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Sem medo de se impôr, Ceni sempre soube o peso da própria voz
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Sem medo de se impôr, Ceni sempre soube o peso da própria voz

Gramado do Castelão, VAR e até problemas financeiros do Fortaleza foram "alvo" de críticas do técnico nestes mil dias
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 (Foto: Aurelio Alves/ O POVO)
Foto: Aurelio Alves/ O POVO

Diferentemente da grande maioria de todos os treinadores que já passaram pelo Fortaleza, Rogério Ceni já chegou grande no Pici. A carreira dele como jogador — o goleiro com mais gols na história do futebol em todo o mundo — deu a ele dimensão enorme mesmo em um início de trabalho como técnico. Em diversas coletivas, o comandante tricolor era questionado sobre assuntos gerais do futebol brasileiro, mostrando que a opinião dele tem peso.

Ceni sabe que o que fala repercute e sempre que precisou, não fez cerimônia para usar esse artifício a favor do clube. Em 2018, por exemplo, em meio a Série B do Brasileiro, o treinador criticou o gramado do Castelão após uma vitória contra o Coritiba-PR, jogando em casa. "Isso aqui é uma casa de espetáculo, tem que estar com um gramado impecável (...) eu pensei que aqui fosse para jogar futebol profissional, não futebol amador, favores políticos ou locação para empresas”, disse o ex-goleiro, à época, chegando a chamar de amadora a administração do estádio. A crítica rendeu um trabalho intensivo no campo por 15 dias.

O comandante tricolor também chamou atenção para a atuação do VAR na Série A do Brasileiro em várias oportunidades. Contra o Botafogo-RJ, logo na 3ª rodada da competição do Brasileirão de 2019, o técnico disparou: “O VAR, não sei para que existe”, referente a um pênalti não marcado sobre Wellington Paulista, que poderia ter empatado a partida. Já na 31ª rodada, após derrota para o Corinthians-SP, também fora de casa, ironizou: “O mais importante a ser registrado hoje é a isenção e idoneidade das pessoas que conduziram esse jogo. Acho que é um exemplo que serve bem pro futebol brasileiro e queria deixar aqui o meu elogio e a satisfação que temos para com a arbitragem e o equipamento que tira as dúvidas no futebol”.

Rogério também foi irônico ao criticar a organização do Campeonato Cearense, neste ano. O Fortaleza entrou apenas na segunda fase do Estadual e, dias antes da estreia, não sabia que clube enfrentaria, nem mesmo o dia do jogo. “Nós temos um jogo (no meio de semana), não sabemos contra quem e hoje que eu vi que o Campeonato Cearense não acaba na mesma rodada para todo mundo, tem time que joga hoje (sábado) e time que joga amanhã (domingo) (...) É bem organizado o campeonato, está de parabéns. Organização bem feita”, disse.

As cobranças do técnico também se voltaram para dentro do clube. Ceni fez cobranças por reforços inúmeras vezes, apesar de reiterar que entendia a situação financeira do clube. Ele chegou a criticar publicamente a indefinição de uma possível negociação do Fortaleza com um bilionário russo. “Não precisamos de R$ 20 milhões. Não precisamos de russo nem nada. Pra mim, pouco importa um russo. Não precisamos de dinheiro absurdo para fazer um time competitivo. Precisamos de um pouco mais de recurso que, infelizmente, não temos”.

Rogério Ceni também dirigiu palavras para a torcida do Fortaleza, mas por um bom motivo: defender Romarinho. O jogador não agradava aos torcedores na época e, numa partida contra o Confiança-SE, ao ser chamado por Ceni, ouviu vaias. O treinador virou-se para a arquibancada e deu bronca, afirmando que o jogador era um patrimônio do clube. “Ele é um jogador do Fortaleza. Todos estamos aqui de passagem. Não vejo motivo (para as vaias), com toda sinceridade (...) não entendo o que ele fez de errado, é jogador do Fortaleza, patrimônio do clube, foi comprado pelo Fortaleza”, disse, em coletiva.

Pouco depois, Romarinho marcou em jogo decisivo da Copa do Nordeste 2019, firmou-se no time e virou titular absoluto, a ponto de ser cobiçado por times árabe, mesmo com multa rescisória milionária.

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