Logo O POVO+
Lendário como jogador e treinador, Zagallo construiu história vitoriosa na seleção
Esportes

Lendário como jogador e treinador, Zagallo construiu história vitoriosa na seleção

Único tetracampeão da Copa do Mundo, o Velho Lobo construiu uma carreira emblemática no futebol e se dedicou, como poucos, à camisa amarelinha da seleção
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Zagallo conquistou quatro títulos mundiais pela Seleção Brasileira: 1958, 1962, 1970 e 1994 (Foto: ANTONIO SCORZA/AFP)
Foto: ANTONIO SCORZA/AFP Zagallo conquistou quatro títulos mundiais pela Seleção Brasileira: 1958, 1962, 1970 e 1994

Mário Jorge Lobo Zagallo, que morreu aos 92 anos na última sexta, 5, teve uma trajetória vitoriosa e emblemática defendendo a seleção brasileira. Tanto como jogador quanto como treinador, o eterno Velho Lobo conquistou títulos históricos e construiu números sólidos.

Em 290 jogos, somando passagens como atleta, técnico e coordenador, venceu quatro Copas do Mundo, sendo o único tetracampeão mundial da história do futebol.

Ainda como jogador, as ideias de Zagallo estavam à frente do tempo. Atacante, atuava pelos lados do campo e se destacava, sobretudo, pelo conhecimento tático.

Naquela época, na década de 50, o então ponta-esquerda recuava para marcar e ajudar a linha defensiva, algo incomum para os extremos e que possibilitou maior liberdade para craques como Pelé e Garrincha brilharem na Copa de 58, seu primeiro título mundial com a Amarelinha.

Ao todo, como jogador pela seleção brasileira, camisa esta que amou incondicionalmente durante a vida, disputou 37 partidas, entre 1958 a 1964, e obteve 30 vitórias, quatro empates e apenas três derrotas.

Além do título da Copa do Mundo de 1958 — onde marcou um gol na final na goleada por 5 a 2 sobre a Suécia —, Zagallo também conquistou a edição de 1962, novamente sendo peça fundamental no time.

Como treinador de futebol, teve a trajetória coroada na seleção brasileira com o título mundial de 1970, quando goleou a Itália por 4 a 1 na grande final. Aquela equipe, com Pelé, Rivelino, Gérson, Tostão e Jairzinho, ficou eternizada na história do futebol como uma das melhores de todos os tempos. Entre março de 1970 e 1973, inclusive, Zagallo se manteve invicto por 35 jogos comandando a Canarinho.

+ "Vocês vão ter que me engolir": as frases marcantes de Zagallo

“Ele está na primeira prateleira do futebol brasileiro por jogador e treinador também. O combo do Zagallo é gigantesco. A contribuição como jogador e treinador. Então, ele está no primeiro time. Não no time quando você olha apenas a beleza do jogo, que você pega Pelé, Garrincha. Não é por isso. É pelo geral, por tudo que ele trouxe para o futebol brasileiro, o que ele conseguiu construir dentro e fora de campo, trazendo uma forma de jogar diferente”, avalia Paulo Calçade, jornalista e comentarista dos canais Espn.

Zagallo esteve à frente da seleção como treinador em 157 jogos, com 113 vitórias, 33 empates e 11 derrotas. O Velho Lobo também desempenhou a função de coordenador técnico da seleção brasileira, cargo em que atuou por 96 partidas e acumulou 53 vitórias, 32 empates e 11 derrotas.

Foi como coordenador que Zagallo conquistou o seu lendário tetracampeonato mundial pelo Brasil, em 1994. O título aconteceu nos Estados Unidos, em campanha comandada em campo por Romário, Bebeto e companhia. Na ocasião, o time era treinado por Carlos Alberto Parreira e venceu a final contra a Itália, nos pênaltis, por 3 a 2.

“Em termos táticos, é aí que ele vai para a primeira prateleira. O futebol brasileiro, até hoje, é visto como um embate técnico apenas, da habilidade. Do drible o tempo todo, do um contra um. No Brasil, a gente se acostumou a falar muito do jogador, da jogada, e ignorar o jogo. E o Zagallo foi justamente um cara que teve um impacto enorme no jogo”, ressalta Calçade.

Além dos títulos mundiais, um outro momento marcante na carreira de Zagallo aconteceu na Copa América de 1997. Foi após a conquista deste torneio que o Velho Lobo disparou a frase que se eternizou: “vocês vão ter que me engolir”, em referência à pressão que sofria na época da mídia especializada para que ele deixasse o comando da seleção.

Quase penta mundial, não fosse por um inspirado Zidane…

Zagallo chegou muito perto de conquistar o penta mundial com o Brasil em 1998, mas esbarrou em um inspirado francês na final daquela edição: Zinédine Yazid Zidane. Já na convocação, o Velho Lobo surpreendeu ao barrar Romário. Na base titular da seleção, tinha um quarteto de peso, formado por Rivaldo, Leonardo, Bebeto e Ronaldo Fenômeno. Nas laterais, Cafu e Roberto Carlos, com Dunga de líder no meio-campo.

No mata-mata, superou o Chile, a Dinamarca e a Holanda. Parou na anfitriã França, que com um inspirado Zidane em campo, venceu o Brasil por 3 a 0, impedindo o quinto título mundial de Zagallo.

Zagallo viveu de perto o “Maracanazo”, mas não como jogador

Uma casualidade fez Zagallo estar em seis finais de Copas do Mundo ao lado da seleção brasileira. Não apenas nas cinco que o consagraram, como jogador (1958-Suécia e 1962-Chile), como técnico (1970-México e França-1998) ou como coordenador técnico (1994-Estados Unidos). Na primeira delas, nem era um atleta.

Em 1950, o jovem Mário Jorge Lobo Zagallo tinha 18 anos, era um soldado do 6º Pelotão do Rio de Janeiro. Integrava a Polícia do Exército e foi convocado para o Maracanã na fatídica tarde de 16 de julho. Justamente o trágico "Maracanazo". Zagallo não foi correr pela bola, de verde-amarelo. Estava de verde-oliva, farda e capacete.

O Maracanã foi construído especialmente para o Mundial no Brasil. E na data da finalíssima Zagallo atuou na segurança das arquibancadas. E aquele foi o maior público de uma final em toda a história das copas: 199.854 pessoas. A expectativa de o Brasil conseguir o seu primeiro título mundial, dentro de casa, era tão grandiosa quanto o cenário. O futebol encantava.

O Brasil até saiu na frente, para euforia local. Mas a felicidade se transformou em frustração quando Alfredo Ghiggia virou o jogo para o Uruguai. Daquele posto de sentinela de uma torcida entristecida, o rapaz franzino nem imaginaria que oito anos depois seria um dos campeões mundiais pelo Brasil.

Texto com participação de Lucas Mota e Cláudio Ribeiro.

O que você achou desse conteúdo?