Campeã da Copa do Mundo 2019, capitã da seleção dos Estados Unidos, melhor jogadora e artilheira do torneio, gol na final e dona de um discurso potente pela igualdade. Ativista LGBT, a norte-americana Megan Rapinoe, 34 anos, é hoje o principal nome feminino do futebol não só por suas apresentações dentro das quatro linhas, mas também pela postura politizada que ecoa para fora do gramado.
Megan Rapinoe é uma artista da bola que sabe bem o tamanho de sua relevância para o esporte. E ela não se esquiva das questões sociais. Pelo contrário, a atacante é voz poderosa na luta pela inclusão de mulheres, valorização da modalidade e equidade salarial. Encabeçou o movimento de jogadoras norte-americanas que processaram a sua federação de futebol por discriminação.
A jogadora defende ainda a igualdade racial, luta com a qual gerou incômodo no presidente dos EUA Donald Trump. O protesto contra o governo veio em forma de silêncio durante o hino nacional, nos sete jogos disputados na Copa do Mundo, na França. Antes mesmo do Mundial, ela adiantou que, caso fosse campeã, não iria "à m* da Casa Branca".
Trump chegou a responder a declaração de Megan, afirmando que ela deveria primeiro ganhar a Copa antes de falar. A camisa 15 dos Estados Unidos não só venceu o Mundial, como reinou em absoluto na competição, se tornando o símbolo da luta da modalidade por mais igualdade.
A jornalista esportiva Renata de Medeiros, da Rádio Gaúcha e do Jornal Zero Hora, ressalta a importância de ter uma jogadora do calibre de Rapinoe, que consegue dar holofote a causas e, ao mesmo tempo, se destacar com a bola nos pés. "Ela deixou claro que pode vencer e falar, ser porta-voz da causa e vencedora", analisou.
A luta de Rapinoe não é solitária. O movimento por igualdade está enraizado na discriminada modalidade. No Brasil, o futebol feminino foi proibido até 1979. Vários outros países registraram situações semelhantes.
O forte e comum discurso das jogadoras no esporte contrasta com a modalidade masculina. Para Renata, há um "comodismo muito grande" na modalidade masculina. Segundo ela, o maior legado da Copa é a cobrança. "O futebol feminino é formado por pessoas que lutam contra esse cenário, tanto quem joga quanto quem cobre tenta desconstruir o comodismo que o futebol masculino proporcionou".
O jornalista Aurélio Araújo, co-criador do podcast Copa Além da Copa, lembra episódio recente na conquista da seleção masculina na Copa América, quando jogadores comemoraram a presença do presidente Jair Bolsonaro.
"O futebol feminino está mais associado ao discurso político, está na gênese do esporte, considerado algo de subversão, que não deveria ser assim. O futebol masculino tem muito mais dinheiro, visibilidade. De repente, jogadores homens sentem menos necessidade de se posicionar, menos gente cobra isso deles. O público vai comparecer independente de ele se posicionar ou não."