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Baile de favela em Tóquio: Rebeca Andrade conquista medalha história na ginástica
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Baile de favela em Tóquio: Rebeca Andrade conquista medalha história na ginástica

Ginasta paulista conquista prata no individual geral e coroa geração de desbravadoras da modalidade, como Daiane dos Santos, Daniele Hypólito e Jade Barbosa
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A brasileira Rebeca Andrade concorre na prova de chão da final geral feminina da ginástica artística durante os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, no Ariake Gymnastics Center, em Tóquio, em 29 de julho de 2021. (Foto: Martin BUREAU / AFP) (Foto: MARTIN BUREAU / AFP)
Foto: MARTIN BUREAU / AFP A brasileira Rebeca Andrade concorre na prova de chão da final geral feminina da ginástica artística durante os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, no Ariake Gymnastics Center, em Tóquio, em 29 de julho de 2021. (Foto: Martin BUREAU / AFP)

"Essa medalha não é só minha, é de todo mundo. Todo mundo sabe da minha trajetória, de tudo que passei. Se eu não tivesse cada pessoa dessa na minha vida, isso hoje não teria acontecido". Na manhã desta quinta-feira, 29, a ginasta Rebeca Andrade levou a imensa geração brasileira da ginástica artística feminina a um patamar nunca antes atingido: o de medalhista olímpica. 

Ao vencer a prata no individual geral da Olimpíada de Tóquio-2020, Rebeca coroou a si e a todas que a antecederam. Desde Luísa Parente, competidora solitária em Seul-1988 e Barcelona-1992, à geração de Daniele Hypólito, que em 2001 conquistou o primeiro pódio nacional da modalidade em Mundiais. Em 2003, foi de Daiane dos Santos o primeiro ouro — naquele "Brasileirinho" no solo que marcou a história da ginástica. Vieram também nomes como Laís Souza, Jade Barbosa, Flávia Saraiva.

Os meninos cresceram junto e, em Londres-2012, a modalidade "medalhou" com o ouro de Arthur Zanetti nas argolas. O ginasta também subiu ao pódio na Rio-2016, bem como Arthur Nory e Diego Hypólito. Mas faltava a medalha das meninas, que começaram a "tradição" nacional da ginástica desde que o ucraniano Oleg Ostapenko, que morreu no início deste mês, assumiu a seleção brasileira em 2001. A prata veio e não podia ser mais simbólica.

Na transmissão da Globo, Daiane dos Santos quase não conseguia falar. Na do SporTV, Jade Barbosa e Daniele Hypólito cumpriam expediente de lágrimas. Porque, como disse a vice-campeã olímpica de ginástica artística no individual geral, a conquista é coletiva.

Em 2003, Daiane dos Santos foi a primeira mulher negra a ganhar um ouro em mundial. Dançando no solo o orgulho de ser brasileira. A ex-ginasta, em entrevista recente, corajosamente narrou episódios de racismo das quais foi vítima na carreira. Rebeca Andrade, que no início da carreira era chamada de "Daianinha de Guarulhos", carrega essa tocha de campeã.

“A primeira medalha (de ouro) do Brasil num Mundial de Ginástica foi negra. A primeira medalha do Brasil na ginástica feminina foi negra. Isso é muito importante. Diziam que a gente não podia estar nesses lugares”, resumiu Daiane.

Na final, que não contou com a multicampeã e favorita Simone Biles — outra ginasta negra que carrega a tocha de Daiane e que apareceu vibrando na arquibancada durante a performance da "Daianinha" —, Rebeca fez duelo nota a nota com a norte-americana Sunisa Lee e as russas Angelina Melnikova e Vladislava Urazova. A brasileira foi a melhor no salto sobre a mesa, com 15,300, mas a norte-americana foi dominante nas barras assimétricas, com a mesma nota. 

Na trave, Urazova foi destaque, enquanto no solo, a japonesa Mai Murakami foi a única a chegar aos 14,000 pontos. No fim, Lee foi a mais regular, com Rebeca perdendo pontos preciosos no solo — dois passos que sobraram para fora do tablado na performance marcante do funk "Baile de Favela", do MC João. A norte-americana terminou com o ouro, com 57,433; a brasileira com a prata, 57,298 e Melnikova com o bronze, 57,199.

A prata só veio graças ao trabalho coletivo. A ação rápida de Chico, treinador dela, que pediu revisão da nota de Rebeca na trave, penúltimo aparelho em que competiu, acabou por mudar a cor da medalha. Após a solicitação, os juízes deram 0,1 ponto a mais para a brasileira, que ficaria 0,099 acima da rival do Comitê Olímpico Russo.

Já medalhista, Rebeca tem mais duas chances de subir ao pódio. Ela está classificada em duas finais por aparelho: salto sobre a mesa (na qual foi a melhor no individual geral) e solo. Outra brasileira, Flávia Saraiva, compete na trave. No masculino, Arthur Zanetti tenta a terceira medalha olímpica nas argolas, enquanto Caio Souza é representante no salto.

Calendário das provas restantes da ginástica artística

Domingo, 1º, às 5h45min - Individual por aparelhos: Salto – Rebeca Andrade

Segunda-feira, 2, às 5 horas - Individual por aparelhos: Argolas – Arthur Zanetti

Segunda-feira, 2, às 5h45min- Individual por aparelhos: Solo – Rebeca Andrade

Segunda-feira, 2, às 6h54min - Individual por aparelhos: Salto – Caio Souza

Terça-feira, 3, às 5h48min - Individual por aparelhos: Trave – Flávia Saraiva

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