Há quatro anos, um argentino chegou ao Pici para revolucionar a história do Fortaleza Esporte Clube. No dia 4 de maio de 2021, Juan Pablo Vojvoda, técnico totalmente fora do radar do futebol brasileiro, assumia o clube em um momento conturbado, marcado por um quase rebaixamento no ano anterior e um mau início naquela temporada. Mais do que melhorar a equipe em campo, o comandante quebrou paradigmas e elevou o patamar do Leão no Continente.
A humildade no trato com o próximo e a simplicidade no dia a dia cativaram os funcionários do Tricolor do Pici, enquanto os ótimos resultados em campo, aliados a ideias ousadas e modificações que quebravam qualquer pragmatismo, conquistaram os torcedores na arquibancada. O argentino mais cearense que já passou por terras alencarinas conquistou títulos, quebrou tabus e ajudou o Leão do Pici a viver momentos inéditos.
O Fortaleza, em nenhum ano sequer sob o comando de Vojvoda, deixou de levantar uma taça. Foram três títulos do Cearense (2021, 2022 e 2023), sendo o mais recente o tão cobiçado pentacampeonato, e dois da Copa do Nordeste (2022 e 2024). Neste ano, apesar do vice no Estadual, o técnico ainda está vivo em outras competições, como a Copa do Brasil, a Libertadores e o Nordestão.
Campanhas históricas também foram muitas, e de enorme relevância. Em 2021, logo em seu ano de estreia, surpreendeu com um desempenho avassalador no Brasileirão. Mesmo com menor investimento e um plantel sem grandes estrelas, terminou na quarta colocação, garantindo vaga na fase de grupos da Copa Libertadores — feito nunca antes obtido por um time do futebol cearense.
Em 2022, o Leão avançou às oitavas de final da Liberta e protagonizou uma reação surreal na Série A, saindo da lanterna da tabela — posto que ocupou por grande parte do campeonato — e alcançando a oitava posição, garantindo novamente vaga no maior torneio do continente. Em 2023, as façanhas não cessaram: a equipe cearense chegou à final da Sul-Americana e perdeu o título por detalhe, na disputa por pênaltis.
Na temporada passada, o Tricolor brigou, por diversas rodadas, pelo título do Brasileirão, tendo chegado a liderar a tabela durante uma rodada do returno. Terminou em quarto lugar, com o melhor desempenho da história do futebol nordestino na elite nacional na era dos pontos corridos. A imagem de Vojvoda, por tudo que construiu no Pici, se valorizou. Clubes como Flamengo, Santos, São Paulo, Corinthians, Atlético-MG, Vasco e Internacional, além da seleção chilena, cobiçaram o argentino em algum momento de 2022 para cá.
Ele rechaçou todas as propostas. Sempre priorizou seu vínculo contratual com o Fortaleza, e houve reciprocidade do clube nos momentos difíceis — como a lanterna em 2022. O rótulo de acomodado não se aplica. No Leão, os desafios são enormes, tal qual a pressão. Uma relação rara no futebol moderno, em que os dois lados se respeitam e, sobretudo, acreditam no projeto. Em tempo de permanência no cargo, no Brasil, Vojvoda só fica atrás do português Abel Ferreira, do Palmeiras.
Em 2025, o Fortaleza está mal, é verdade. Poucas vitórias e atuações decepcionantes. Um novo momento em que Vojvoda precisa se reinventar, assim como em ocasiões anteriores. Por tudo que representa e já representou, o argentino faz por merecer a confiança.