Logo O POVO+
Pelé, o inventor do país do futebol
Esportes

Pelé, o inventor do país do futebol

Pelé só é o rei do futebol porque resolveu jogar este esporte. Se a opção fosse por qualquer outra arte, ele seria a majestade desta sublimação
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Pelé, o rei do futebol, em 1961, auge técnico do craque do Brasil e do Santos (Foto: AFP)
Foto: AFP Pelé, o rei do futebol, em 1961, auge técnico do craque do Brasil e do Santos

Se a grama que Edson Arantes do Nascimento desbravou em 1958, aos 17 anos, fosse a de Wimbledon, o Brasil hoje seria o país do tênis. 

Pelé apresentou o Brasil pro mundo. Pelé deu vazão à carência nacional por ídolos imbatíveis que pudessem apagar os sofrimentos cotidianos. Pelé trouxe o tri, fez mil gols. Pelé era sobre-humano em tudo que Edson era humano.

Não dá para circunscrever Pelé ao futebol. Ou ao esporte. "Alienado politicamente", ele mostrou a força dos negros, dos latinos. Quebrou a roda da história eurocêntrica e, com a bola nos pés, impulsionou-se como o maior artista no principal palco do mundo.

A questão nunca foi se Pelé é ou deixa de ser o maior jogador de futebol da história. Ou o maior esportista da história. Ele é, com todos os contrastes, a síntese do brasileiro. Gênio, contraditório, preto, belo. Um homem de família que rejeitou uma filha. Um ser régio que borrou a linha entre esporte e arte.

O Brasil, recentemente, passou a rejeitar Pelé pelos pecados do humano Edson. Mas ele é Rei, não Deus. A rejeição a seu ícone máximo é sintoma de uma país que trata a própria identidade como doença autoimune.

Nunca saberemos o que seria do futebol sem Pelé. Nunca saberemos o que seria do Brasil sem Pelé — não há Brasil sem Pelé.

Sorte nossa que a arte é imortal.


O que você achou desse conteúdo?