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Cabeça erguida
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Cabeça erguida

| Copa Feminina | Despertando sentimento de orgulho na torcida, seleção deixa o Mundial após derrota por 2 a 1 para a França
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As 11 titulares da seleção brasileira feminina de futebol, que jogaram ontem contra as francesas
 (Foto: LOIC VENANCE / AFP)
Foto: LOIC VENANCE / AFP As 11 titulares da seleção brasileira feminina de futebol, que jogaram ontem contra as francesas

A distancia de uma seleção feminina em campo de uma torcida de mulheres, do lado de cá, é apenas física. Porque o sentimento, ele vai além do esporte. São mulheres torcendo e se sentindo na pele de outras mulheres. "É um sentimento de orgulho, de empoderamento, que ultrapassa barreiras, principalmente por ser o futebol, uma modalidade essencialmente masculina", percebe Thalyane Leite, 33. A advogada e mais duas amigas decidiram ir a um bar do bairro Aldeota para apoiar a seleção brasileira feminina ontem, contra a França.

Apesar do 2 a 1 para a anfitriã do Mundial, o trio de amigas não desanimou. A visibilidade que o futebol feminino teve nesta Copa do Mundo é inédita. Para Vitória Sampaio, 22, cabeleireira, o feito tem a ver com o próprio tempo. "Agora foi só o começo. Foi dado o primeiro passo. Essa visibilidade deve ser no mesmo grau que damos crédito à seleção masculina", desafia.

Parece que, antes desta Copa, não existia Copa. Foi o que pensou a remanescente do trio, a estudante Eveline Queiroz, 35. "Por que, só agora, a gente ouve falar sobre futebol feminino?", perguntou. Hoje, ela entende e dá valor ao espaço que se inicia. "É importante, para mim, porque é vencer o preconceito", sintetiza.

O futebol, como prática e sentimento de união e esforço conjunto, é como a amizade de Thalyane, Vitória e Eveline. "Nós gostamos muito de esporte, nós éramos atletas, então, tudo nos leva a acompanhar o crescimento feminino dentro do esporte. Porque a gente torce por isso, acredita nisso e, pratica isso", diz Thalyane.

Ao mesmo tempo que Marta vence preconceitos em campo, há uma disparidade entre futebol feminino e masculino. Para Vitória, é preciso investir e formar talentos. "Ver as meninas na tela é motivo de orgulho. Porque não temos um esporte, especificamente feminino, desenvolvido no País. Se tivéssemos mais apoio, talvez já tivéssemos ganhado várias Copas, como a masculina já ganhou", projeta para o futuro.

O sonho descrito pela torcedora poderia ser o de qualquer outra pessoa. Eva Freire, 38, psicóloga, se vê assim. "Eu lembro, de quando criança, que eu gostava muito de futebol. Mas você só via os meninos jogando, então você não tinha representatividade alguma. E ter esta oportunidade, agora, de ter e assistir outras mulheres jogando é muito gratificante. Você não torce só pelo Brasil, você vem torcer por mulheres", divide Eva.

A oportunidade relatada na opinião da psicóloga, que assistiu ao jogo com a namorada, Juliana Melo, 32, enfermeira, é o pontapé para o amanhã. "É para que sirva de exemplo para outras crianças, para que elas vejam que a mulher pode estar onde ela quiser, inclusive jogando futebol em uma Copa do Mundo", justifica.

Para Juliana, além de futebol, a pauta é feminismo. "Estarem transmitindo um jogo da Copa Feminina é uma coisa inédita. E as pessoas estão vindo para isso, para ver o jogo. Espero que continue crescendo", analisa.

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