O primeiro dia de Tiago Nunes como técnico do Ceará, ontem, foi agitado. Ele chegou a Fortaleza por volta do meio-dia, almoçou com o presidente do clube, Robinson de Castro, conheceu a sede do clube, em Porangabuçu, foi a campo comandar o primeiro trabalho com o elenco e, no fim da tarde, concedeu a primeira coletiva oficial.

Sereno, o novo comandante do Vovô não fez promessas. Preferiu afirmar que vinha para contribuir e, principalmente, tentar manter a boa campanha do clube. Quanto ao objetivo, manteve o que a direção fala desde antes da Série A começar: melhorar a campanha do ano passado. Ele demonstrou bastante confiança no elenco do time para isso e mencionou os jogadores como um dos fatores que o fizeram aceitar o convite do clube.

"(Aceitei) Primeiro pela característica dos atletas, jogadores que são potentes fisicamente e que têm capacidade de jogar em mais de uma posição, muitos deles, também pela performance que o clube já vem demonstrando nas últimas temporadas. O segundo motivo é que a cada ano o Ceará está crescendo, demonstrando capacidade de também competir por títulos, não só competir por vagas. Me seduz esse tipo de desafio (...) Somado às informações externas, da condução política do clube, através de uma estabilidade, do último trabalho do Guto (Ferreira), que foi de mais de um ano e meio. Isso dá confiança para o treinador imaginar que ele possa ter uma longevidade”, explicou.

O ponto crucial para a mudança de comando no Ceará, porém, foi o desempenho do time em campo. A derrota em jogo apático diante do América-MG foi a gota d’água e a diretoria foi ao mercado buscar um comandante de perfil ofensivo. Tiago Nunes, porém, não se reconhece somente nesta descrição.

“Eu sou avesso a rótulos, principalmente esses que estão cada vez mais estabelecidos de que um treinador é ofensivo e outro defensivo, que se tem obrigação de jogar propondo o jogo. Sempre tive o cuidado de tentar explorar todos os momentos do jogo. Já treinei equipes extremamente defensivas, que jogavam no contra-ataque e já treinei equipes extremamente ofensivas, que propunham o jogo dentro e fora de casa a qualquer custo. Vai muito da característica dos jogadores, das circunstâncias do adversário. Eu penso que o treinador deve ter a qualidade de saber transitar entre todos os modelos de jogo, não ser especificamente especializado em um”, avalia.

A herança deixada por Guto Ferreira, de uma defesa mais consistente será mantida, mas explorando outras capacidades técnicas de jogadores com potencial para “resolver o jogo”, disse o novo treinador.

Um desses jogadores, para Nunes, é Vina. "Ele é um atleta reconhecidamente com alto potencial técnico e capacidade de resolver o jogo. Os números dele esse ano mostram que ele é um dos jogadores que tem mais capacidade de participar de momentos decisivos, tanto com assistências, como com gols, passes que antecedem a assistência. Ele é um cara que sempre que toca na bola é decisivo. Então esse tipo de atleta tem que estar sempre sendo potencializado, tocando muitas vez na bola, participando, jogando em setores do campo onde ele pode dificultar mais a vida do adversário e esse é o papel do treinador, colaborar nesse sentido”, explicou.

Tiago Nunes acredita também que pode recuperar jogadores em viés de baixa no elenco alvinegro. Questionado sobre o atacante Yony González, que já foi elogiado por ele no passado, o treinador disse que ele precisa merecer ser escalado.

"É um atleta que comigo sempre teve ótima postura profissional, sempre treinou, se dedicou, deu o máximo e a exemplo de todos os atletas, a ideia é oportunizar. Acredito muito na meritocracia, que o próprio atleta se escala. Não acredito em regras, protocolos pré-estabelecidos, cadeiras cativas. Fizemos o primeiro treino aqui e os caras se dedicaram muito. É isso que vou tentar colher todo dia. Quem se dedica mais, merece mais. Se o Yony for esse jogador, vai ter mais oportunidades, se não for, não vai ter oportunidades", garante.

Sobre reforços, o comandante alvinegro disse que se for possível, buscará peças para agregar, mas deixou bem claro que se não receber mais ninguém, com o grupo que tem, é capaz de alcançar os objetivos.

"O grupo é competente, tem qualidade, é competitivo, mas se houver a possibilidade de agregarmos mais qualidade, sem dúvida, vamos ver as possibilidades. Não é contratar por contratar, é buscar atletas que venham realmente para acrescentar qualidade, aumentar disputa interna pelas posições, a competitividade. Vamos discutir nos próximos dias, se houver possibilidade, sim, mas se por acaso se não vier, penso que o grupo é competitivo e tem qualidade suficiente para alcançar os objetivos que foram traçados", concluiu.