O torcedor do Ceará já se acostumou a viver emoções distintas entre os dois tempos das partidas. Seja na Arena Castelão ou longe de casa, o roteiro tem se repetido com frequência preocupante: um tempo promissor, de domínio e intensidade, seguido por outra etapa de queda técnica, recuo e, não raramente, frustração no placar.
O episódio mais recente dessa narrativa ocorreu na rodada passada da Série A do Campeonato Brasileiro, quando o Alvinegro de Porangabuçu enfrentou o Atlético-MG. No primeiro tempo, o Ceará impôs ritmo, pressionou, criou as principais oportunidades e foi superior ao adversário.
Contudo, após o intervalo, o cenário se inverteu. O Galo cresceu, equilibrou o jogo e soube aproveitar os espaços deixados pela equipe cearense, saindo de campo com a vitória por 1 a 0.
Essa gangorra de desempenho dentro do mesmo jogo não é isolada. Trata-se de uma tendência que tem marcado a campanha do Ceará em 2025 — e que ajuda a explicar a atual décima colocação da equipe na tabela.
Embora esteja no meio da classificação, com lampejos de um time que poderia brigar na parte de cima, a irregularidade se tornou o principal obstáculo na elite do futebol nacional.
Os motivos por trás da instabilidade são múltiplos, e o diagnóstico começa pelo próprio elenco. Esse dado pode estar expondo as limitações de profundidade do grupo montado para o principal torneio no ano.
Tal limitação leva a um desgaste físico visível. A intensidade com que o time começa as partidas, especialmente sob orientação do técnico Léo Condé, nem sempre é sustentável ao longo dos 90 minutos. O fôlego encurta, o ritmo cai e os adversários passam a encontrar brechas.
"A gente modificou quase todo o elenco em relação à temporada passada, são cinco meses só. Vai haver alguma oscilação dentro do jogo. Então, quanto mais rodagem a gente conseguir ofertar a esse time novo que montamos, no meu entendimento, é melhor. Já teve jogo em que a gente modificou e não funcionou tão bem. É muito de momento”, analisou o comandante do Alvinegro de Porangabuçu.
Outro fator que surge no debate é o aspecto psicológico. O Vovô, muitas vezes, demonstra dificuldade em sustentar a postura agressiva quando o resultado não vem rápido.
O emocional oscila, e o time parece sentir o impacto de gols sofridos ou chances perdidas. Isso é potencializado por um segundo tempo no qual o adversário volta mais ajustado e o Ceará, sem respostas, recua ou se desorganiza.
Taticamente, a equipe também demonstra dificuldade em fazer ajustes durante a partida. Se no primeiro tempo a proposta inicial funciona, no segundo, a adaptação ao novo cenário tem sido falha. Faltam alternativas para segurar resultados ou retomar o controle de jogos em que o domínio se perde.
A décima colocação não é catastrófica, mas preocupa por mostrar um time com potencial que não se traduz em resultados. Se deseja realmente entrar na briga por objetivos maiores na Série A, o Ceará precisa encontrar equilíbrio — tanto físico quanto tático e mental.