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Fantasias trazem colorido e tom político para festa
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Fantasias trazem colorido e tom político para festa

Pelas ruas e praças da Cidade, os foliões soltaram a imaginação e a criatividade em fantasias. Em cada bloco, a cada dia, de forma improvisada ou pensadas com muito capricho, as fantasias estiveram presentes e coloriram o Carnaval
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Foliões trouxeram no figurino referências do confronto do senador Cid Gomes com policiais  (Foto: fco fontenele)
Foto: fco fontenele Foliões trouxeram no figurino referências do confronto do senador Cid Gomes com policiais

É como uma fenda no tempo-espaço que se abre por quatro dias: a vida inventa outro ritmo, não se pensa em boleto, as pequenices da existência burocrática são deixadas de lado. Para adentrar o portal, o ingresso é fantasia. A mesmice dos dias normais dá lugar ao que é imaginado e que pode ser possível, porque é Carnaval. Criativas, manjadas, misteriosas ou com mensagens claras, para ficar bonito ou para assustar; que demandaram muita disposição ou foram arranjadas no meio da praça, quando a folia já era realidade, as gentes e suas fantasias coloriram ruas e encheram a Cidade da magia dos encontros improváveis.

Dessas junções que só o Carnaval poderia criar, são pelas fantasias que uma cigana tasca um beijo no Coringa; Bacurau, a cidade fictícia, se enlaça com o torcedor do Fortaleza, o time; Lunga faz amizade com a Elsa; a mulher-maravilha beija o moço vestido de Verdinha, a canção da Ludmilla; e uma alcateia de onças interage com um jardim de girassóis. Carnaval é invenção e a fantasia é parte fundamental dessa criacionice de providenciar o próprio divertimento.

E demarcar também empoderamento. De meias-arrastão em multicor, com ou sem quimonos a dar algum esconderijo às peles, recobertas de glitter, de hotpants ou maiôs cavados, as mulheres colocaram seus corpos no mundo. E não tinha essa de corpo padrão, o padrão, no Carnaval, é ser feliz. Houve quem encarasse o Carnaval de peito aberto no entrançado do cortejo o Bloco É só Isso Mesmo, debaixo dos 13 metros de serpente, com os peitos cobertos apenas por raios; e no Carnaval no Inferno, com estrelas coloridas a tapar os seios.

"É um ato político: este é o meu corpo e eu tenho direito sobre ele, e vir assim, ou de qualquer forma como eu quisesse, não é convite, não dá direito do outro lhe julgar, independentemente, de eu estar gorda ou magra. É uma luta", se posiciona a professora Ana Ísis Porto, 23, vestida em
seu hotpants neon.

O lugar de direito sobre o próprio corpo também foi sendo demarcado nos arquinhos. Quase como legendas da vida real, os gigolés cheios de letras foram hit e juntaram as fantasias mais elaboradas às de improviso. Girl Power, super-feminista, eu que lute, quem tem limite é cartão, plena, votou em quem?... em cada cabeça, uma sentença.

Não foram poucas também as retroescavadeiras de plástico perambulando na folia. O episódio do senador licenciado Cid Gomes (PDT), durante a paralisação de policiais em Sobral, foi transformado rapidamente em troça. "O Carnaval é um momento espetacular, principalmente atualmente, para resistência, para transmitir uma ideia, um protesto, que não deveria ficar só aqui. Deveria continuar sempre. Mas esse é o momento para gente dar palco para ideias da gente que não tem palco no dia a dia. Acho que é um momento em que os memes estão salvando a gente", contou a autônoma Sâmia Odísio, 39, enquanto o Luxo da Aldeia tocava
na Gentilândia.

"IEEEIII", assim em caixa alta, imitando uma vaia cearense, cactos, o rosto do cantor Belchior, o sol da psicóloga Lara Andrade, 27, que nasceu de noite na Praia de Iracema, o Nordeste estampou a criações dos foliões. O ator Bruno Lobo, 32, escolheu o chapéu de palha como símbolo sertanejo. "O chapéu é da nossa andança, é da nossa proteção, é regional, é nordestino, é latino", explicou o folião travestido
de diabo.

Foi o Nordeste que inspirou os designers Zé Filho, 27, e Vinicius Vidal, 33, nas fantasias. A cada dia, eles vestiram uma música de um compositor nordestino. "Essa força, essa demarcação desse lugar de destaque em que o Nordeste está e precisa estar é o que gente precisa reforçar. A gente tem orgulho de onde a gente vem, dos artistas que nasceram aqui e que cantam sobre o Nordeste", comenta Zé, vestindo um collant representando Entre a Serpente e a Estrela, de outro Zé, o Ramalho, e faz lembrar que o Carnaval reinventa a gente.

 

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