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Salame de cavalo
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Salame de cavalo

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Tipo Notícia

Estou em fase de reeducação alimentar. Só como quando tenho fome. Mastigo devagar. Me concentro na comida.

Saciado, paro. Mas em Copa do Mundo...


Nessas coberturas, é difícil parar para comer direito. Muita correria, deslocamentos, muitos textos e vídeos para mandar, uma loucura. E aí acabamos comendo mal.


Mas, naquele dia de sol, em Kazan, eu queria me aventurar. Já havia passado por um restaurante ucraniano, um geórgio e um russo, mas não um tártaro. Kazan, a cidade dos tártaros, uma das últimas que o império dos czares tomou. A cidade onde o Brasil joga amanhã contra a Bélgica.


Nunca fui um fã de carne crua. Na verdade, sempre fui bem chato com comida, cresci nos últimos anos e fui aprendendo quanta coisa boa deixei para trás. Foi só recentemente que provei o bife tártaro. Acho que o nome mais comum é steak tartare. Posso estar errado.


Como estava em Kazan, terra dos tártaros, resolvi pedir o steak tartare. Já fiquei desconfiado, pois o prato aparecia no meio das entradas, com algumas saladas para lá de conhecidas, sem muito destaque.


Lá veio ele. Igualzinho ao que eu já conhecia. Carne crua, tempero, alcaparras, cebola, ovo. Uma delícia. Mas... Será que isso é mesmo coisa de tártaro?


O simpático Yulian, o garçom, deu risada. “Não, é só o nome mesmo! Não é um prato daqui”. Oras bolas. Me lembrei de quando fui a Bolonha e o spaghetti não tinha carne moída. Não sei por que é spaghetti à bolonhesa se em Bolonha é diferente.


“Yulian, então me traga algo daqui, por favor!”. Dez minutos depois, lá vem ele, com todas as iguarias tártaras e russas. Uma espécie de carpaccio de ganso. Vagens ardidinhas. Uma torta tártara, com frango e batata, que me lembrou uma empadona. Umas tortinhas que me lembraram as quesadillas mexicanas. Um caldo de frango quente demais para o calor que estava. E..... Adivinhem. Carne de cavalo!


Pobre cavalo. Se bem que nunca pensamos na pobre vaquinha na hora do churrasco. Estava mais para um salame de cavalo, fatiadinho, bem seco. Vamos que vamos.


Não era ruim. Saboroso, até. Um pouco duro, talvez. Difícil de mastigar. Foi bem com um pãozinho. Pensei no cavalinho. Não muito na vaquinha. Empurro o prato para o lado. Vem cá, steak tartare...

 

Por Julio Gomes

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