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Caso de injúria racial em jogo com o Ceará pode gerar multa ao Santos e prisão ao torcedor
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Caso de injúria racial em jogo com o Ceará pode gerar multa ao Santos e prisão ao torcedor

Relembre todos os casos relacionados a racismo julgados pelo TJD e pelo STJD desde 2004
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Fabinho, do Ceará, relatou injúrias racistas durante a partida contra o Santos, na rodada passada
 (Foto: Marco Silva / AE)
Foto: Marco Silva / AE Fabinho, do Ceará, relatou injúrias racistas durante a partida contra o Santos, na rodada passada

Uma cena execrável que se repete e que reflete o quanto o preconceito racial permanece manchando a história do País: mais uma vez, para além do espetáculo dentro das quatro linhas, o futebol se torna palco para expressões racistas e, desta vez, xenófobas. O jogo entre Santos e Ceará, na Vila Belmiro, que terminou com a vitória do mandante, ainda estava empatado quando, Fabinho e Thiago Galhardo, no banco de reservas, passaram a ser alvos, conforme relatam, de um torcedor santista que os agrediu verbalmente.

O caso foi comentado ainda durante a transmissão da partida pela a repórter Aline Nastari, do Esporte Interativo, e detalhado por Galhardo em entrevista pós-jogo. Após repercussões e anúncio de ações, Fabinho também deu sua versão dos fatos em redes sociais. O volante identifica o local onde estava o torcedor, "à esquerda do banco de reservas", e disse esperar que o suposto agressor seja identificado. Ele reforçou que, em pleno século XXI "uma atitude dessa não tem cabimento". "Isso não cabe mais no meio do esporte, assim como em todas as outras áreas do nosso país, e ainda mais em um esporte de tamanha grandeza como o futebol", defendeu.

O atleta narrou as ofensas proferidas. (O próximo trecho contém expressões chulas). "Estou no futebol profissional há 14 anos e já vivi diferentes circunstâncias que fazem parte do futebol. Mas ser xingado de 'negão, vagabundo, enfia o dedo no c* desse negão' isso não é normal (...) e ainda menosprezar a cultura nordestina, isso é ainda pior", escreveu Fabinho.

Sobre a xenofobia, a repórter Aline Nastari relatou que o torcedor teria dito que "jogador do nível deles tem que jogar no Norte". "Thiago (Galhardo) até respondeu dizendo que eles precisam estudar geografia, o Ceará é do Nordeste", contou.

Em nota, o Ceará repudiou o episódio e disse que irá tomar "as devidas providências". A assessoria do clube confirmou que o "Departamento Jurídico do clube vai analisar e tratar internamente". O Santos, por sua vez, classificou como "repugnante e inaceitável", e informou que "irá tomar as providências cabíveis frente a quaisquer casos dessa natureza". O presidente do alvinegro praiano, José Carlos Peres entrou em contato com o volante Fabinho e o presidente do Ceará, Robinson de Castro, para reforçar o repúdio do clube e da torcida.

O caso se junta aos episódio de ações discriminatórias monitoradas pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol. De 2014, com contabilização de 20 casos, até 2018, com 88 registros, os números de casos de preconceito no futebol têm aumentado. Desde 2004 até o ano passado, pouco mais de 20 casos de injúria racial foram julgados e incorreram em punição no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) ou no Tribunal de Justiça Desportiva (TJD).

Identificado, o torcedor poderá ficar proibido de ingressar na praça esportiva pelo prazo mínimo de 720 dias (cerca de dois anos), além de responder criminalmente por injúria racial — cujas punições são pagamento de multa e reclusão de uma a três anos. Já ao clube, a Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) prevê multa de R$ 100 a R$ 100 mil, ou até mesmo perda de pontos na competição. Já neste ano, em caso parecido, a pena do Grêmio imposta pelo STJD foi de R$ 30 mil pelo comportamento de parte de sua torcida no jogo contra o Fluminense-RJ, direcionado ao atacante colombiano (e negro) Yony Gonzalez.

A principal punição desportiva no País, coincidentemente envolveu o próprio Santos — na condição de vítima. Em 2014, o mesmo Grêmio foi excluído da Copa do Brasil pelo STJD em função de injúria racial de parte da torcida do time gaúcho contra Aranha, então goleiro santista.

Casos de injúria racial julgados no Brasil

1. Tinga, do Internacional-RS

Em 2005, Juventude foi punido a pagar R$ 200 mil e perder o mando de campo de duas partidas, depois que Tinga ouvia a torcida imitar macacos.

2. Márcio Chagas, árbitro

Em 2005, o técnico Danilo Mior, do Encantado, chamou Márcio Chagas de "negrão coitado". Treinador suspenso por 60 dias.

3. Jeovânio, do Grêmio-RS

Em 2006, o zagueiro Antônio Carlos, do Juventude, foi suspenso por agressão ao volante Jeovânio, do Grêmio. Ao ser expulso, o agora técnico teria comparado o jogador com macaco. Em segunda instância, o atleta foi punido com 120 dias pela ofensa moral e quatro jogos pela agressão.

4. Manoel, do Atlético-PR

Em 2010, Danilo, do Palmeiras-SP, foi suspenso por 5 jogos pelo STJD por atos de injúria racista contra Manoel

5. Vanderlei, do Caxias-RS

Em 2012, o árbitro Jean Pierre Gonçalves Lima denunciou que a torcida do Novo Hamburgo chamou Vanderlei, atacante do Caxias, de macaco. Multa de R$ 10 mil para o clube.

6. Lúcio, do São Paulo-RS

Em 2014, torcedor do Pelotas foi denunciado por ofender o goleiro do São Paulo-RS. O torcedor ficou proibido de ingressar na praça desportiva por 720 dias.

7. Dida, do América-RN

Em 2014, o goleiro Dida, do América-RN, informou que torcedor do Alecrim o chamou de macaco. O Alecrim foi punido no TJD com a perda de três mandos de campo e multa de R$ 20 mil.

8. Márcio Chagas, árbitro

Em 2014, Márcio Chagas encontrou seu carro amassado e com bananas em cima. O Esportivo-RS, mandante do jogo, perdeu nove pontos, três mandos e teve de pagar multa de R$ 60 mil.

9. Arouca, do Santos-SP

Em 2014, Arouca é chamado de "macaco" por torcedores do Mogi Mirim-SP. Multa de R$ 25 mil.

10. Paulão, do Internacional-RS

Em 2014, grupo da torcida do Grêmio-RS imitou o som de macacos para Paulão. Multa de R$ 30 mil.

11. Marino, do São Bernardo-PR

Em 2014, Marino afirma ter sido chamado de macaco por torcedor do Paraná. Multa de R$ 15 mil ao clube.

12. Antonio da Silva, técnico do Vocem-SP

Em 2014, torcedor do Bandeirante-SP proferiu ofensas raciais. Multa de R$ 2 mil.

13. Aranha, do Santos-SP

Em 2014, torcedores do Grêmio xingaram o goleiro Aranha de macaco. Clube perdeu 3 pontos na Copa do Brasil e foi multado em R$ 54 mil.

14. Francis, do Boa-MG

Em 2014, o atacante Francis, do Boa, acusou Antônio Carlos, do Avaí-SC, de injúria racial. Suspensão de cinco jogos e multa de R$ 10 mil.

15. Alberto, Interporto-TO

Em 2015, torcedores do Guaraí-TO proferiram insultos ao zagueiro. Multa de R$ 500.

16. Evanildo Natalino, árbitro

Em 2016, o árbitro relatou que os auxiliares teriam sofrido ofensas racistas de Everton Gonçalves. O atleta foi suspenso por dois anos.

17. Anderson Campos, árbitro

Em 2016, presidente da EPD Imperial desferiu palavras racistas. Suspensão de 255 dias e multa de R$ 1 mil

18. Tchê Tchê, do Palmeiras-SP

Em 2016, torcedor do Atlético-PR gritou "Macaco" quando Tchê Tchê entrou em campo. Multa de R$ 20 mil para o clube; torcedor banido do estádio por 720 dias.

19. Jeff Silva, do Hercílio Luz-SC

Em 2016, Jeff Silva registrou BO para denunciar comentário racista em jogo com o Tubarão-SC. Multa de R$ 5 mil.

20. Messias, do América-MG

Em 2017, zagueiro acusou goleiro do Oeste de racismo. Suspensão por 5 jogos e multa de R$ 5 mil.

21. Uesclei dos Santos, árbitro assistente

Auxiliar cita racismo em súmula: "Macaco tinha que estar na senzala". Fast-AM condenado com perda de três pontos, multa de R$ 1 mil e perda de dois mandos.

Fonte: Observatório da Discriminação Racial no Futebol

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