Sentimento de amor carregado, dedicação máxima e fidelidade. Quatro histórias de devoção pelos dois maiores clubes do Estado. Em comum, Rillary Menezes, Marcelo Leão, Gloria Emanuelle, e Iann Chagas têm a paixão mapeada na pele em tatuagem e loucuras desmedidas por Ceará e Fortaleza, que incluem desde mudança no nome até viagem bate-volta de quase 40 horas.
Hoje, às 19 horas, é dia de Clássico-Rei, é hora de Clássico-Rei no Castelão, em partida válida pela Série a do Brasileiro. Sem torcida nas arquibancadas por conta da pandemia da Covid-19, o quarteto de apaixonados, assim como outros milhares de alvinegros e tricolores, fará coro em casa, mandando o apoio à distância para o clube de coração.
A estudante de Geografia, Rillary Menezes, 21 anos, vivenciou a rotina de jogos do Ceará desde criança por conta do trabalho dos pais, ambulantes com atuação nos estádios Castelão e Presidente Vargas. A relação com o Alvinegro do Porangabuçu só aumentou ao longo dos anos. Quando completou a maioridade, resolveu registrar na pele o orgulho de arquibancada.
"Quis expressar meu amor em forma de tatuagem. Foi totalmente desenhada por mim, com alguns toques do meu colega, que é tatuador. Montei a ideia e ele melhorou. É uma moça segurando um bandeirão com o escudo do Ceará, o que não se vê muito pela questão do machismo, de as mulheres não terem espaço nas arquibancadas. Eu quis representar isso", afirma Rillary. Entre as "loucuras de amor" da torcedora esteve a maratona de 34 horas, entre ida e volta, de Fortaleza a Salvador para ajudar a montar o mosaico em homenagem ao Alvinegro na final da Copa do Nordeste 2020.
Professor de Geografia, Marcelo Roger Bastos de Lima, 36 anos, terá, em breve, no RG, mais uma demonstração de amor ao Fortaleza. Ele aguarda a conclusão do processo de mudança de nome, acrescentando o "Leão" no sobrenome. O docente leva o escudo do Tricolor do Pici, feito em 2009, tatuado nas costas como uma espécie de contrato de fidelidade.
"O Fortaleza é minha religião. Fui forjado na dor dos anos 1990. Vivi a década de ouro (anos 2000). E, em 2009, quando veio a queda para a terceira (divisão), decidi logo quando acabou o jogo que faria a tatuagem. É uma assinatura de contrato entre mim e o Fortaleza. E está do mesmo jeito, nunca retoquei. É um simbolismo. Se mudar é como se traísse o que significa", conta Marcelo Leão, que conheceu a esposa na arquibancada e tornou a filha do casal uma das sócias mais jovens do clube, quando ela ainda completava o terceiro mês na barriga da mãe.
Outra fanática pelo Fortaleza, a vendedora Gloria Emanuelle, 20, não sabe precisar qual a origem da dedicação ao Fortaleza. Não veio por influência de pais ou familiares. Mas foi bater o olho no escudo, nas cores e assistir à torcida ao ligar a televisão que no peito brotou a paixão. O orgulho pelo time é visível no braço esquerdo com a tatuagem de um leão, mascote do Tricolor. No primeiro emprego, a torcedora já realizou o sonho de uma vida de duas décadas ao ser contratada para trabalhar numa loja oficial do clube.
"O Fortaleza, para mim, significa amor. Tem um capítulo da Bíblia, primeiro Coríntios 13, que fala sobre amor. Tem uma parte que fala assim: 'A amor tudo espera, tudo suporta e tudo mais'. É exatamente o que eu sinto", narra a vendedora, que já deixou de pagar passagem de ônibus e comprar lanche da escola na adolescência para comprar ingressos para ela e o pai assistirem ao Leão no estádio.
Do outro lado da rivalidade, o diretor de marketing Iann Chagas, 22, é integrante da torcida organizada "Setor Alvinegro". A relação com o Ceará foi a inspiração para a tatuagem no braço esquerdo. Colecionando jogos na arquibancada para apoiar o Vovô, ele lembra a vitória sobre o ABC, na Série B de 2017, em Natal, como um dos mais marcantes. À época, ele acompanhou o duelo junto a torcedores da equipe potiguar no Frasqueirão, em clima amistoso, de onde pôde ver o gol da então promessa Arthur Cabral, dando seus primeiros passos no profissional.
"O Ceará representa tudo na minha vida, eu vivo o Ceará. Vou em todos os jogos (com exceção dos de portões fechados por conta da pandemia). A Setor Alvinegro é uma torcida 'barra brava', canta os 90 minutos do jogo. Agora (acompanhando os jogos em casa), os vizinhos reclamam. Jogo terminando quase meia-noite, eu grito. Tem reclamação, mas é dia de torcer", resume Iann, ansioso para repetir o grito após este, que será o quarto Clássico-Rei de 2020.