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As contradições da Fifa em relação à homofobia
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As contradições da Fifa em relação à homofobia

CONTRADIÇÃO. Fifa chegou a punir a torcida mexicana por grito homofóbico durante Copa da Rússia, país com lei que proíbe demonstrações homoafetivas
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Corriqueiro e reprovável, o costume da torcida mexicana de entoar cânticos considerados homofóbicos foi punido pela Fifa. Cada tiro de meta cobrado pelo goleiro alemão Manuel Neuer na 1ª rodada da Copa do Mundo era acompanhado de gritos de “puto”, que significa algo como “bicha”, em português. Comum em diversas torcidas pelo mundo, o teor homofóbico da gritaria hincha já foi punido outras sete vezes pela entidade. Dessa vez, a Federação Mexicana de Futebol (FMF) teve de pagar 10 mil francos suíços (o equivalente a R$ 37,5 mil) e poderá sofrer novas sanções caso os gritos se repitam. Após a punição, a provocação sumiu dos estádios, dando lugar à canção Entrégate, do cantor pop mexicano Luis Miguel. Louvável, o processo disciplinar contra a FMF expõe contradição no contexto do Mundial da Rússia.


“É contraditório porque, ao mesmo tempo em que a Fifa, corretamente, quer punir o México, ela realiza a Copa que tem como palco um país em que ser gay é crime, em que você não pode se assumir com sua identidade de gênero, sua orientação sexual, em que você corriqueiramente é perseguido, violentado”, expõe a advogada Lilian Viana, membro da Comissão Nacional da Diversidade Sexual e Gênero da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB Federal) e conselheira do Conselho Municipal LGBT de Fortaleza.

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Em 2013, o Parlamento russo aprovou uma lei — conhecida como “lei antipropaganda gay” — que castiga com multas e até prisão a “propaganda homossexual” dirigida a adolescentes de até 18 anos.

A expressão é confusa e, na verdade, proíbe o ativismo a favor dos direitos da comunidade LGBT e as demonstrações homoafetivas públicas. Embora as grandes cidades russas tenham grupos de defesa da diversidade ativos, os casos de violência contra homossexuais frequentemente viram notícia no País, principalmente em territórios da Chechênia. Na Rússia, a homossexualidade era considerada crime até 1993 e uma doença mental, até 1999.


“Ou seja: não é mais crime que você seja homossexual, contanto que você fique calado (em relação à sua orientação sexual)”, explica o presidente da Comissão de Direito Internacional da OAB Secção Ceará, Fabiano Távora.


Além do caso dos mexicanos, outras situações colocaram holofote na questão da diversidade na Rússia durante a Copa. Um ativista LGBT britânico que se manifestou contra a lei foi preso, e liberado com pagamento de fiança. E um casal de dois homens franceses foi agredido ao pegar um táxi em São Petersburgo. Um deles, segundo a imprensa internacional, corre risco de ficar paraplégico.


A situação, conforme opina Lilian, expõe como a “homofobia foi institucionalizada” na Rússia e como “a Fifa fez vistas grossas a isso por interesses econômicos”.


“Quando a lei impede que se fale de orientação sexual para proteger menores de 18 anos, ela está, na verdade, impedindo que você converse, fale, eduque, que faça as pessoas entenderem que há orientações sexuais diversas da heterossexualidade imposta. A lei nada mais faz do que massificar um preconceito”.


A Fifa, por meio da assessoria de imprensa, foi procurada para comentar o caso, mas não retornou o contato até o fechamento desta página. (Domitila Andrade)

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