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Matheus Jussa abre o jogo sobre Fortaleza, Copa do Nordeste e racismo
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Matheus Jussa abre o jogo sobre Fortaleza, Copa do Nordeste e racismo

Destaque do Leão neste início de temporada de 2021, o paulista falou com exclusividade para o FutCast, podcast do O POVO
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Com o punho erguido, volante Matheus Jussa comemora gol no jogo Fortaleza x Bahia, na Arena Castelão, pela Copa do Nordeste (Foto: Leonardo Moreira / Fortaleza EC)
Foto: Leonardo Moreira / Fortaleza EC Com o punho erguido, volante Matheus Jussa comemora gol no jogo Fortaleza x Bahia, na Arena Castelão, pela Copa do Nordeste

Para brilhar com a camisa do Fortaleza, o volante Matheus Jussa precisou superar obstáculos complicados na carreira. Entre eles, o período em que ficou sem calendário no futebol para jogar e pensou em fazer corridas de Uber em meio a dificuldades financeiras. Três anos após o episódio, o jogador de 25 anos desembarcou no Pici, emprestado pelo Oeste-SP, e é destaque do Tricolor neste início de temporada 2021.

O camisa 16 do Fortaleza concedeu entrevista exclusiva para o FutCast, podcast do O POVO. Nela, o paulista narrou o início da trajetória como jogador, as principais dificuldades, o momento no Fortaleza, a busca pelo título no Nordestão e a luta contra o racismo. 

OUÇA A ENTREVISTA

O POVO - De onde vem o apelido Jussa?

Matheus Jussa - Desde a base da Portuguesa-SP. Foi meu primeiro clube como jogador de campo. Quando comecei, o pessoal da resenha, que gosta de colocar apelido em todo mundo, me olhou e, na época, o Jucilei, que jogava no Corinthians, estava em alta. Falaram que o Jucilei chegou. Eu fiquei p. da vida. Não gostei. Quando não gosta é pior ainda. Queria que me chamassem pelo meu nome. Não abri a boca para falar nada para não pegar. De repente, todo mundo me conhecia como Jucilei. O técnico da época disse que era muito grande e virou Jussa. Eu falei: 'Pô, não sei o que é pior, se Jucilei ou Jussa'. Pegou e ficou até hoje.

O POVO - Você chegou a ser afastado do Vasco em sua passagem pelo clube carioca. Foi o pior momento da carreira?

Matheus Jussa - Tive dois momentos muito pesados. Foi um dos piores momentos da minha vida. Mentalmente, mexeu muito comigo. Cheguei com expectativa grande. Vou fazer de tudo para subir ao profissional e manter minha carreira aqui. No segundo ano de júnior no Vasco, eu estava como capitão. No meu último ano, fui afastado. Foi bem delicado. Estava sozinho no clube. Dói lembrar. Não quero que ninguém passe por isso, mas me fortaleceu bastante.

O POVO - E qual foi o outro?

Matheus Jussa - No São Bernardo (em 2018). Disputei a Série A2, e o clube não teria mais calendário para o resto do ano. Fiquei em casa. Na época, ainda estava acontecendo algumas coisas minha filha, minha família. Foi momento muito complicado. Tive que me apegar a minha esposa. Nós estávamos namorando. Eu estava morando na casa da minha sogra. Passei noites e noites sem dormir. Parecia que eu estava com depressão. Só queria jogar bola, não queria fazer outra coisa. Fiquei muito preocupado. A idade estava chegando, não tinha clube, não estava na vitrine. Depois de jogar no São Bernardo, pensei em virar Uber, fazer outras coisas. Estava complicado. Esse momento me fortalece até hoje.

"Vou carregar e levantar essa bandeira sempre que puder, sempre que fizer um gol, porque precisa. É necessário, nossa história da raça negra é pesada. É difícil passar por cima disso. O negro que anda de carro bom pode ser parado a qualquer momento" Matheus Jussa

O POVO - E como é para você, três anos depois, estar no Fortaleza e ser destaque?

Matheus Jussa - É uma sensação muito boa. Sabia que com minha dedicação eu chegaria, não sabia como. Desde cedo, coloquei na minha cabeça. Hoje, vestir a camisa do Fortaleza, defender as cores do Leão é gratificante demais. Carrego tudo isso que passei para me fortalecer e colocar toda essa angústia, essa coisa ruim que passou, dentro de campo para defender o que posso.

O POVO - Como o Fortaleza entra para disputa do mata-mata da Copa do Nordeste, favorito, postulante ao título?

Matheus Jussa - Quando a gente entra no campeonato, pensa em título. Se não pensar, não tem propósito de estar ali disputando o campeonato. O Fortaleza entra em busca desse título. Estamos trabalhando firme e forte, focados na busca pelo título. Eu quero muito esse título para a torcida. Os funcionários merecem por toda a ajuda que nos dão. É muito bom aquele ambiente. Todo mundo merece. Com dedicação e foco, a gente vai em busca desse título.

Com o punho erguido, volante Matheus Jussa comemora gol no jogo Fortaleza x Bahia, na Arena Castelão, pela Copa do Nordeste
Foto: Leonardo Moreira / Fortaleza EC
Com o punho erguido, volante Matheus Jussa comemora gol no jogo Fortaleza x Bahia, na Arena Castelão, pela Copa do Nordeste

O POVO - Você fez gol contra o Bahia e fez o gesto de punho cerrado como referência à luta contra o racismo? É uma bandeira que você levanta no futebol?

Matheus Jussa - Vou carregar e levantar essa bandeira sempre que puder, sempre que fizer um gol, porque precisa. É necessário, nossa história da raça negra é pesada. É difícil passar por cima disso. O negro que anda de carro bom pode ser parado a qualquer momento. É um receio de nós, negros. Sempre que anda em carro bom, restaurante bom, frequenta lugares de alto nível, tem esse preconceito. Não precisa falar nada, só no olhar você já entende que tem certo preconceito.

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