números, apontando caminhos para o real crescimento, dando dicas de investimento, criticando aquela alta absurda de preços. No mundo das artes, não nos falta ousadia para valorizar o novo, enaltecer os talentos da terra, ajudar a disseminar e construir uma cultura de caráter emancipatório, seja ela erudita, seja ela popular. A cidade está esburacada? Não tem remédio no posto de saúde? Falta água no seu bairro há semanas? Temos a independência necessária para cobrar as soluções.

Mas será que, em mais de nove décadas, não houve falhas pelo caminho? Claro que sim! Mas também não nos falta a humildade necessária para reconhecê-las e corrigi-las, dentro de um processo contínuo de aprendizagem que nos permitiu chegar aos 92 anos com fôlego de criança e uma experiência cuja riqueza é imensurável. Graças a um trabalho que mescla as habilidades dos nossos profissionais à sensibilidade humana essencial para a longevidade de qualquer empresa.

É esse arcabouço que nos possibilita, por exemplo, saber a hora certa de mudar. Não ficamos para trás diante de uma revolução tecnológica que provoca desafios constantes. Seguimos firmes no papel, mas também demarcamos espaço no digital, rompendo fronteiras para nunca ficar longe de você. Por isso, é fácil nos ler em celulares e computadores, nos seguir nas principais redes sociais, e ainda nos ouvir no rádio, podcasts e afins. Sem falar nas parcerias com veículos regionais, compondo a chamada Rede Nordeste.

Mudamos a todo instante, mas sem jamais abrir mão daquilo que é a essência da nossa existência: o respeito à verdade, à pluralidade e a tudo que for do interesse público. O que nos move é a fé inabalável na capacidade que o jornalismo tem de transformar o mundo em um lugar melhor, fugindo dos radicalismos, rompendo preconceitos, aperfeiçoando a democracia e difundindo conhecimentos. São esses os princípios que nos nortearão até e para além dos 100 anos. 

O que você achou desse conteúdo?