Um dia após a vitória sobre o Palmeiras e de alcançar a meta dos 45 pontos, o presidente do Ceará, Robinson de Castro, concedeu entrevista exclusiva ao O POVO e comentou sobre os próximos objetivos da equipe na competição, brigando por vagas na Copa Sul-Americana ou até na pré-Libertadores, e analisou o crescimento do Vovô nos últimos anos em busca da consolidação no Brasileirão.

O POVO - Qual a avaliação de vocês do trabalho do Ceará até a conquista dos 45 pontos, com permanência na Série A garantida com seis rodadas de antecedência?

Robinson de Castro - Acho que é o dever de casa bem feito de muitos anos. O clube se encaminha para se consolidar na Série A. Eu digo que quando um clube faz cinco anos consecutivos, esse clube é de Série A. A gente pode alcançar os cinco anos. Mas assim, já é clube que marca história na Série A. A gente está colhendo os frutos de muito trabalho. No primeiro e segundo anos, tivemos dificuldades de convencer os atletas para vestir a camisa do clube, dificuldade para dar estrutura para eles, funcional, metodologia de trabalho, todo suporte para os atletas, nutrição, fisiologia, parte física. Agora, nossos jogadores são muito mais fortes fisicamente, há a compreensão de formar atleta para a Série A.

Os clubes que chegam na Série A descem no primeiro ano porque não conseguem fazer o investimento necessário, nem a metodologia de formar atleta para enfrentar as 38 rodadas de alta intensidade contra adversários muito fortes, contra os melhores atletas do Brasil. É um processo. Uns vieram prontos, outros formamos. Mesclamos juventude, jogadores com fome (de vencer), a atletas experientes. Fomos desenhando aos poucos. Não se consegue fazer de início, não tem credibilidade, há dificuldade financeira. Eles vêm porque sabem que vão brigar por algo maior. Esse convencimento vem com o tempo.

Hoje o Ceará é mais demandado por atletas, se interessam, já passou por aqui o Thiago Galhardo, se revelou no ano passado. Esse ano é o Vina. Isso chama a atenção. O investimento em divisão de atletas, patrocínio. O time quase todo é nosso. Recuperamos jogadores. Tivemos paciência para recuperar atletas. Recuperamos o Lima. O próprio Wescley está numa fase mais avançada. O próprio Baxola a gente deu uma segurada. São jogadores de qualidade, é preciso ter paciência, não desistir, não cair na pressão de contratação, movimento de imprensa e torcida. Quem iríamos contratar e pra quê, se não tinha no mercado.

Trouxemos o Saulo (Mineiro), o (Pedro) Naressi e o (Felipe) Vizeu. O elenco hoje é o que começou o ano. Trouxemos um elenco pronto para a Série A desde o começo do ano. Contratação por pressão faz com que a gente gaste para dar resposta. Não há necessidade. É uma mudança de cultura do futebol, contratação traz mídia, noticiário.

O POVO - E esses jogadores que foram contratados durante a competição já estão dando resultados...

Robinson de Castro - O Naressi nós conseguimos recuperar, é uma joia do Red Bull. O Saulo, nós fizemos duas cirurgias. Nosso trabalho de departamento físico no clube, hoje, é bem feito. É a "escola de brutamontes". Dá diferença, jogadores fortes, vê como estão hoje. O Cléber ganhou 12 quilos. Vê como o Lima está hoje, o Sobral, o Rick. Pega o antes e o depois. É um trabalho em equipe. O clube se preparou muito, internamente, para se transformar em um clube de Série A. É preciso investir no clube. Isso faz grande diferença, é o que sustenta.

O POVO - Você falou sobre o reconhecimento do Ceará. Agora os jogadores já olham para o Ceará e têm o desejo de vir jogar no clube?

Robinson de Castro - Folha de pagamento em dia como o Ceará só quatro no Brasil inteiro. O Ceará vai se tornar o maior do Nordeste em cinco anos. Já dizia isso há dois anos. Nosso orçamento já está próximo (ao) do Bahia em 2021. É maturidade, amadurecimento. Trouxemos dois executivos de referência nacional, teve aquisição de atletas, investimento na base.

O POVO - Lembro que você me falou em uma entrevista no começo de 2020 que a próxima geração da base seria uma das melhores da história do clube...

Robinson de Castro - É a melhor base do Nordeste disparada. E estamos qualificando, investindo mais, revendo a todo momento. O trabalho está sendo feito, corrigindo os erros, fortalecendo os profissionais. Chegou ao ponto de ter convocação, chamou a atenção. Vieram parar aqui, nunca tinham vindo. O Ceará é reconhecido. Hoje o presidente da CBF me liga para parabenizar.

O POVO - Após atingir os 45 pontos, como você estão planejando essas metas em relação às competições internacionais?

Robinson de Castro - Agora é brigar primeiro pela (Copa) Sul-Americana. Quanto mais pontos fizermos, podemos chegar na Libertadores, que seria algo histórico. Nós estamos montando o planejamento para o próximo ano. Jogadores já foram contatados, estamos montando o grupo para o próximo ano. Vamos manter uma base grande, buscar situações. A gente tem que ir com calma porque não acabou. Vamos conversar com nossos jogadores, temos que ter muito cuidado para não perder o foco.

O POVO - Você já falou bastante sobre o Vina em outras entrevistas, que é algo que deve ser definido no fim do Brasileirão. Mas queria que você falasse sobre a situação do Lima, que é um jogador que vem numa crescente forte e está no Ceará emprestado pelo Grêmio.

Robinson de Castro - Vamos ouvir o Grêmio e o atleta. É um jogador que tem muita identidade com o Ceará, que fez a diferença em 2017 e em 2020. Não foi tão bem em 2019 porque estava voltando de fora. Então demora para conseguir (ajustar) a questão física. O Vizeu está sofrendo com isso, mas aos poucos vai voltando e depois atinge o resultado.