O Ceará tem dois representantes na elite do surfe mundial. No feminino, a experiente Silvana Lima, 34 anos, vice-campeã das temporadas 2008 e 2009, é uma das duas brasileiras competindo no WCT. Entre os homens, Michael Rodrigues, 24, fez sua estreia na liga principal e foi o 15º melhor do tour, garantindo vaga para o próximo ano.
Nascido em Brasília, mas radicado em Fortaleza, Michael Rodrigues aprendeu a surfar nas ondas da Praia do Futuro. Os pais do então garoto eram donos de uma barraca no local, facilitando a iniciação do filho no surfe. Para despontar no circuito mundial, o atleta precisou superar inúmeras dificuldades, desde a falta de apoio até a necessidade de sair do próprio Estado para buscar melhores oportunidades.
Com 19 anos, Michael foi morar sozinho em Florianópolis (SC), levando na bagagem apenas o sonho de se tornar surfista profissional. A ida para a nova cidade foi motivada por uma espécie de "banimento" dos campeonatos no Ceará. Após vencer um torneio, o surfista reclamou da premiação e foi proibido de competir por um ano, perdendo todos os seus patrocínios.
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Em Santa Catarina, as portas se abriram. Em Floripa, o atleta conseguiu suporte técnico e financeiro, trilhando um caminho de dedicação e empenho até a elite do surfe. "Foi um ano incrível pra mim. Um sonho realizado. O momento mais marcante foi na minha primeira bateria. Foi quando caiu a ficha, quando peguei a minha lycra com meu nome e o número 85 (escolhido para homenagear o Ceará)", contou.
Cria de Paracuru, litoral do Ceará, Silvana Lima tem uma carreira consolidada no circuito mundial. A cearense também precisou superar as dificuldades para competir na elite, como a falta de apoio. Há quatro anos, a surfista estava na divisão de acesso e teve de bancar viagens do próprio bolso para participar das etapas. Ela chegou a vender o apartamento, o carro e crias dos buldogues franceses de seu canil. O esforço valeu a pena com a conquista da vaga para retornar ao WCT.
Em 2018, Silvana acabou atrapalhada por uma lesão no joelho e ficou de fora de três das 11 etapas. Mesmo assim, a surfista cearense assegurou vaga na elite para 2019.
Referência no surfe feminino brasileiro, Silvana vê uma evolução na modalidade e espera ser espelho para que novas surfistas brasileiras despontem. "Está melhorando. Hoje, estamos eu e a Tati (Weston). Significa muito representar o Brasil", afirmou.
Com mais um título mundial de Gabriel Medina em 2018, o segundo dele e o terceiro do Brasil nos últimos cinco anos, a dupla de cearenses tem a expectativa de que os investimentos possam melhorar e ajudar jovens talentos.
"Presenciei muita coisa horrível no Ceará. É muito difícil para a criança da favela. Para competir no fim de semana, vi gente que não tinha condição de pagar a inscrição, que é cara, ter que ir tirar o dinheiro na rua. Um incentivo a mais faz toda a diferença. No Ceará, sempre fico impressionado. São surfistas quem têm possibilidades reais de disputar um WCT", disse Michael.