O Castelão reabriu no dia 2 de março com a promessa de mudar uma realidade que foi inerente ao equipamento nos últimos dois anos: ter um dos piores gramados dos principais estádios do Brasil. Palco de partidas da Série A do Brasileiro e jogos internacionais, a praça esportiva recebeu críticas a nível nacional e até a Conmebol se preocupou com o “tapete”.
Com um novo gramado, natural e após 75 dias do plantio, a bola voltou a rolar no Gigante da Boa Vista e logo depois da primeira partida, a primeira crítica foi registrada. “Acho que pode melhorar, ter menos areia e que a bola possa rolar, e não quicar tanto como tem acontecido”, disse o atacante Thiago Galhardo, mesmo após goleada por 4 a 0 do Fortaleza no Deportivo Maldonado-URU.
De fato, a quantidade de areia no campo era notável. A cada disputa mais forte pela bola, ou chutes com mais rispidez, subia terra. A grama também parecia mais rala que o normal. Os jogos foram avançando e a expectativa de melhora não se cumpriu. E para além da areia, foi possível notar alguns tufos de grama se soltando, o que deixa algumas partes descobertas. No intervalo das partidas, inclusive, algumas vezes um funcionário do estádio entra em campo para arrumar alguns espaços.
Além de críticas, a situação tem gerado questionamentos quanto ao trabalho realizado no “palco” do Castelão, que teve um investimento de R$ 1,95 milhão — houve também ampliação e troca do sistema de irrigação e das camadas abaixo da grama.
Responsável pela manutenção do gramado, a Secretaria do Esporte (Sesporte) foi procurada pelo O POVO para responder a seis questionamentos enviados, que indagavam a respeito das condições no primeiro mês de uso, cuidados, recepção das críticas, trabalhos de correção entre jogos, medidas para evitar desgaste e se a entrega tinha sido feito no tempo correto. Em retorno foi enviada uma nota, que não respondia diretamente a todas as perguntas, mas que traziam algumas informações importantes.
A Secretaria admitiu que a entrega foi feita no “prazo mínimo aceitável” de 75 dias, enquanto o ideal de desenvolvimento seria de 100, e que fez isso para atender a jogos de grande porte, que só são comportados pelo Castelão. Disse que existe um cronograma de manutenção diária, que inclui a poda do tapete sempre depois de uma partida e que devido ao gramado ser jovem e receber muitos jogos, “um programa de adubação mais acentuado foi adotado para estimular seu desenvolvimento e aumentar sua massa foliar”.
Em coletiva concedida ontem, no Pici, o presidente do Fortaleza, Marcelo Paz, relatou que em conversa com membros da Sesporte e Superintendência de Obras Públicas (SOP) e contou foi cogitado por eles um trabalho específico para diminuir a quantidade de areia no campo, mas houve recuo pela possível consequência.
“Ia se pedir um equipamento para fazer furos no gramado, para que a areia descesse, mas se fizesse os furos, como a grama ainda não está com a raiz na profundidade ideal, ia ser pior, porque podia soltar a grama", explicou. O dirigente contou que foi explicado a ele que optou-se por plantar o novo gramado ao invés de fazer o uso de tapetes (placas) para ganhar em longevidade, porém é necessário que a raiz tenha 21cm de profundidade para que esteja bem fixada e se façam intervenções.
Paz lamentou a atual situação e disse que espera ver o campo de jogo do Castelão da melhor forma possível. “O que a gente pode fazer? Eu não vou ficar aqui toda hora reclamando, não é meu papel, Agora, internamente, a gente vai lá, conversa, tenta entender [...] O que eles pedem é paciência que com o tempo o gramado vai se sedimentar. A reclamação principal é de que tem areia e ela vai baixar com o tempo”, disse.
O volante Caio Alexandre, do Fortaleza, também comentou sobre o assunto após a vitória sobre o Palestino, pela Sul-Americana: “Acho que dá para ver pela TV como está o estado do campo. Ainda bem que choveu, melhorou bastante. O problema é que não vai chover em todos os jogos, a gente fica preocupado, não com agora, mas com o restante dos campeonatos”.
O POVO procurou o Ceará, via assessoria de imprensa, para pedir um posicionamento sobre o gramado do Castelão, mas não obteve retorno.
Castelão vai receber 16 jogos em dois meses por seis competições; veja lista
Com pouco mais de um mês de uso e 11 jogos recebidos, o novo gramado do Castelão tem sido criticado por jogadores. E a situação pode ficar ainda mais complicada com a quantidade de partidas já confirmadas para o Gigante da Boa Vista nos próximos dois meses.
Com o início da fase de grupos da Copa Sul-Americana e do Campeonato Brasileiro neste mês de abril, 16 jogos estão programados para o Castelão nos 63 dias correntes a partir de amanhã, quando haverá o segundo jogo da final do Campeonato Cearense no local.
Serão cinco partidas pela Série A do Brasileiro, seis pela Série B, duas pela Copa Sul-Americana, uma pela Copa do Brasil, uma pela Copa do Nordeste e a final do Estadual.
A conta pode aumentar em um jogo, caso o Fortaleza avance para as oitavas de final da Copa do Brasil. Isso porque as datas-base estão contidas dentro dos 63 dias mencionados anteriormente.
Os momentos mais críticos ocorrerão entre 10 e 13 de maio, com três jogos realizados em quatro dias, e entre 21 e 3 de junho, com quatro ou cinco (se o Tricolor tiver avançado na Copa do Brasil) partidas em oito dias.
Com Thiago Minhoca, da Rádio O POVO CBN