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O que pode o jejum?
Ciência e Saúde

O que pode o jejum?

| DIETA | Intercalando períodos de até 24 horas sem ingerir alimento, com janelas alimentares com restrições calóricas, o jejum intermitente pode ajudar o organismo na eliminação de peso
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Jejuar é costume antigo de várias religiões. Os muçulmanos, por exemplo, no mês do Ramadã não se alimentam durante o dia. Mas, longe de prática religiosa de purificação e elevação espiritual, o jejum vem se consolidando como estratégia de controle de peso. Chamada de jejum intermitente, a dieta propõe horas seguidas sem comer, e janelas alimentares com refeições com restrição calórica. Como acontece em outras dietas com diminuição acentuada de calorias ingeridas, o jejum, de fato, leva ao emagrecimento. E especialistas indicam que a prática pode trazer ainda outros benefícios.

Com diversos modelos que variam de 8 horas até mesmo 24 horas sem se alimentar, o jejum deve ser adaptado a cada organismo. Tendo feito o jejum cinco dias por semana durante um mês seguido, o profissional de Educação Física, Bruno Fontenele, 32, buscava, justamente, o efeito mais usualmente associado à prática: o controle do peso. Ele relembra que, após período sem andar competitivamente de bicicleta (prática aeróbica de alto gasto calórico), o peso chegou a 96 quilos e o jejum, acompanhado por um nutricionista, foi a estratégia para perder os dez quilos extras.

Bruno passava 16 horas em jejum (metade delas dormindo), enquanto, nas oito horas restantes, ingeria apenas água e, às vezes, o café com adoçante pela manhã - além de limão e um suplemento que promete melhorar a imunidade e diminuir a fadiga muscular. Almoço, lanche da tarde e jantar eram balanceados, com aporte de carboidrato e proteínas. Tudo isso aliado a prática de musculação. Em um mês, cerca de 50% do sobrepeso foi embora. O fato de boa parte do período de jejum ser durante o sono, faz com que a dieta "para alguns pacientes, seja mais fácil do que seguir uma dieta tradicional", comenta Walmir Coutinho, diretor do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

Conforme explica a doutora em endocrinologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), membro da Sbem e da Sociedade Europeia de Endocrinologia (SEE), Maria Fernanda Barca, o processo que acontece no jejum é um troca energética. Em vez de o organismo queimar a glicose, advinda dos carboidratos que ingerimos nas refeições, em jejum, sem a reserva de glicogênio (glicose armazenada principalmente no fígado), o corpo busca outras reservas de energia. "Você coloca o organismo em cetose, que leva a queima dos próprios recursos, e que vai provocar uma saciedade", indica. Em cetose, o fígado converte gordura (reserva adiposa do próprio organismo) em ácidos graxos e corpos cetônicos. Assim, ocorre o emagrecimento.

É justamente dessa troca que advém os demais benefícios que a prática pode causar. De acordo com Barca, acompanhada de uma dieta com baixa ingestão de carboidrato, o jejum leva a uma diminuição da variação de níveis de glicose, e, consequentemente, de insulina. Sem esses dois componente, o estresse celular é menor, e há redução do nível de cortisol (hormônio envolvido na resposta ao estresse). "No momento em que segura a variação de glicose e mantém a pessoa em jejum, a insulina e o cortisol baixam - dois hormônios que dificultam o emagrecimento", explica.

"Qualquer tratamento para emagrecer pode ajudar a saúde cardiovascular. A tendência também é reduzir colesterol e triglicerídeos", aponta Coutinho.

O que comer após as horas de jejum

Um dia com jejum de 16 horas e três refeições com restrição de carboidrato, e um dia com cinco refeições balanceadas. Esse é o modelo de jejum intermitente que a dentista Gabriela Passaglia, 21, segue há três meses. "Como não tinha o costume de me alimentar pela manhã, então não foi difícil me adaptar ao jejum. O difícil é manter a dieta. Mas não adianta fazer o jejum e não seguir a dieta nos demais dias", ensina Gabriela.

Fazer o jejum e se alimentar sem regras pode trazer mais malefícios do que benefícios, é o que aponta a endocrinologista Maria Fernanda Barca. Com vário modelos alimentares a serem seguidos junto ao jejum, nenhum deles imposto como regra para os resultados, Barca é adepta da associação do jejum com uma dieta low carb (com baixa ingestão de carboidratos).

"Parte do problema é fazer bagunça com alimentação, depois do jejum. Porque aí leva a uma variação alta da glicose e da insulina. Não adianta fazer o jejum e comer normal, porque acaba acumulando gordura abdominal, devido a oscilação glicêmica", afirma. Nos dias de jejum, a médica indica que as três refeições não devem passar, ao todo, de 450 calorias para mulheres e 600 calorias para homens.

Gorduras não saturadas, presentes nas oleaginosas - castanhas e amêndoas por exemplo -, no salmão, no abacate, e proteínas magras como frango, ovos, peixes e queijos brancos, são as indicações de Barca. A nutricionista Mirella Freire aconselha que se evite "o consumo de alimentos de alto índice glicêmico, como açucares, farináceos e massas".

Para médica nutróloga da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), Marcela Voris, "é importante nos momentos após o jejum comer alimentos que aumentem a saciedade e reponham os nutrientes, evitando os carboidratos simples como arroz branco, massas", destaca.

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