Após pouco mais de um ano, Ceará e Fortaleza precisarão voltar à mesa de negociações para discutir os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro em TV fechada a partir de 2022. Com o anúncio da saída da Turner da Série A no final deste ano, os clubes começam a se articular para fechar acordos mais vantajosos financeiramente e podem usar a Lei do Mandante como trunfo nas tratativas.
Em agosto do ano passado, meses após o início da pandemia de Covid-19 e do congelamento dos pagamentos das cotas em razão do adiamento do Brasileirão, os sete clubes (Athletico-PR, Bahia, Coritiba-PR, Santos-SP e Palmeiras-SP, além da dupla cearense) vinculados à emissora do Grupo WarnerMedia renegociaram o acordo, que tinha duração até 2024, mas previa brecha para o rompimento a partir de 2022.
Além de cobrar os valores em aberto da temporada 2020, as equipes se uniram à demanda do Fortaleza, que reclamava do valor recebido — cerca de R$ 9 milhões — pelo contrato fechado em 2016, inferior em relação aos demais. Nas tratativas em bloco, que se arrastaram por algumas semanas, os dirigentes aceitaram ceder para o Leão do Pici se equiparar nas cifras.
A repactuação do acordo rendeu exatos 6.903.790,35 a mais aos cofres do Tricolor na temporada 2020, apurou O POVO, totalizando R$ 16.569.096,85 oriundos da Turner — sem contar a cota por exibição de jogos e performance. O Ceará, assim como os outros cinco clubes, já recebia cerca de R$ 23 milhões.
De acordo com o UOL Esporte, o investimento da Turner na temporada de 2021 da Série A é de R$ 182 milhões, montante dividido entre os clubes. Ceará e Fortaleza embolsaram R$ 13 milhões cada e receberão nova fatia semelhante ao final da competição. Nos próximos três anos, portanto, alvinegros e tricolores, juntos, receberiam ao menos R$ 120 milhões.
Na última terça-feira, 28, a Turner comunicou que "não exercerá o direito de transmitir o Campeonato Brasileiro da Série A", uma vez que "a oferta de transmissão fragmentada do Campeonato Brasileiro de Futebol não permite à companhia proporcionar uma experiência integral aos seus assinantes". "Com venda pulverizada para a TV aberta e outras plataformas, além de outros fatores limitantes como falta de jogos exclusivos e os blackouts, o modelo atual não é sustentável para a companhia", completa a nota da empresa.
A partir de agora, os clubes estão abertos às conversas no mercado de direitos de transmissão e devem novamente se articular em bloco. O Grupo Globo surge como favorito para assegurar a exibição em TV fechada no SporTV. O modelo é o mesmo de TV aberta, em que Leão e Vovô já têm contrato: 40% de forma igualitária, 30% por desempenho no Brasileirão e outros 30% pelo número de transmissões.
As equipes, entretanto, não descartam ouvir e negociar com outras empresas, uma vez que os novos acordos já serão assinados com a vigência da Lei do Mandante, sancionada no último dia 20 pelo presidente da República, Jair Bolsonaro. A regulamentação prevê que o clube que sedia o jogo é o dono exclusivo dos direitos de transmissão e não abrange os vínculos firmados anteriormente à sanção presidencial, mas já vale para novos contratos. Portanto, Ceará e Fortaleza poderão comercializar para TV fechada os respectivos 19 jogos dentro de casa na Série A a partir de 2022.
"O primeiro ponto é saber como outros players, as big techs, vão se interessar por esse pacote de jogos, porque vai ser a primeira negociação já com a Lei do Mandante em vigor, e isso infla bastante o poder do pacote desses times. O recado da própria Warner já é muito claro: tem que ser uma negociação em conjunto. Os próprios sete clubes já me parecem muito conscientes de que precisam negociar em conjunto. Isso valoriza o produto, dá um indício de que tem gente querendo se unir. O grande ponto dessa negociação é saber o quanto a Lei do Mandante vai influenciar", analisou o jornalista Gabriel Vaquer, colunista de mídia esportiva do portal Notícias da TV.
Contratos de Ceará e Fortaleza na Série A: