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Ponto de vista: Para quem grita "viado"
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Ponto de vista: Para quem grita "viado"

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Por anos me pareceu coincidência o fato de eu ter deixado de frequentar estádios em 2006, mesmo ano em que comecei a estudar Jornalismo. Foi só em 2017, quando fui ao Mineirão acompanhar Cruzeiro 3x3 Grêmio que a minha longa ausência fez sentido para mim.

O Jornalismo é inocente nesta equação. A homofobia não. Além de iniciar minha jornada no Ensino Superior, 2006 foi o ano em que me assumi gay — para os outros e em especial para mim. Sair do armário é contar para o mundo uma verdade da qual, por vezes, você passa anos se esquivando.

Voltar a um estádio dez anos depois foi revisitar um fantasma que eu nem sabia que existia. A experiência, em Belo Horizonte, foi irmã da que tantas vezes vivi no Castelão e no PV. Milhares de pessoas impondo que a pior coisa para um homem é ser homossexual. Usando práticas sexuais como forma de humilhação.

Eu não sabia até lá. Mas cresci parte da vida ouvindo que sou um ser humano inferior. Depois de anos de experiência — e de terapia — consegui lidar com isso. Ter orgulho até da opressão que sofri. O estádio é só um dos pontos dessa equação de minoria. Talvez dos mais homofóbicos, mas é apenas um prisma de uma sociedade profundamente discriminatória.

O árbitro Anderson Daronco, seguindo orientação da Fifa, deu um passo importante. Nem que por medo, as torcidas terão de encontrar modos menos ofensivos de torcer — quem sabe até decidam apoiar o próprio time. E o público homossexual vai poder ir ao estádio sem correr o risco de ser apontado como aberração por milhares de homens raivosos.

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