Jorge significa "guerreiro famoso que trabalha na terra", ou "agricultor". Vem da palavra "Geórgios". O nome, porém, é utilizado por diferentes países pelo mundo, incluindo Portugal e Argentina — países natal de Jesus e Sampaoli, respectivamente. Os treinadores de Flamengo e Santos, líder e vice-líder da Série A, não são brasileiros, mas têm protagonizado parte evolução do futebol nacional, desconstruindo preconceito histórico contra técnicos estrangeiros.
Desde que chegaram aos respectivos clubes, os dois trouxeram ideias, conhecimentos e fatores novos ao futebol brasileiro. Para o jornalista Leonardo Bertozzi, da ESPN Brasil, a coragem foi um dos principais aspectos que Jesus e Sampaoli implementaram em suas equipes. Para ele, os técnicos ajudaram até a desconstruir a ideia de que no Brasil não se pode jogar futebol que divirta o público e seja competitivo ao mesmo tempo.
"Quando você vê um (Jorge) Sampaoli e o Jorge Jesus disputando a ponta (do Brasileirão), cada um com seu elenco e estilo, mas sendo corajosos, acaba com a ideia de que é fácil ser corajoso na Europa e aqui tem que jogar sempre da mesma maneira. Acho que eles mostram que dá para jogar bem, jogar um futebol que divirta as pessoas e que é competitivo, e não ter essa ideia de ser uma coisa ou outra que se estabeleceu aqui", argumenta Bertozzi.
Essa coragem, inclusive, ajuda a quebrar a escrita do pragmatismo tático e cauteloso que se desenvolveu no Brasil ao longo dos anos. Em seu último texto para a revista Soccer World, o jornalista inglês Tim Vickery analisou a vitória por 3 a 0 do Flamengo, de Jesus, sobre o Palmeiras, então sob o comando de Felipão. Para ele, essa quebra de padrão estabelecida pelos técnicos de Santos e Fla ajuda na transformação da identidade nacional.
"Por combater os excessos do pragmatismo cauteloso, Jorge Jesus e Jorge Sampaoli não são apenas parte de uma invasão estrangeira. Eles estão ajudando o futebol brasileiro a se tornar mais brasileiro", escreve Vickery.
A identidade transformada por dois profissionais que não nasceram no Brasil, porém, pode sofrer problemas enraizados na sociedade brasileira. Segundo o jornalista, Paulo Vinicius Coelho, da Fox Sports, o preconceito com o estrangeiro e a "impaciência no trabalho" são entraves para o sucesso de técnicos de fora do País.
"Aqui no Brasil tem muito preconceito com treinadores que vêm de fora, mas não se sabe que o futebol brasileiro tem raízes no internacional, embora tenha sido desenvolvido pelos (Campeonatos) Estaduais. Convivência faz bem, novas ideias fazem bem. Assim como Felipão ajudou o futebol português, o Jorge Jesus vai ajudar o Brasil. Grande problema é a impaciência no trabalho. (Ricardo) Gareca em 13 jogos (no Palmeiras) foi demitido e aí as pessoas acham que estrangeiro não dá certo no Brasil. Competência não tem nacionalidade", pondera.
Embora as palavras sejam diferentes, os três jornalistas consultados pelo O POVO concordam em uma coisa: que Jorge Sampaoli e Jorge Jesus estão ajudando diretamente na evolução do futebol brasileiro.