O encantamento na infância por um grupo, o olhar especial para um nome talentoso, a reação do público, as apresentações épicas, a rápida identificação e o sentimento de pertencimento.
Os guitarristas Caike Falcão, 31, e Narciso Júnior, 36, tiveram exatamente esta sensação com a música e com o futebol ainda na juventude. Os dois compartilham a paixão pelo rock, mas estão em lados opostos no Clássico-Rei: o primeiro é tricolor, e o segundo, alvinegro.
O quarto duelo entre Fortaleza e Ceará em 2025, hoje, a partir das 20h30min, na Arena Castelão, pelo Campeonato Brasileiro, ocorre na mesma data do Dia do Rock — celebrada em homenagem ao megaevento Live Aid, realizado em 13 de julho de 1985. Por isso, Caike e Narciso foram ao palco da partida, a convite do Esportes O POVO, para falar sobre os dois amores.
O encontro ocorreu um dia depois das quartas de final da Copa do Nordeste, em que o Leão foi eliminado e o Vovô conseguiu se classificar. "Eu ia até desmarcar. Vou falar o quê? (risos)", brinca o tricolor, ao cumprimentar o alvinegro. Mas na caminhada até o campo, rapidamente o futebol deixa de ser tema e a música vira protagonista: trocas de elogios sobre as guitarras e conversa sobre instrumentos.
A extensão do tapete verde do Castelão impressiona a dupla, que relembra os tempos de peladeiro. Não que ali seja território estranho para os dois, que gostam de frequentar os jogos. "Meu pai é muito Ceará, meus irmãos, todo mundo é muito Ceará", diz Narciso, que puxa na memória que assistiu a um Ceará x Limoeiro do Norte no PV, pelo Campeonato Cearense. "Meu pai é Fortaleza, meu irmão mais velho é Fortaleza. E foi meu irmão mais velho que me levou pro estádio pela primeira vez", relata Caike, que viu in loco o acesso do Leão à Série A em 2002, contra o Paulista de Jundiaí.
Em paralelo, cultivavam a paixão e o conhecimento sobre o rock. O jovem tricolor, aos 12 anos, ouviu Legião Urbana e se encantou. "Foi a primeira banda que eu fiquei fã, alucinado, apaixonado. Foi a banda que eu fui estudar, fui ler sobre, saber o que pensava", conta Caike Falcão.
Já o adolescente alvinegro fez aula de violão e até ganhou um cavaquinho, mas a amizade com a "galera do rock" no colégio proporcionou uma imersão. "Eu tinha tudo pra não gostar de rock. Porque, na minha casa, minha mãe só escuta música da igreja, o meu pai gostava muito de samba, meus irmãos também gostam muito de samba e de forró", releva Narciso Júnior, que ouvia Legião Urbana e Cazuza nos primeiros passos no rock.
À medida que conheciam também bandas internacionais, o ícone de referência foi o mesmo: um guitarrista de cabelo esvoaçante, com chapéu na cabeça, óculos escuros e solos tão intermináveis quanto impressionantes. "Eu comecei a tocar guitarra por causa do Guns (N' Roses)", diz Narciso. "Guitarra, por causa do Slash também", emenda Caike. Os fãs da banda norte-americana relembram o álbum "Use Your Illusion", de 1991, e a apresentação icônica em Tóquio, no ano seguinte.
Hoje são eles dois que se aventuram nos palcos e movimentam o rock no cenário cearense, mas sem deixar de lado a outra paixão de infância. Quando não dá para ir ao estádio, acompanhar o jogo pelo celular é um compromisso, mesmo durante uma apresentação.
"Eu sempre começo assistindo, porque eu boto o aplicativo ali de segundo plano no celular e vai assistindo", revela o tricolor, que também recorre a grupos de WhatsApp. Mas ele admite que há exceção: "Às vezes é um jogo muito tenso, que não está legal e eu não quero saber porque está me atrapalhando, me desconcentrando", pondera.
Já o alvinegro, que estará tocando no horário do Clássico-Rei de hoje, é mais cauteloso, mas admite: dá uma espiada quando o evento é em um local que está exibindo uma partida do Ceará. "Eu não assisto ao jogo porque tira a minha concentração, mas eu deixo ali o placarzinho do Google, com uma abazinha por fora. Entre uma música e outra, eu vou ali, dou uma olhada".
Ao fim do papo, os guitarristas tiveram de responder qual banda de rock seria o seu clube do coração. Narciso Júnior escolheu o Guns N' Roses para simbolizar o Ceará. "Já teve momentos muito bons, momentos muito ruins e, ultimamente, está ali no meio termo", explica. Caike Falcão aponta os Beatles para representar o Fortaleza. "A maior banda do mundo e o maior time do mundo", resume.