Emprestado no início da temporada passada, por avaliação da comissão técnica então comandada por Rogério Ceni, o meia Matheus Vargas retornou ao Fortaleza este ano após boa temporada no Atlético-GO e desde então vem cavando espaço no clube.

Com Enderson Moreira, começou entrando na segunda etapa, depois firmou-se como titular e também agradou Juan Pablo Vojvoda, iniciando quatro de cinco partidas que o argentino comandou até aqui. Apesar de ainda não ter marcado gols pelo Leão, o jovem de 24 anos tem mostrado evolução e potencial de que deverá ser bastante útil ao time na Série A do Brasileiro.

Um dia após a conquista do tricampeonato do Fortaleza, Vargas participou do programa Esportes do POVO, da rádio O POVO CBN e falou sobre seu retorno ao clube, funções em campo, o momento da equipe e a preparação para a Série A do Brasileiro. Confira a íntegra do bate papo:

O POVO - Matheus, você foi contratado pelo Fortaleza na reta final de 2019, mas acabou sendo emprestado no começo do ano seguinte. Fez um bom campeonato no Atlético-GO, voltou e agora está se destacando. Fala um pouco dessa ida e vinda.

Matheus Vargas - Quando eu tive que sair, no começo de 2020, eu fiquei um pouco chateado, porque eu tinha acabado de chegar, não queria sair do Fortaleza naquele momento, mas futebol tem dessas, por vezes você tem que sair para voltar um pouco mais valorizado e não foi diferente comigo. Saí, fiz um bom campeonato no Atlético-GO, agora voltei, estou tendo mais oportunidades; tanto com o Enderson, antes da saída dele, (quanto) agora com o Juan (Pablo Vojvoda); estou tendo oportunidades e fazendo boas atuações. Então, esse retorno foi muito bom, estou conseguindo mostrar meu futebol. É o primeiro título, espero ganhar muitos títulos ainda com a camisa do Fortaleza

O POVO - E como tem sido a comunicação do Vojvoda com vocês, devido ao idioma?

Matheus Vargas - A gente chama ele de 'profe'. Ele está indo bem, está se esforçando no portunhol, dá para entender quase tudo que ele fala. Ele deixou bem claro que esse é um esforço que ele tinha que fazer, porque ele que tinha que se adaptar ao nosso idioma, não nós ao dele. É um cara muito sério, muito trabalhador, todo treino te leva ao limite, ele sempre usa muita intensidade, no trabalho curto ou longo. Essa é a mentalidade dele, jogador tem que ter intensidade, ele deixou bem claro que para jogar com ele tem que ter intensidade, então a cobrança no dia a dia é muito forte. Não é à toa que essa está sendo a diferença. Em cinco jogos foram vinte gols, então essa intensidade foi mostrada dentro de campo. Só está somando para nós jogadores

O POVO - O novo técnico do Fortaleza implantou o treino no dia do jogo quando a partida é no turno da noite (a equipe treina pela manhã). Você já tinha trabalhado dessa forma?

Matheus Vargas - "Foi uma coisa diferente para mim, a primeira vez que isso acontece. Quando tive uma passagem relâmpago pela Grécia, a gente não chegou a treinar de manhã, mas a gente saía para fazer uma caminhada, o elenco todo, após o café da manhã. A gente fazia uma caminhada, mas nunca treino. E foi muito diferente, porque você tem que se adaptar a isso também, acordar mais cedo no dia do jogo. Eu gostei da experiência, porque você fica muito maresiado, pois o jogo é às 21h30min, você passa muito tempo ou somente deitado ou somente no celular e acaba se cansando de não fazer nada. Isso eu vejo do lado positivo, para mim, ajudou. Espero que na sequência, no Campeonato Brasileiro, ajude todos, porque é uma coisa diferente e a gente está se adaptando a isso"

O POVO - Vargas, em 14 dias, o elenco do Fortaleza trabalhou em três esquemas táticos diferentes, com jogadores fazendo funções diferentes. Como assimilaram tão rapidamente?

Matheus Vargas - "O Juan (Pablo Vojvoda) é um cara muito transparente, o que ele precisa falar ele fala pessoalmente ou na frente do grupo todo. Ele sempre deixou bem claro que não trabalhava só em um sistema (de jogo), que a gente tinha que ter mais opções, até para uma mudança dentro da própria partida. Então deixou claro que sempre ia trabalhar com três sistemas: 4-2-3-1, 4-3-3 e 3-5-2. No dia a dia ele está nos adaptando a essas formações. A cobrança está sendo muito intensa porque a gente tem que assimilar mais rápido. O tempo de treinamento é curto, semana que vem já começa o Campeonato Brasileiro, acabamos de sair de um título e já recomeça a Copa do Brasil, então é muito rápido. Por isso que essa palavra intensidade tem sido muito falada, porque é o que ele mais pede. Por mais que não assimile a formação, você tem que ter intensidade para fazer no seu limite. Essa está sendo a diferença das três formações que ele usa"

O POVO - É notório que alguns jogadores se movimentam e atuam de forma diferente na mesma partida. Como funciona essa orientação do técnico?

Matheus Vargas - "Como ele usou o esquema 4-3-3 (no Clássico-Rei), ele pediu muito pra eu fazer a diagonal-fundo, que é uma virtude do sistema. Ele pede para eu e o Ederson rodarmos muito, é uma coisa muito dinâmica. Ele não quer que a gente fique parado, estabilizado, ele quer uma coisa mais viva, mais de movimento. Pode ver, até no nosso lateral ele colocou uma coisa diferente, a gente se movimenta aleatoriamente, até achar um espaço. Então essa é a diferença. Às vezes o espaço não está onde eu deveria ficar, entre linhas, de costas, às vezes está um pouquinho do lado. Então, essa mobilidade ele cobra muito. Tanto minha, quanto do Ederson, quanto do Jussa"

O POVO - Como Vojvoda conseguiu imprimir mudanças na equipe com um tempo de trabalho tão reduzido?

Matheus Vargas - Foi mais na conversa, para ser sincero. Faz duas semanas que ele chegou, então é pouco tempo de trabalho, ainda mais tendo jogos quarta, sábado e segunda. Ele gosta muito de mostrar vídeos da Premier League, que hoje é o melhor campeonato do mundo. A conversa dele é sempre para a gente chegar no ápice. Se hoje o ápice é a Premier League, é o que ele passa. Ele chama o cara no individual, quase todo dia tem um jogador que vai com ele para assistir um vídeo do próprio posicionamento, às vezes do outro jogador, que joga na mesma função. Então ele é um cara que dialoga muito bem conosco

O POVO - A intensidade é o que de mais marcante se consegue ver no trabalho do novo treinador. Como funciona a cobrança dele por isso?

Matheus Vargas - Ele quer que o jogador dele seja mais agressivo, tanto com a bola como sem a bola. Ele fala assim 'meu time tem que jogar com a bola, mas se tiver que correr, a gente vai correr. Eu queria que vocês ficassem com a bola os 90 minutos, mas o futebol é correr'. Ele cobra muito isso, que a gente tem que ser agressivo para ter a bola. A nossa questão da pressão pós-perda (da bola), pressão (em linha) alta, aumentou visivelmente. Você olha o Fortaleza e é um time que tem pressão alta. E isso foi justamente pela cobrança do Vojvoda

O POVO - O Vojvoda já conversou com vocês a Série A do Brasileiro, porque é uma competição de nível técnico superior. Ele já disse como pretende encarar a competição?

Matheus Vargas - O Juan (Pablo Vojvoda) sempre deixou bem claro que a nossa principal competição é a Série A, só que não era a pauta. A pauta do momento era o Cearense, ser campeão jogando bem. Acredito que nessa semana ele vai começar a impor o que ele acha da Série A, como a gente vai se comportar diante de certos adversários, porque cada adversário é diferente, o Atlético-MG tem um super elenco, depois a gente pega outros times que são confronto (direto), na quarta rodada, por exemplo, pega o Atlético-GO, que é decisão para nós, então, a partir de amanhã (hoje) que a gente volta novamente aos treinos ele vai enfatizar o que vai cobrar de nós no Campeonato Brasileiro. A chave vira amanhã (hoje).