Ao final de um dos tantos dias de treino e mais uma vez ausente da relação para um jogo, Marcelo Boeck voltou para casa e foi questionado pelo filho Arthur se voltaria a jogar. O goleiro sentiu o baque, relatou a pessoas próximas e mostrou confiança em ter novas oportunidades. Ídolo do Fortaleza, o camisa 1 viu a chance aparecer com a lesão muscular de Felipe Alves, mostrou boa forma para não sair de campo vazado e espera escrever novos capítulos na história do clube.
No Pici desde 2017, o arqueiro de 36 anos rapidamente criou identificação com o Tricolor e caiu nas graças da torcida. As boas atuações e o espírito de liderança mesmo em momentos ruins na primeira temporada renderam o status de idolatria das arquibancadas — a participação decisiva no acesso da Série C também contribuiu. Ele era o maior nome do elenco que escapou da Série C após oito anos de martírio.
Boeck se manteve absoluto na meta no ano seguinte e levou o troféu de campeão da Série B na Arena Castelão. Em 2019, porém, o cenário mudou. Habilidoso com os pés, Felipe Alves foi contratado a pedido do então técnico Rogério Ceni e, após um revezamento inicial, o camisa 12 assumiu a titularidade — o antigo dono da posição só atuou na Série A daquela temporada quando Felipe se machucou.
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Em 2020, Marcelo Boeck viveu os piores dias no Leão. Sem espaço sob o comando de Ceni, o goleiro atuou apenas uma vez — em fevereiro, na vitória sobre o Caucaia, pelo Campeonato Cearense — e chegou a ficar fora até do banco de reservas em várias partidas. O camisa 1 foi para o final da fila e virou terceira opção para a posição, atrás de Max Walef. O ostracismo despertou interesse de outros clubes do país, mas o alto salário e o desejo do atleta de permanecer eram entraves.
Ausente das concentrações e das viagens, o arqueiro seguia a rotina dos atletas não relacionados e, por vezes, participava das atividades da equipe sub-23 no CT Ribamar Bezerra, em Maracanaú, apurou O POVO. A guerra fria com o então comandante não era suficiente para causar um mal-estar no vestiário, mas não era segredo que ambos não se bicavam. A relação pouco amistosa teve até indiretas de parte a parte em redes sociais e entrevistas.
"Tem muitas vezes que deu vontade de falar alguma coisa, às vezes a gente lê ou escuta algumas coisas, mas o silêncio e o trabalho não tem resposta melhor, porque o tempo de Deus sempre vai dar a resposta certa e a justiça certa. Isso que nós estamos fazendo hoje, não foi a defesa do Boeck no final do jogo, foi a defesa de todo o grupo. Isso é o trabalho de quem está ali trabalhando sério todo dia, leva a sério e ama sua profissão, ama o clube e faz com que o clube queira atingir outros patamares", disse o goleiro, em entrevista após a vitória sobre o RB Bragantino-SP.
Com a ida do ex-goleiro para o Flamengo-RJ, Boeck viu a chance de renascer. Teve o contrato renovado até o final da atual temporada e voltou a ser reserva imediato. Entrou em campo nas vitórias sobre Sampaio Corrêa-MA e 4 de Julho-PI, em março, pela Copa do Nordeste, e logo superou o número de partidas disputadas no calendário anterior. Mas o desejo de atuar outra vez na elite nacional ainda estava aceso.
Na vitória por 1 a 0 sobre o Corinthians-SP, no Castelão, Felipe Alves sofreu edema na coxa esquerda e precisou ser substituído. Marcelo Boeck foi acionado e emendou as atuações contra São Paulo e RB Bragantino-SP, vencidas pelo mesmo placar. Diante do Massa Bruta, o goleiro fez defesa decisiva nos minutos finais para garantir o triunfo e mais um jogo sem sofrer gols.
"Às vezes, as pessoas colocam em causa se nós, por não estarmos jogando tão regularmente, temos condições de jogar em uma Série A e ajudar o Fortaleza. Ali é um momento, não só a defesa... Aquilo que é a nossa filosofia de trabalhar, de fazer o gol, tanto o gol nosso como essa defesa fazem com que eu possa me encaixar novamente naquilo que é a minha história aqui no Fortaleza", avaliou o camisa 1.
"Na minha cabeça, eu estou começando uma nova história dentro do Fortaleza: já tive uma e agora estou começando outra. Sei de toda a dificuldade que é, mas você poder participar diretamente, ajudando os companheiros, e sentir esse carinho da torcida, dos companheiros, de todos os funcionários que são a essência do Fortaleza não tem dinheiro que pague. É aquele prazer de poder ir para casa e saber que fizemos aquilo que tinha que ser feito", completou.