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Bia Haddad mantém pés no chão após destaque em Roland Garros: "Uma jogadora normal'"
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Bia Haddad mantém pés no chão após destaque em Roland Garros: "Uma jogadora normal'"

Semifinalista do torneio de Paris, tenista brasileira exalta Guga e Maria Esther Bueno, condena casos de violência envolvendo tenistas e diz: "Carregar a bandeira feminina é um privilégio"
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Tenista brasileira Bia Haddad no jogo de semifinal de Roland Garros (Foto: Thomas SAMSON / AFP)
Foto: Thomas SAMSON / AFP Tenista brasileira Bia Haddad no jogo de semifinal de Roland Garros

Até quem não nunca viu um jogo de tênis na vida ouviu falar de Beatriz Haddad Maia nos últimos dias. A tenista paulista tomou conta do noticiário esportivo por causa da campanha brilhante em Roland Garros. E fez o brasileiro lembrar dos tempos de Gustavo Kuerten, quando muitos acordavam cedo no domingo para ver o catarinense em alguma final do circuito.

O tricampeonato de Guga em Roland Garros foi recordado em meio às vitórias de Bia nas últimas duas semanas. E as comparações foram inevitáveis, até mesmo com a trajetória de Maria Esther Bueno, a última brasileira a brilhar nas chaves de simples do circuito (nas décadas de 50 e 60), antes da ascensão de Bia.

Ao Estadão, a tenista de 27 anos se esquivou das comparações e fez questão de estabelecer uma distância da dupla. "Não existe comparações com eles. São fenômenos, estão entre os melhores da história na modalidade. Eu sou apenas uma jogadora normal, que estou me esforçando diariamente para conquistar o meu espacinho", disse Bia.

Na quinta-feira, 4, Guga acompanhou das arquibancadas da Philippe-Chatrier, a quadra central de Roland Garros, a partida de Bia contra a polonesa Iga Swiatek, pela semifinal. "Infelizmente não nos cruzamos lá. Mas o meu treinador mantém contato com ele, com ele e com o Fernando Meligeni. São pessoas muito especiais."

A ligação entre Guga e Bia vem desde a adolescência da paulista. Na época do juvenil, ela foi treinada por Larri Passos, o lendário técnico do catarinense nas conquistas de Roland Garros e na busca pelo topo do ranking.

Quanto a Maria Esther, uma das maiores lendas do esporte brasileiro, Bia disse sentir orgulho por seguir seu caminho por representar bem as mulheres no esporte. "Para mim, levantar e carregar a bandeira feminina é um privilégio. Temos um longo caminho de desenvolvimento ainda pela frente, como sociedade. Mas é uma causa que mexe muito comigo", afirma Bia, que busca na causa a inspiração em cada jogo.

"Representar as mulheres de maneira positiva me enche de energia para seguir lutando, principalmente nos momentos duros de um jogo, em uma semana que não foi tão boa... Sempre lembro que eu posso estar tentando ser uma pessoa melhor e representar as mulheres de uma forma melhor, mesmo quando as coisas não estão saindo de um jeito que eu gosto. Elas me inspiram e me dão forças também."

A busca das tenistas por igualdade em premiações e espaço nas principais quadras do circuito vem contrastando com denúncias de violência doméstica dentro do próprio esporte. Nos últimos meses, tenistas como o alemão Alexander Zverev, o australiano Nick Kyrgios e o brasileiro Thiago Wild foram acusados de violência contra mulheres.

O caso de Wild entrou em discussão durante Roland Garros, em razão dos seus bons resultados. "Violência é inaceitável para mim em qualquer esfera. Onde há violência é sinal de que falhamos enquanto seres pensantes", comenta Bia, sem citar especificamente o caso do compatriota. "Confio no direito de que todos possam se explicar e, na justiça para exercer o seu papel, uma vez julgados os casos."

Pintura vira hobby de Bia

Mas não só as mulheres que inspiram Bia nas quadras. Nos últimos meses, um novo hobby tem ajudado a tenista na busca pela concentração. "Eu comecei a 'brincar' de pintar há mais ou menos dois anos. É algo pelo qual me apaixonei. Espero, quando tiver mais tempo, mais para a frente, poder estudar sobre o assunto para eu poder me desenvolver e melhorar", contou a atleta ao Estadão.

As pinturas podem ser vistas em suas redes sociais. Uma das últimas exibe a quadra de saibro de Roland Garros debaixo de um céu estrelado, quase uma profecia da grande campanha de Bia na terra batida de Paris.

"É uma atividade que eu poderia chamar até de uma forma de meditação porque exige muita conexão interior. E acho que isso está me ajudando muito no meu desenvolvimento pessoal. E, consequentemente, me ajudando como jogadora", disse a brasileira.

Em Roland Garros, Bia encerrou um jejum de 55 anos do tênis brasileiro, que não tinha uma representante em uma semifinal de simples em Grand Slam desde 1968. Na época, Maria Esther ficou entre as quatro melhores do US Open. De quebra, assegurou a entrada no top-10 do ranking pela primeira vez.

O feito também é histórico porque ela será a primeira brasileira entre as dez melhores do mundo na lista de simples da WTA a partir de segunda-feira — o ranking oficial ainda não havia sido criado na época de Maria Esther, considerada a número 1 do mundo entre 1959 e 1960 pelas revistas especializadas.

Tenista brasileira Bia Haddad em jogo das quartas de final de Roland Garros
Tenista brasileira Bia Haddad em jogo das quartas de final de Roland Garros

Bia Haddad alcança novo recorde pelo Brasil e é confirmada no top-10 do ranking

O ranking atualizado pela Associação do Tênis Feminino (WTA, na sigla em inglês), ontem, oficializou a entrada de Beatriz Haddad Maia na restrita lista das 10 melhores tenistas do mundo. No 10º lugar, Bia faz história para o tênis nacional por ser a primeira mulher do País a figurar no top-10 de simples.

Ela subiu quatro colocações na lista para atingir o 10º posto, obtido em razão da grande campanha em Roland Garros, nas últimas duas semanas, em Paris. Bia começou o torneio no 14º lugar, mas somou 490 pontos ao alcançar a histórica semifinal no Grand Slam francês. Até então, seu melhor ranking era a 12ª posição.

"O ranking, para a gente, é consequência de um processo bem feito. Deixo essa questão de ponto e ranking como algo natural e consequência de um trabalho", comentou Bia, após ter confirmada a entrada no top-10.

Na prática, a posição nobre no ranking fará com que Bia entre como principal candidata ao título em torneios pequenos e medianos e como uma das favoritas ao troféu nas competições maiores, caso dos Grand Slams. Em 10º lugar, ela será cabeça de chave em qualquer torneio, o que evita confrontos com outras tenistas da elite nas primeiras rodadas.

O status de top-10 pode render até benefícios financeiros à Bia, que pode receber premiações específicas de patrocinadores, além de atrair novos apoiadores. Mais visada, ela poderá até receber convites para algumas competições, inclusive com pagamento de cachê, algo recorrente nos torneios menores do circuito.

Bia será a primeira tenista brasileira no top-10 porque o ranking oficial foi criado somente em 1975, quando Maria Esther Bueno estava perto da aposentadoria. A lenda do esporte nacional brilhou nas décadas de 50 e 60. Entre 1959 e 1960, era considerada a número 1 do mundo pelos principais jornais do mundo e pelas publicações especializadas.

O Brasil já contou com tenistas no top-10 do ranking masculino: Gustavo Kuerten, em simples, e Marcelo Melo e Bruno Soares, nas duplas. No feminino, Luisa Stefani foi número nove do mundo nas duplas, em novembro de 2021.

Temporada de grama

Depois de se destacar no saibro, Bia foca na curta temporada de grama, que já começou ontem. Ela vai estrear hoje no Torneio de Nottingham, na Inglaterra. Ela é a atual campeã tanto em simples quanto em duplas da competição de nível WTA 250. Desta vez, a brasileira jogará somente na chave de simples e sua estreia será contra a ucraniana Lesia Tsurenko.

"Consegui recarregar as energias nesses últimos dias, especialmente com todo o carinho da minha família. Já estou aqui na Inglaterra e já começa tudo de novo, estamos com a cabeça focada no próximo desafio. Decidimos jogar Nottingham para aproveitar a estrutura do torneio, treinar e se adaptar para a temporada de grama que vem pela frente. Estamos motivados e sabemos que esse é só o começo da subida, então temos que trabalhar duro e continuar com a mesma rotina e o mesmo foco", disse a tenista.

Bia projetou manter a evolução no circuito, agora visando Wimbledon, o terceiro Grand Slam da temporada, em julho. "O nosso próximo objetivo, agora que batemos o de entrar no top-10, é o mesmo de sempre: continuar com a evolução e buscar melhorar os detalhes que não deram certo na semana anterior. Sempre com muita humildade e trabalhando duro para conquistar coisas ainda maiores", afirmou.

Depois de jogar em Nottingham, Bia seguirá na Inglaterra para competir em Birmingham a partir do dia 19. Lá também é a atual campeã. E, na semana seguinte, estará em Eastbourne, em outro torneio britânico de preparação para Wimbledon. "Me sinto pronta para começar esta sequência de torneios", disse a brasileira.

Confira o top-10 do ranking feminino:

1º - Iga Swiatek (POL), 8.940 pontos

2º - Aryna Sabalenka (BEL), 8.012

3º - Elena Rybakina (CAS), 5.090

4º - Caroline Garcia (FRA), 5.025

5º - Jessica Pegula (EUA), 4.905

6º - Ons Jabeur (TUN), 3.961

7º - Coco Gauff (EUA), 3.435

8º - Maria Sakkari (GRE), 3.272

9º - Petra Kvitova (RCH), 3.102

10º - Beatriz Haddad Maia (BRASIL), 2.910

Confira a lista dos 10 melhores do ranking masculino:

1º - Novak Djokovic (SER), 7.595 pontos

2º - Carlos Alcaraz (ESP), 7.175

3º - Daniil Medvedev (RUS), 6.100

4º - Casper Ruud (NOR), 4.960

5º - Stefanos Tsitsipas (GRE), 4.920

6º - Holger Rune (DIN), 4.375

7º - Andrey Rublev (RUS), 4.000

8º - Taylor Fritz (EUA), 3.515

9º - Jannik Sinner (ITA), 3.300

10º - Karen Khachanov (RUS), 3.125

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