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E-mails indicam que Flamengo sabia do "grande risco" no Ninho antes do incêndio
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E-mails indicam que Flamengo sabia do "grande risco" no Ninho antes do incêndio

Tragédia do Ninho do Urubu, ocorrida em fevereiro de 2019, vitimou 10 jovens jogadores das categorias de base do clube carioca. Dois cearenses estão entre os sobreviventes
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Familiares e torcedores homenagearam as vítimas no CT do Flamengo, em fevereiro de 2019 (Foto: CARL DE SOUZA/AFP)
Foto: CARL DE SOUZA/AFP Familiares e torcedores homenagearam as vítimas no CT do Flamengo, em fevereiro de 2019
Uma troca de e-mails interna no Flamengo mostra que o clube sabia de problemas nas instalações elétricas no CT Ninho do Urubu nove meses antes do incêndio que causou a morte de dez garotos, em fevereiro do ano passado. Na comunicação entre um gerente e outros funcionários rubro-negros, incluindo um diretor, há colocações como "grande risco" e "atendimentos emergenciais".
Os e-mails foram publicados pelo portal Uol. O Estadão entrou em contato com a assessoria do Flamengo, que informou que não iria se manifestar. Uma das empresas citadas, a Anexa Energia, não retornou o contato. Outra empresa, a CBI, não foi localizada.
As mensagens que abordavam o risco de incêndio no Ninho foram trocadas a partir de 11 de maio de 2018 e se referem à visita de um técnico às instalações do CT no dia anterior. "A avaliação foi realizada na presença do Sr. Adilson, da empresa CBI, este indicado pelo Sr. Luiz Humberto (Costa Tavares, à época gerente de Administração do Flamengo), sendo comprovado as não-conformidades e suas gravidades. Conforme a avaliação do Sr. Adilson e relatório anterior, a situação é de alta relevância e grande risco, ficando este de apresentar uma proposta ao Sr Luiz Humberto para atendimentos emergenciais de alguns pontos: quadro elétrico (poste ao lado do refeitório), disjuntores e fiação no jardim, quadro elétrico atrás do alojamento da base", diz o e-mail.
O relatório foi enviado por um funcionário do departamento pessoal a Tavares, à gerente de recursos humanos Roberta Tannure e a um outro funcionário do clube. No dia seguinte, Tavares o encaminhou ao diretor executivo de Administração do Ninho do Urubu, Marcelo Helman. Além do relatório, ele cita que foram identificados "vários itens fora da conformidade com as normas de seguranças exigidas".

Advertência ao Flamengo

O relatório traz dez fotos que atestam os problemas de instalação e faz ainda um alerta. "As irregularidades abaixo não serão tratadas no momento (maio de 2018), pois, conforme informação, o local será demolido e substituído por novas instalações até o fim do ano de 2018, deixando claro que, caso haja fiscalização e autuação, o argumento mesmo que evidente não justifica a irregularidade, ficando a critério do órgão fiscalizador a penalidade ou intervenção", diz o texto.
Ainda segundo o Uol, a empresa CBI teria sido contratada para executar os serviços de manutenção - teria inclusive emitido notas fiscais de cobrança, mas o serviço não teria sido realizado. Quem atestou isso foi outra empresa, a Anexa Energia, contratada pelo clube após o incêndio para produzir parecer sobre as causas da tragédia.
Presidente do clube na época da visita do técnico ao Ninho, o ex-presidente Eduardo Bandeira de Mello disse que o e-mail não chegou até ele. "Como venho falando desde o início, esse tipo de assunto não chega à presidência do clube e o e-mail em questão reforça isso. Em geral são resolvidos internamente, dentro de suas pastas, nos escalões mais baixos e repassados ao financeiro em seguida para pagamento", disse, por nota.
Também por nota, a Defensoria Pública do Rio de Janeiro, que move ação contra o Flamengo junto como o Ministério Público do Estado, afirma que "esses documentos são a prova inconteste da responsabilidade do clube, e serão anexados à ação coletiva. A Defensoria Pública continuará buscando a reparação integral dos danos causados pela tragédia no Ninho do Urubu".
 
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