Logo O POVO+
Retrospectiva 2022: títulos, primeira Libertadores e reação marcam ano do Fortaleza
Esportes

Retrospectiva 2022: títulos, primeira Libertadores e reação marcam ano do Fortaleza

Em 2022, o Tricolor do Pici conquistou a Copa do Nordeste e Campeonato Cearense de forma invicta, avançou até às oitavas de final da Libertadores e quartas da Copa do Brasil, além de uma campanha memorável na Série A
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Tricolor teve boas campanhas em 2022 (Foto: Staff Images / CONMEBOL)
Foto: Staff Images / CONMEBOL Tricolor teve boas campanhas em 2022

A temporada de 2022 foi repleta de conquistas para o Fortaleza. Campeão invicto do Campeonato Cearense e Copa do Nordeste, o Tricolor do Pici também protagonizou feitos históricos em sua estreia na Libertadores e na Série A, figurando novamente entre os oito melhores times da elite nacional.

Apesar do saldo positivo ao término da temporada, a trajetória do Leão ao longo do ano não foi marcada apenas por glórias. No momento de crise, assolado pela lanterna no Brasileirão, o clube demonstrou resiliência para solucionar problemas e convicção no trabalho de Juan Pablo Vojvoda.

Montagem do elenco e uma nova forma de atuar no mercado

O Fortaleza iniciou a temporada de 2022 sob grande expectativa, sentimento construído pelas conquistas históricas que o clube havia protagonizado no ano anterior, dentre elas a quarta colocação na Série A, classificação inédita para a Copa Libertadores, semifinal da Copa do Brasil e título do Campeonato Cearense.

Apesar de manter a base do elenco que participou da campanha de 2021, a diretoria do Tricolor do Pici foi incisiva no mercado da bola. Com a Copa Libertadores no calendário de competições, a cúpula do escrete vermelho-azul-e-branco, ciente da necessidade de montar um plantel mais robusto, mudou a estratégia, sobretudo pelo nível de exigência que teria na temporada.

Diferente de outros anos, quando o Fortaleza optou por jogadores com baixos custos, sem contrato ou por empréstimo, desta vez o Leão priorizou a compra de direitos econômicos de atletas com potencial de valorização financeira e retorno técnico. Ao todo, o clube investiu R$ 17,6 milhões na primeira janela de transferência.

Início avassalador

O começo de temporada do Fortaleza foi soberano. O favoritismo criado em volta do time, embora correspondido dentro de campo posteriormente, passou por um momento de instabilidade no início da temporada, sobretudo pelo excesso de empates, o que não atrapalhou a evolução do time. Nos três primeiros meses do ano, a equipe tricolor teve a Copa do Nordeste e Campeonato Cearense como torneios prioritários.

Neste período, o Tricolor não sofreu nenhuma derrota sequer, totalizando, em 15 jogos — que incluem quatro confrontos válidos pelo Cearense e 11 pelo Nordestão —, 10 vitórias e cinco empates, sendo o único time da Série A ainda invicto naquele momento da temporada.

Garantido nas quartas de final do campeonato estadual devido à mudança de formato da competição, o Nordestão tornou-se o principal foco do Leão no mês de janeiro e boa parte de fevereiro.

A estreia no regional — e também em 2022 — aconteceu diante do Sousa-PB, com goleada por 5 a 0 na Arena Castelão. Nos jogos seguintes, o Tricolor venceu o Floresta (2 a 0), empatou com o Ceará (1 a 1), Náutico (2 a 2) e Botafogo-PB (1 a 1), e derrotou o Bahia (3 a 1). Nos dois últimos jogos da fase de grupos, o time voltou a amargar um empate, desta vez com o Altos-PI (1 a 1), mas triunfou sobre o CRB-AL (2 a 0) na rodada final.

Com o desempenho, o Fortaleza garantiu a primeira colocação do Grupo A da Copa do Nordeste e, consequentemente, classificação às quartas de final, onde enfrentou e goleou o Atlético-BA por 5 a 1. Na semifinal, contra o Náutico, vitória sem sustos por 2 a 0, triunfo este que colocou o Tricolor novamente em uma final do Nordestão após três anos.

Em paralelo à campanha na Copa do Nordeste, a equipe entrou na disputa do Estadual. Nas quartas de final, enfrentou o Pacajus e não deu chances ao Cacique: vitórias nos dois jogos com placar agregado de 6 a 0. Na semifinal, Clássico das Cores acirrado diante do Ferroviário, mas com dois triunfos conquistados, 1 a 0 no jogo da ida e 2 a 1 na volta, ambos no Castelão.

Eficiente, o Fortaleza cumpriu as metas iniciais da temporada e chegou com autoridade às finais do Campeonato Cearense e Copa do Nordeste, de forma invicta e com amplo favoritismo para conquistar as taças. Nas decisões, o Leão não decepcionou.

Bicampeão do Nordeste

De um lado, o Fortaleza, do outro, Sport. Clássico regional valendo a desejada taça da Copa do Nordeste. O primeiro duelo aconteceu em Recife, no dia 31 de março, na Arena Pernambuco. Em jogo emocionante, o Tricolor saiu na frente do placar com gol de Zé Welison aos 39 minutos do segundo tempo, mas acabou sofrendo o empate aos 45, resultado que deixou tudo em aberto para o duelo final.

Em uma noite de domingo, 3 de abril, Arena Castelão lotada, mosaicos e muita festa na arquibancada, o Tricolor conquistou, pela segunda vez, o título do Nordestão. Mas a partida não foi fácil, pelo contrário: repleta de polêmicas e apreensão até o fim.

Com a bola rolando, o gol do Tricolor aconteceu já nos minutos finais do primeiro tempo, quando Moisés foi derrubado pelo zagueiro Rafael Thyere dentro da grande área. O árbitro não hesitou em marcar a penalidade. Na cobrança, Yago Pikachu chutou rasteiro no canto esquerdo do goleiro Mailson, que chegou a tocar na bola, mas não conseguiu evitar que ela entrasse.

Apesar da tensão, o Fortaleza segurou o placar e garantiu o título regional de forma invicta, para alegria da massa tricolor presente no Gigante da Boa Vista.

Tetra cearense do Fortaleza, bi de Vojvoda

A final do Campeonato Cearense aconteceu em um momento de instabilidade do Fortaleza na temporada, marcada por derrotas na Série A e Copa Libertadores. Apesar desse cenário, o escrete vermelho-azul-e-branco confirmou o favoritismo diante do Caucaia na decisão do Estadual. Após empate sem gols na primeira partida, as equipes chegaram para o duelo decisivo com a obrigação de vencer no tempo regulamentar para conquistar o título.

Se o confronto de ida havia sido equilibrado, o da volta foi o completo oposto. O Fortaleza, com uma postura dominante, controlou a partida do início ao fim e goleou a Raposa Metropolitana por 4 a 0, com gols de Silvio Romero, Ronald e Yago Pikachu (2x).

Pela quarta vez consecutiva o Leão conquistou o torneio estadual, sequência que possibilita o time de brigar pelo o inédito pentacampeonato em 2023. Para Vojvoda, foi o segundo título da competição sob o comando do Tricolor — e o terceiro dele na carreira como treinador.

O sonho da Libertadores

Primeiro clube cearense a participar da Copa Libertadores, a histórica estreia do Fortaleza no torneio continental aconteceu em 7 de abril, com mais de 50 mil pessoas presentes na Arena Castelão. Apesar da atmosfera positiva, o Leão não teve boa atuação diante do Colo-Colo e foi derrotado pelo time chileno por 2 a 1.

A partida seguinte foi ainda mais grandiosa. Pela segunda rodada, o Leão enfrentou o poderoso River Plate no Estádio Monumental de Nuñez. Com personalidade, o Fortaleza iniciou a partida criando ótimas situações para abrir o placar, mas sem a eficiência necessária nas conclusões dos lances.

Cotado como um dos favoritos a conquistar o título da Libertadores e com o apoio massivo da torcida, o River aos poucos passou a controlar as ações do jogo. A equipe argentina, ainda no primeiro tempo, construiu o placar que garantiu a vitória: 2 a 0, com gols de Enzo Fernández — atual campeão da Copa do Mundo com a Argentina — e De La Cruz.

Com duas derrotas seguidas, o Fortaleza chegou para o duelo contra o Alianza Lima-PER pressionado. Precisando pontuar para seguir vivo em busca da classificação, o Leão se impôs na Arena Castelão contra os peruanos e venceu por 2 a 1, com gols de Silvio Romero e Hércules, um triunfo emblemático para a história do clube do Pici.

Mesmo com a vitória, o cenário para o Leão era complicado. Seria preciso vencer jogos fora de casa contra o Alianza Lima e Colo-Colo, além de pontuar diante do River Plate na capital cearense. Foi exatamente esse roteiro que aconteceu.

No Estádio Alejandro Villanueva, no Peru, o Fortaleza voltou a derrotar o Alianza Lima, desta vez pelo placar de 2 a 0, com gols de Yago Pikachu e Moisés. Contra o River, no Castelão, empate em 1 a 1, com o Tricolor saindo na frente do placar com tento de Silvio Romero. Com o time argentino matematicamente classificado, restou uma vaga no grupo, e a decisão ficou para a última rodada.

No Chile, Colo-Colo e Fortaleza entraram em campo com a certeza de que, quem vencesse, se classificaria para as oitavas de final. O time chileno, devido punição, precisou atuar com os portões fechados, sem a presença da torcida, cenário que deixou os jogadores do Leão mais confortáveis dentro de campo.

Em noite de ótimo desempenho ofensivo, o Fortaleza chegou a abrir 4 a 1 no placar. Na reta final, os chilenos diminuíram para 4 a 3, mas não foi o suficiente para impedir a vitória tricolor, que saiu do Estádio Monumental David Arellano com a histórica classificação às oitavas de final na bagagem.

Entre os 16 melhores times do torneio, o Fortaleza foi sorteado para encarar o Estudiantes-ARG. Naquele momento da temporada a equipe passava por sérios problemas na Série A do Campeonato Brasileiro, cenário que impactou o desempenho do time contra os argentinos.

No embate, empate por 1 a 1 no primeiro jogo, realizado na Arena Castelão, e vitória tranquila do Estudiantes na Argentina por 3 a 0. A eliminação, porém, não ofuscou a grande campanha de estreia da equipe no principal torneio do continente.

Mais um Clássico-Rei vencido na Copa do Brasil

Por ser um dos clubes brasileiros representando o país na Libertadores, o Fortaleza entrou na Copa do Brasil já na terceira fase da competição. O primeiro adversário foi o Vitória, cujo agregado terminou em 4 a 0 para o time cearense.

Nas oitavas de final, o script da última temporada se repetiu: novamente um Clássico-Rei, agora válido pelas oitavas de final da competição. O duelo, além de toda importância esportiva por envolver uma imensa rivalidade, também tinha uma premiação milionária em jogo, já que o vencedor embolsaria 3,9 milhões.

O confronto, como costuma ser, foi equilibrado. No primeiro jogo, vitória por 2 a 0 do Leão, com dois gols de Yago Pikachu. Na segunda a decisiva partida, triunfo do Vovô por 1 a 0, com gol de Vina. Apesar da derrota, o Tricolor garantiu a classificação pelo saldo positivo no placar agregado.

Nas quartas de final, entretanto, o Fortaleza não conseguiu superar o Fluminense e foi eliminado pelo clube carioca, com derrota por 1 a 0 no jogo de ida, na Arena Castelão, e empate em 2 a 2 no Maracanã. Ao todo, o Tricolor do Pici conquistou R$ 8,8 milhões em premiação no torneio nacional.

Série A: do inferno à glória

A Série A foi uma verdadeira montanha-russa de emoções para o Fortaleza, que viveu dois turnos completamente distintos em questão de desempenho — e colocação na tabela. A primeira metade do Brasileirão foi um pesadelo: 15 pontos somados, somente uma vitória como mandante, lanterna do certame e 75% de chance de rebaixamento.

Para evitar o descenso, o Fortaleza precisava somar 30 pontos dos 57 possíveis, o dobro que conquistou no primeiro turno. Assim, a equipe alcançaria os 45 pontos, número considerado o suficiente para escapar da Série B.

O cenário caótico foi potencializado por problemas extracampo, como a saída de Yago Pikachu, artilheiro e principal destaque da equipe, vendido ao futebol japonês, além da polêmica envolvendo Renato Kayzer, que protagonizou cenas de indisciplina internas que desagradaram a diretoria do Leão.

Além disso, protestos da torcida se acentuaram. O atacante Robson, inclusive, chegou a ser agredido por um torcedor do clube enquanto tentava deixar o aeroporto, após ter retornado com a delegação tricolor de Santa Catarina. No mesmo dia, Lucas Crispim, por ter feito uma festa, foi afastado das atividades do clube.

Mesmo com o cenário caótico, Marcelo Paz manteve-se firme em suas convicções, sustentou a permanência de Vojvoda no cargo e investiu em contratações para suprir as carências do time. Essas decisões surtiram efeito positivo e uma reação improvável aconteceu. Da lanterna, o Fortaleza alcançou a Libertadores.

Atletas como Thiago Galhardo, Lucas Sasha, Caio Alexandre, Brítez e Pedro Rocha causaram grande impacto no aspecto tático e técnico da equipe, sendo importantes peças na retomada do bom futebol do Tricolor. Além dos citados, Fabrício Baiano, Otero e Luan Polli também chegaram ao Pici para reforçar o plantel. Fernando Miguel, reserva durante a maior parte do primeiro semestre, também foi um nome fundamental.

Com novas peças à disposição, Vojvoda também se reinventou. Deixou o 3-5-2 de lado e passou a utilizar o 4-4-2, esquema que fez o time crescer de produção dentro de campo. A reação foi imediata e a segunda metade do torneio impecável. Em 19 jogos, o Fortaleza somou 12 vitórias, quatro empates e apenas 3 derrotas, a melhor campanha de uma equipe nordestina em um turno da Série A.

A vitória por 2 a 0 sobre o Santos, na Vila Belmiro, pela última rodada no Brasileirão, coroou a reação histórica do time. De lanterna, a equipe comandada por Vojvoda terminou a competição na oitava colocação, garantindo assim vaga na segunda fase preliminar da Copa Libertadores.

No fim, saldo mais que positivo para o Fortaleza, que venceu dois títulos de forma invicta, protagonizou grandes campanhas na Libertadores e Copa do Brasil, além de estar, pelo segundo ano consecutivo, entre os oito melhores do Brasileirão.

O que você achou desse conteúdo?