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Desistências de Simone Biles na Olimpíada de Tóquio motivam debate sobre saúde mental no esporte
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Desistências de Simone Biles na Olimpíada de Tóquio motivam debate sobre saúde mental no esporte

A estrela da ginástica artística mundial decidiu não participar das finais por equipes e individual geral diante da pressão externa e de dilemas internos
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(ARQUIVOS) Nesta foto de arquivo tirada em 25 de julho de 2021, a americana Simone Biles compete no evento de ginástica artística de qualificação feminina durante os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 no Centro de Ginástica Ariake em Tóquio. - Simone Biles retirou-se da ginástica olímpica em 28 de julho de 2021. (Foto de Loic VENANCE / AFP) (Foto: LOIC VENANCE / AFP)
Foto: LOIC VENANCE / AFP (ARQUIVOS) Nesta foto de arquivo tirada em 25 de julho de 2021, a americana Simone Biles compete no evento de ginástica artística de qualificação feminina durante os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 no Centro de Ginástica Ariake em Tóquio. - Simone Biles retirou-se da ginástica olímpica em 28 de julho de 2021. (Foto de Loic VENANCE / AFP)

No esporte de alto nível, a pressão sobre os atletas de ponta por bons resultados é constante. Quando os desportistas estão entre os melhores e maiores de suas categorias, este fator é ampliado, principalmente em grandes eventos, como os Jogos Olímpicos. Em Tóquio, a ginasta estadunidense Simone Biles, 24, dona de quatro medalhas de ouro na Rio-2016, desistiu da participação na final da competição por equipes e da individual geral. As ausências da atleta foram justificadas pela busca por um cuidado dela com a própria saúde mental.

"Após uma avaliação médica adicional, Simone Biles se retirou da competição individual geral final nos Jogos Olímpicos de Tóquio, a fim de se concentrar em sua saúde mental. Apoiamos de todo o coração a decisão de Simone e aplaudimos sua bravura em priorizar seu bem-estar. Sua coragem mostra, mais uma vez, por que ela é um modelo para tantos", disse o comunicado expedido pela Federação de Ginástica dos Estados Unidos (USA Gymnastics, na sigla em inglês).

Biles também se manifestou, narrando o motivo da ausência na final por equipes. Os Estados Unidos ficaram com a prata nesta prova. "Não confio tanto em mim como antes. E não sei se é a idade — fico um pouco mais nervosa quando faço ginástica. Sinto que também não estou me divertindo tanto. Eu senti que seria melhor ficar em segundo plano, trabalhar minha concentração e bem-estar, pois sabia que as meninas fariam um trabalho absolutamente excelente. Não queria arriscar uma medalha", explicou.

A desistência de Simone trouxe à tona o debate sobre a saúde mental no esporte de alto nível. Contudo, ela não foi a primeira a se manifestar abertamente sobre isto. A tenista japonesa Naomi Osaka, número 2 no ranking mundial e responsável por acender a pira olímpica de Tóquio-2020, assumiu enfrentar a depressão e, recentemente, em maio de 2021, desistiu do torneio de Roland Garros, um dos maiores do circuito, citando a a pressão como motivo.

Outra lenda do esporte, o ex-nadador Michael Phelps, atleta com maior número de medalhas olímpicas na história, 28, 23 delas de ouro, trouxe, em programa televisivo, a experiência pessoal dele ao falar sobre a situação de Simone Biles. Ele revelou em 2018, dois anos após a aposentadoria, que durante a carreira sofreu depressão e abusou do uso de álcool para fugir da ansiedade. A lenda esportiva ressaltou a importância da busca por ajuda em casos como este.

“Você tem que poder pedir ajuda, quando está passando por períodos difíceis. É algo que tive dificuldade em fazer durante a minha carreira. Espero que o que acontece (com a Simone) permita que as pessoas abram os olhos. Ninguém é perfeito. Às vezes é bom não se sentir bem", pontuou. Outras estrelas como o também nadador Ian Thorpe e o tenista André Agassi narram a luta contra a depressão e a ansiedade em biografias.

No Brasil, a ex-nadadora Joanna Maranhão, que atualmente é comentarista do SporTV, trouxe outro fator relevante nesse caso: o do assédio sexual. Joanna, assim como Biles, foi vítima de criminosos em posição hierárquica superior no contexto dos próprios treinamentos diários. Maranhão levantou esse ponto e disse que essas memórias podem trazer prejuízos a longo prazo.

“Não há nada mais forte do que você ter a coragem de mostrar sua vulnerabilidade. Ela fala sobre saúde mental, ela foi vítima do Larry Nassar (ex-médico da seleção estadunidense de ginástica). A experiência de ter sua integridade violada como atleta. Em algum momento essas memórias te engolem”, falou.

Outro caso notório de problemas com a saúde mental no Brasil é a do ex-jogador de futebol Adriano Imperador, ídolo de Flamengo, Inter de Milão e seleção brasileira. Ele, assim como outros atletas, usou as redes sociais para dedicar palavras de apoio à ginasta.

“Simone Biles, sei exatamente o que você está passando. Não deixe as pessoas te crucificarem. Seja feliz e cuide da cabeça. Passei por isso e até hoje sou questionado. Que Deus perdoe essas pessoas ruins”, escreveu Adriano.

À noite, a ginasta se manifestou, agradecendo o massivo apoio do público. "O amor e apoios transbordantes que recebi fizeram com que eu me desse conta que sou mais que meus feitos na ginástica, algo em que nunca tinha acreditado antes", escreveu no Twitter.


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