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Exclusivo: Aylon abre o jogo sobre escolha pelo Ceará, "caso Barletta" e boa fase
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Exclusivo: Aylon abre o jogo sobre escolha pelo Ceará, "caso Barletta" e boa fase

Em entrevista exclusiva ao O POVO, o camisa 11 falou sobre a chegada ao clube, o processo de adaptação para ser '9', o trabalho de Vagner Mancini, a relação interna do elenco e muito mais
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Aylon vive bom momento com a camisa do Vovô (Foto: Yuri Allen/Especial para O Povo)
Foto: Yuri Allen/Especial para O Povo Aylon vive bom momento com a camisa do Vovô

Vice-artilheiro do Ceará, com três gols, o atacante Aylon está entre os destaques do Alvinegro de Porangabuçu em 2024. Contratado para ser ponta-direita, o gaúcho de 31 anos precisou mudar de função para suprir uma lacuna no time. Em entrevista exclusiva ao O POVO, o camisa 11 falou sobre a chegada ao clube, o processo de adaptação para ser centroavante, o trabalho de Vagner Mancini, a relação interna do elenco e muito mais.

O POVO - Como foram os bastidores para sua chegada ao Ceará?

Aylon - Terminei o ano no Novorizontino-SP, quase subíamos e, no momento em que estava terminando o campeonato, tiveram procura de outros clubes da Série B. Conversando com o meu empresário, disse ter uma situação com o Ceará, que estava conversando com o Lucas (Drubscky, executivo de futebol do Ceará). E eu falei para esperar a resposta do Ceará, mesmo com várias propostas na mesa.

Quando o Ceará deu o aval, disse: "Vamos fechar". Foi uma prioridade que dei para o meu empresário na época. Das propostas que teve dos times, foi uma escolha nossa e, graças a Deus, tem dado certo.

OP - Como foi a conversa com o Mancini para você atuar como centroavante e como está sendo o processo de adaptação à função?

Aylon - Vamos nos adaptando. Cheguei aqui realmente para ser ponta, mas durante os treinos de pré-temporada só tinha o Saulo (Mineiro), o Barceló ainda não tinha chegado, e eu fazia (a função de) centroavante. Na semana, véspera do primeiro jogo, o Saulo teve um problema, acho que conjuntivite, e ficou fora dos treinos por uns dois ou três dias. Só tinha eu de centroavante. Fiquei no time titular treinando.

Acho que virou uma dúvida pré-jogo do Mancini. Ele me chamou e disse que iria optar pelo Saulo por estar mais acostumado com a função e eu entendi. Naquele jogo, acabei entrando e fazendo gol. Foi natural, depois ele me manteve nessa posição e sempre fui claro com ele em dizer que tenho um pouco mais de dificuldade para jogar de costas, fazer o pivô, e que se fosse jogar ali seria uma cara de maior movimentação, e ele me deixou bem à vontade.

Mexeu comigo essa semana, falando que "já imaginou depois de velho virar centroavante?" e eu disse: "É, depois dos 30 anos ter que mudar de posição"… E ele disse que na carreira dele foi parecido também, que jogava de meia e virou centroavante. Comentei que tenho essas dificuldades e ele disse que vai acostumando com o tempo. Hoje tem eu, Saulo e Barceló e acho que estamos bem servidos.

 

OP - Como é o dia a dia de trabalho do Ceará e como é o diálogo do Mancini com o elenco?

Aylon - Por ser um grupo recém-montado, a conversa é muito importante. E o Mancini é um cara bem aberto, até gosta de provocar, conversar, de questionar… Vemos em conjunto a melhor forma, foi assim para o jogo contra o Fortaleza, pediu a nossa opinião para o que poderíamos fazer de melhor. Também é assim individualmente, chama os jogadores para conversar, para ver o que está acontecendo em campo. Nos pós-jogos conversamos bastante, ele pergunta o que achamos, quais dificuldades sentimentos no jogo.

É importante ter esse entendimento no início de trabalho. Não adianta eu pensar alguma coisa e não concordar com o que estou fazendo. É importante dar a minha opinião, falar o que acho, e ele dá essa abertura para todo mundo. Ele gosta, é um método de trabalho que esperamos que dê certo esse ano.

OP - O que você destaca do trabalho do Mancini?

Aylon - Vai muito ao encontro com o que penso de futebol. É um cara que gosta de propor jogo, dessa transição rápida, de ser agudo. O segundo gol que fiz contra o Atlético-CE, ele disse ser o que ele pensa do jogo. Foram entre dois ou três passes rápidos e estávamos na cara do gol. Para o atacante, claro, quanto mais bola chegar na frente é melhor.

Acho que pensamos parecidos sobre futebol, não tinha trabalhado com ele ainda, mas são questões que vamos nos adaptando. A marcação, eu prefiro marcar alto e ele também, mas para o Clássico-Rei, por entender o momento deles e o nosso, optamos por marcar baixo.

Vamos conversando, nos adaptando e temos um grupo com bastantes opções e jogadores que fazem várias funções. Dá para ele mexer bem nessas peças para se adaptar ao melhor estilo de jogo.

OP - Como é a relação interna do elenco do Ceará?

Aylon - Temos um ambiente muito bom, o pessoal que chegou soube entender o processo que o clube está passando e o clima que tem aqui no Ceará. Soubemos nos adaptar, conversar com o pessoal que ficou do ano passado. Esse tipo de vaidade não tem hoje. O clima é bom. Teve a questão de adaptação do Barceló, Castro, Recalde, Mugni, agora chegou um português (Rafael Ramos), tem dois ganeses jogando conosco… Essa adaptação é super importante.

As contratações foram super felizes, são jogadores que foram líderes nos seus times e hoje estão aqui. Acolhemos bem todo mundo, sabemos a importância disso para o clube, para o ambiente de treinos. Todo mundo se dá bem, tem a disputa interna por posição, mas é super saudável. Esse é o caminho. As vitórias ajudam, ainda não perdemos no ano, isso favorece e esperamos continuar com as vitórias para o clima sempre ser bom.

OP - Como o elenco reagiu ao "caso Barletta" e como o presidente João Paulo Silva lidou com a situação internamente?

Aylon - Ninguém gosta de passar por isso. Fomos pegos de surpresas também, o pessoal que chegou agora… Acho que o presidente agiu rápido. No dia que saiu a notícia, o presidente veio aqui e pediu uma reunião conosco, conversou, esclareceu as coisas. Ele deixou a gente seguro, mas pedimos transparência, sinceridade, conversar. É o melhor jeito de resolver. Se tiver uma dificuldade para o lado do clube, vamos entender também. A conversa é importante.

O pessoal que chegou ficou inseguro, mas, rapidamente, o presidente falou os meios que ele estava utilizando para pagar a gente e resolver os problemas financeiros do clube. Essa transparência é importante. Pegou o pessoal de surpresa, só os mais próximos deveriam saber, mas o clube agiu rápido para resolver a situação.

OP - Em relação à crise política do Ceará, como vocês buscam se blindar em relação a isso?

Aylon - O Mancini conversa bastante conosco. É um cara que se preocupa muito com questões de diretoria e torcida. Teve treino aberto, se preocupou com o torcedor, mas, ao mesmo tempo, se preocupou com os jogadores para não estar expondo ninguém. Acho que esse é o caminho.

A política, não conseguimos nos envolver. É uma questão fora do clube. Temos que estar sempre concentrado para fazer nosso trabalho em campo. Quanto mais o Mancini ou a diretoria conseguir blindar a gente desses problemas externos, melhor. Sabemos que terão os problemas durante o ano e precisamos estar forte como grupo para não deixar entrar problema algum.

OP - Como está sendo a relação do torcedor com você?

Aylon - Foi surpreendente para mim. Claro que fico feliz por ajudar, por estar dando alegria ao torcedor. A minha contratação não foi tão badalada, mas tem dado certo. Prometi pouco e estou entregando bastante. Espero que continue assim.

É importante resgatar esse espírito no torcedor. Sabemos o que aconteceu ano passado, mas o pessoal que chegou não tem culpa. Ficamos felizes com o apoio deles, nos treinos abertos, nos jogos, no Clássico-Rei, e deu para ver o tamanho da torcida do Ceará e da nossa responsabilidade também. Teremos jogos importantes da Copa do Nordeste e a responsabilidade cada vez aumenta.

OP - Qual a sensação de disputar o Clássico-Rei pela primeira vez e marcar gol?

Aylon - É incrível. Eu estava tranquilo para o jogo até o momento do Hino Nacional. Aqueci, dormi bem e, no momento do hino, quando começou a descer o bandeirão, as duas torcidas cantando ao mesmo tempo… Aí tu vê o tamanho do clássico, o peso das torcidas. Foi aí que pensei: "Vou ter que me ligar porque o negócio é maior do que pensava".

A responsabilidade é grande, sabíamos que ia ser um clássico pegado, os remanescentes tinham passado algumas dicas, falaram que o início de jogo é mais de dividido, mas soubemos suportar bem. Tivemos uma estratégia para o clássico e fomos bem até o momento da expulsão (do Matheus Felipe).

Fico feliz por ajudar, o gol repercute bastante… Acabei ganhando bastantes seguidores depois do gol. O pessoal assiste, acompanha e são jogos assim que mudam o nível do atleta. Teremos grandes jogos esse ano, mais clássicos, e esperamos estar pronto para ajudar.

OP - O que aconteceu entre você e o Brítez no Clássico-Rei?

Aylon - O Brítez, desde o início do jogo, estava pilhado. É clássico, é diferente. Na primeira bola, deu uma dividida. Na segunda, eu fui um pouco mais forte e ele veio discutir comigo. No momento da confusão, lembro que ele havia sido expulso e começou a xingar o juiz. Falei para ele sair, vazar e veio na minha direção… Eu tinha amarelo, acho que quis provocar a minha expulsão, e tive que ter o sangue frio para não revidar.

No momento, ele me puxou pela camisa, creio que ele queria que eu soltasse o braço nele para cair e, de repente, me expulsar também. Falei para ele: "Pode fazer o que quiser, não vou cair na tua provocação, não", e começou a discussão. Ele tentou me empurrar, acabou que a mão bateu no meu rosto, o bandeirinha estava do lado e eu falei: "Olha, não estou fazendo nada".

É coisa de jogo, de clássico. O Matheus e o Brítez acabaram sendo expulsos porque seguraram a camisa um do outro mais forte e o juiz achou que a expulsão era o melhor para controlar a situação, mas faz parte.

OP - Qual o discurso internamente sobre priorizar Campeonato Cearense ou Copa do Nordeste?

Aylon - Dá para brigar pelos dois. Nesse primeiro semestre são os dois campeonatos que estamos disputando. Acho que, por ter classificado em primeiro, tirando duas datas do Cearense, ajuda bastante a forcamos na Copa do Nordeste. Incomoda um pouco mais o fato do Fortaleza ter a oportunidade de conquistar o hexacampeonato, acho que vamos forte no Cearense.

Claro que queremos chegar forte na Copa do Nordeste, tem a fase de grupos e depois o mata-mata, é após acabar o Cearense. Precisamos focar bem no Cearense para conquistar o título, para ganharmos moral para os mata-mata da Copa do Nordeste. Como o professor escolher, a melhor estratégia, ele tem revezado as equipes, mas acho que dá. Temos tempo suficiente para treinar e descansar para priorizar os dois.

OP - De que forma a experiência obtida por você na Série B pode ajudar ao Ceará para o retorno à Série A em 2025?

Aylon - A Série B é um campeonato diferente. Estou acostumado a disputar e sabemos que tem algumas características que precisamos nos adaptar. O jogo contra o Fortaleza foi uma prova para nós para nos adaptarmos aos jogos da Série B. Vínhamos propondo mais o jogo e nesse jogo precisamos mudar um pouco. Na Série B vão ter jogos assim, em campos mais difíceis, e não conseguiremos propor, precisaremos jogar por uma bola, pela bola parada.

Acho que a questão do clima, do ambiente, do elenco estar saudável, é muito importante para ter sucesso na Série B. É um campeonato desgastante e muito disputado. Precisamos entrar nesse espírito desde o início, aproveitar o começo da competição para embalar, não podemos demorar para entrar na disputa.

Temos que entrar sabendo que é um campeonato dividido, com muita disputa pela primeira e segunda bola. Precisamos aprender rápido essas características, vamos pegando com o tempo. Estamos nos conhecendo muito nos jogos.

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